A COPA DO MUNDO É NOSSA, COM BRASILEIRO NÃO HÁ QUEM POSSA!


Cafú quebrou protocolo ao subir na bancada e erguer a taça.

Crédito: www.gettyimages.ae/Antonio-Scorza/AFP

Há muitos anos não acompanho a Seleção Brasileira. Perdi totalmente o orgulho e o patriotismo que unia milhões de brasileiros, mas assistir a partida final da Copa de 2002, me fez vibrar novamente, com o toque maestral de Ronaldo na bola, e senti orgulho de cada um dos jogadores que entraram em campo.

O Brasil foi impecável, 7 jogos, 7 vitórias, única seleção do mundo a realizar tal feito desde que o formato passou a obrigar o finalista a disputar 7 confrontos, com 18 gols anotados e apenas 4 sofridos, e de quebra, Ronaldo foi o artilheiro, com 8 gols, sendo o maior até então, na história dos mundiais. Nem mesmo de prorrogação o Brasil precisou para passar por cima dos adversários e  as vítimas, foram: Turquia (duas vezes), China, Costa Rica, Bélgica, Inglaterra e Alemanha.

É com o maior prazer, que contarei a história deste triunfo tão singular!

A família Scolari

A seleção de 2002 é sem dúvida nenhuma um exemplo de superação. No comando técnico, ninguém conseguia controlar o ego e unir os atletas, Vanderlei Luxemburgo, Emerson Leão e Candinho tentaram dar jeito, todos sem sucesso. Vínhamos do vice pra França de Zidane em 98, e corriamos um sério risco de assistir o torneio pela TV.  Assim precisávamos de um cara que assumisse a responsa e nos colocasse de volta nos trilhos.

Credenciado pelos títulos conquistados pelo Grêmio e pelo Palmeiras, Felipão foi contratado, mas a estreia não foi a esperada. Como Scolari mesmo disse, a derrota para Honduras na Copa América, era digna de Guiness Book. Um 2×0 que afastou ainda mais o torcedor da seleção.

Com trabalho árduo, união e sem estrelismos, Felipão e seus comandados lutaram pela classificação. Foram três vitórias consecutivas, contra Paraguai, Argentina e Chile, até perder pra Bolívia, por 3×1 em La Paz. Assim o Brasil chegou a última rodada com a obrigação de vencer a fraca Venezuela. E não deu bobeira!

No Maranhão, com dois gols de Luizão e um de Rivaldo, o Brasil selou sua classificação. Ao todo foram 18 jogos, com nove vitórias, três empates e seis derrotas, ficando na terceira colocação, atrás do Equador e da líder Argentina.

Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou

Não éramos os favoritos e a desconfiança do torcedor era gigantesca. Logo na convocação a pressão e o clamor popular, encurralaram Felipão, que não se intimidou.

O treinador apostou em atletas de sua confiança, em que sabia que podia contar até a última gota de suor. Por isso deixou Romário de fora, levando o povo brasileiro e a imprensa, a duvidar e questionar seu trabalho. O baixinho teve um atrito com o treinador, quando alegou precisar de uma cirurgia no olho para não jogar, mas tudo não passou de  corpo mole.

A grande aposta da seleção era em Rivaldo e Ronaldo. O camisa 10 vivia excelente fase, enquanto o camisa 9, vinha de lesão. Além disso, Ronaldinho Gaúcho, que poderia assumir a responsabilidade, estava a muito tempo sem jogar por entraves contratuais com o Grêmio.

Time base: Marcos; Lúcio, Roque Júnior e Edmílson; Cafu, Gilberto Silva, Kléberson (Juninho),

Ronaldinho (Edílson / Denílson), Rivaldo e Roberto Carlos; Ronaldo (Luizão). Foto: Jovem Pan

Tínhamos um timaço, cada posição tinha reservas de luxo, como no gol, com Dida e Ceni. Felipão teria de superar mais uma desconfiança: o corte do lesionado Emerson.

Emerson sofreu uma luxação no ombro durante um rachão e acabou cortado, dando lugar a Ricardinho. Cafu herdou a faixa de capitão!

O caminho do penta

Pela primeira vez na história, a Copa do Mundo seria disputada num país asiático, se revezando entre a Coreia do Sul e Japão. Os horários das partidas, na madrugada ou de manhã, podiam ser o caminho do fracasso, mas a torcida mostrou do que era capaz, fechando com a seleção e apoiando mesmo a tantos milhares de quilômetros. Quantos churrascos não entraram na madrugada, na espera do apito inicial.

O ambiente não podia ser melhor, o que fazia a seleção crescer jogo após jogo. Na fase de grupos, vencemos a Turquia por 2×1, num jogo complicadíssimo. A seleção de Senol Gunes, abriu o placar com Hakan Sas. O gol esfriou a seleção, mas Ronaldo tratou de empatar na segunda etapa, e Rivaldo de virar, convertendo o pênalti sofrido por Luizão.

