Existe uma velha máxima utilizada por todos os torcedores de todos os times de que “se não for sofrido, não é [insira o nome de seu time aqui]”.
Mas o que exatamente é o sofrimento de cada uma dessas partes?
Pra quem vive o futebol em sua máxima essência, é muito difícil separar os sentimentos e não levar isso para o dia a dia. Não sou capaz, e não seria nem justo, pensar que posso falar por toda uma nação, mas acredito que boa parte dos torcedores Paranistas conseguirão entender o meu sentimento.
Nós saímos de um ano em que o orgulho de ser Paraná Clube foi exaltado. Movimentamos em massa uma torcida desacreditada, lotamos os estádios, reacendemos a chama até em nossas crianças. Foi uma história linda, que reuniu famílias e nos fez criar memórias incríveis.
Objetivo alcançado, um alívio em meio ao caos.
Chegamos em 2025 com as esperanças renovadas, parecíamos viver um conto de fadas onde tudo começava a melhorar. Até que mordemos a maçã envenenada e nos colocamos em posição de aguardar um príncipe – ou talvez uns seis diferentes – chegarem para nos salvar.
A cada rodada, o sentimento de que o veneno se espalha ainda mais pelas nossas veias. O corpo tá fraco, sem forças pra correr, pra lutar, pra se levantar. A vontade parece não existir mais. O coração, que parecia se recuperar tão bem, agora apresenta sinais de falhas.
Sofrimento é a dor emocional ou física que surge diante de perdas, desafios ou frustrações.
E como dói.
Dói o gol perdido, o passe errado, a jogada errada e o chutão pra frente numa tentativa tosca de armar um ataque – quando, na verdade, apenas se livrou da bola. Dói a falta de identificação, a falta de reconhecimento, dói saber que jogaram no lixo um trabalho incrível e seus acertos. Dói a cabeça, a vista, o corpo e dói a alma.
Parece exagero, eu sei. E provavelmente poucas pessoas, que não os Paranistas, sejam capazes de entender do que estou falando. Já são anos de sofrimento, de dores, de angústias. E agora, além de tudo, vivemos em constante incerteza.
O nosso campeonato desde o início é outro, precisamos ser melhores que apenas quatro times para alcançar nosso principal objetivo dessa temporada. Mas, ao que tudo indica, fomos tomados por um amadorismo inexplicável.
Fomos incapazes de ascender em um torneio de nível baixo. Fomos incapazes de conquistar uma única vitória em seis rodadas disputadas mesmo estando com a casa cheia e a torcida exercendo o seu papel com excelência. Nos colocamos em posição de brigar, novamente, contra o rebaixamento.
O calendário nacional parece ficar cada vez mais distante de nós e eu volto a perguntar: o que é o sofrimento para cada um?
Será que o sofrimento é sentar em uma cadeira e tomar decisões estúpidas? Será que o sofrimento é exercer tão mal um cargo a ponto de, após o desastre causado, receber uma nova posição de confiança? Seria o sofrimento preparar tão mal seus atletas a ponto de perder as poucas boas peças para lesões?
Ou será que o sofrimento está tomando chuva dia após dia, em pé, nas arquibancadas geladas, enquanto assiste ao maior show de horror dos últimos anos? Não será o sofrimento os mais de 3 milhões de reais injetados em caixa e praticamente rasgados e queimados?
Se antes o cenário era de recuperação, agora já se faz necessário ligar os aparelhos e acender as velas. A situação se tornou crítica, a empolgação e a confiança se transformaram em preocupação e medo.
O que pedimos agora, para além de um milagre, é respeito e entrega. Por nossa camisa, por nossa história e por cada coração Tricolor que faz pulsar as arquibancadas.
Até porque o sofrimento… bem, esse parece ter feito morada.
Por Gabrielle Bizinelli
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.