As partidas seguintes foram de placares elásticos. 4 x 0 na China e 5×2 Costa Rica. E o Brasil ainda assistiu de camarote a eliminação dos hermanos argentinos e dos carrascos franceses.

Nas Oitavas de Final, contra os belgas, uma partida de Santo de Marcos! O goleiro fez jus a alcunha recebida dos torcedores palestrinos e operou milagres, garantindo o placar imovél. Lá na frente, a dupla Ronaldo e Rivaldo, faziam o que sabiam de melhor: golaços! 2×0  e a que venha a Inglaterra!

Os Japoneses eram David Beckham futebol clube, e no Brasil, os torcedores tiveram que acordar às 2h para ver a seleção. Quem abriu o placar foram os ingleses com Owen, após bobeira de Lúcio.

O Brasil continuou pressionando e logo empatou com Rivaldo. a virada viria dos pés de Ronaldo…mas não o fenômeno, mas sim o cara da bola parada: Ronaldinho Gaúcho! Um gol da intermediária! Um Gol antológico!

Ronaldinho, marcou o gol da classificação. Foto: Reprodução

Mas nem tudo são flores. Ronaldinho vacilou e em falta feia em Mills, foi expulso aos 11 minutos da segunda etapa. O medo tomou conta e a defesa tão questionada, mostrou do que era capaz, garantindo a classificação canarinho!

Faltava mais um passo antes da final, e o adversário, seria novamente a Turquia…

O clima era de revanche. Os turcos estavam mordidos, queriam vencer os brasileiros e ainda carregavam aversão a Rivaldo, que na fase de grupos simulou a falta que causou a expulsão de Unsal.  

Edilson substituiu Ronaldinho, compondo dupla com Ronaldo. Os turcos dominaram a primeira etapa, mas não foram páreos para o chute forte, de bico do fenômeno! Nosso passaporte pra final estava carimbado e ainda assistimos uma das cenas mais incríveis do futebol: quatro marcadores correndo atrás do talentoso Denilson!

Denilson fez o inferno na defesa turca. Foto:Alaor Filho/Estadão Conteúdo)

A grande final: um time que se impôs diante da Alemanha

O grande dia chegou cercado de incertezas. O medo de que Ronaldo não atuasse, ou convulcionasse novamente, tomava conta de todos. Era a nossa vez, o dia de apagar os erros de 98 e colocar novamente o nome do Brasil, no topo do Mundo.

O palco foi o estádio de Yokohama , com mais de 69 mil espectadores e o Mundo todo parado diante das tvs ou abraçados ao rádio para acompanhar cada lance.

Em campo a Alemanha tinha o domínio.  Klose e Oliver Kahn, eleito o melhor jogador da competição, ditavam o ritmo dos adversários. Toda a Frieza alemã, não contava com fenomenal Ronaldo!

Ronaldo não decepcionou, marcou duas vezes.

Rivaldo chutou forte e Kanh não soltou a pelota nos pés de Ronaldo que não perdoou. 1×0 Brasil!

A torcida já preparava o grito, quando Ronaldo fechou a conta! Kléberson puxou um contra-ataque pela direita, passou para Rivaldo, que deixou a bola passar por debaixo de suas pernas e ir de encontro a Ronaldo, que chutou no cantinho, para delírio do povo brasileiro!

Ai foi só esperar e assistir Denilson mais uma vez fazer com a bola o que bem queria.. até que o árbitro italiano Pierluigi Colina apitou o final do jogo, o mundo ficou, pela quinta vez, verde e amarelo e Galvão Bueno levou toda uma nação a loucura: ACABOUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU É PENTA!

A final dos contestados

Na final dos contestados brasileiros, Cafu que havia sido reprovado em 11 peneiras, levantou a taça para delírio do povo brasileiro.

No Brasil, 1 milhão de pessoas esperava ansiosamente o desembarque da seleção e pelas ruas de Brasília, uma grande multidão seguiu o caminhão de bombeiros com nossos herois.

Vampeta protagonizou suas cambalhotas, os jogadores que durante todo o Mundial batucavam pelas concentrações, eram vistos como ídolos.

Marcos, ídolo no maior rival do meu amado Corinthians, ganhou toda a minha admiração e carinho, não só pela maestria com que vestiu a camisa e entrou em campo, mas por toda a humildade emanada.

Em todos os rádios, “deixa a vida me levar”, música de Zeca Pagodinho, adotada pelos atletas, ecoava no último volume.. Por todos os cantos do país, ecoava o grito de campeão e o amor a camisa e ao nosso pavilhão, era unanimidade.

por Mariana Alves


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