Sem poder de reação e com erros cruciais – inclusive do experiente goleiro Cássio, Cruzeiro se complica de vez na Copa Sul-Americana
Na noite desta quinta-feira (24), a Raposa amargou mais uma derrota, desta vez por 2 a 1 diante do Palestino, em Coquimbo, no Chile.
Fora de casa, o time celeste mostra um padrão preocupante: defesa frágil, instabilidade emocional após sofrer gols e dificuldade para transformar volume de jogo em vantagem no placar. O resultado? Mais uma atuação frustrante.
Com três derrotas em três jogos, o Cruzeiro permanece na lanterna do Grupo E. Agora, para seguir com chances de classificação, precisa vencer os três compromissos restantes e ainda torcer por uma combinação improvável de resultados.

Análise da partida
1º tempo: posse sem propósito, castigo no final
O Cruzeiro começou o jogo controlando a posse de bola e rondando a área adversária, mas sem criatividade para furar o bloqueio defensivo do Palestino. Wallace e Gabigol tiveram boas chances, mas pararam no goleiro Pérez. Do outro lado, o Palestino foi letal: aos 40 minutos, após bate-rebate na área, Benítez chutou de fora, contou com desvio e abriu o placar.
Mesmo tendo mais presença no campo ofensivo, o Cruzeiro mostrou a velha dificuldade de transformar domínio em gols e foi punido por isso.
2º tempo: reação tardia e castigo cruel
O segundo tempo começou com susto: Marabel quase ampliou para o Palestino logo no início. Depois disso, o jogo ficou morno. O Cruzeiro teve a bola, mas não sabia o que fazer com ela. Aos 30’, Gabigol teve boa chance em chute cruzado, mas Pérez defendeu bem.
Aos 37 minutos, finalmente veio o alívio: Wanderson cruzou com precisão, e Eduardo empatou de cabeça. Só que a comemoração durou pouco. Minutos depois, Cássio saiu muito mal do gol e quase entregou um presente ao adversário. No escanteio seguinte, Arias desviou, e Kaio Jorge tentou cortar, mas acabou marcando contra: 2 a 1 para o Palestino e mais uma decepção para o torcedor cruzeirense.

Análise: Cruzeiro perde mais do que o jogo, perde padrão e confiança
A derrota por 2 a 1 para o Palestino, pela Sul-Americana, não foi apenas um tropeço no placar. Foi mais um capítulo de uma equipe que, neste momento da temporada, parece ainda sem identidade clara em campo.
O Cabuloso mostrou novamente um jogo previsível, emocionalmente instável e defensivamente vulnerável.
1. Organização defensiva falha e desconectada
O que mais chama atenção é como a defesa, que foi ponto forte em temporadas recentes, está desorganizada. A linha defensiva marca mal, perde a compactação com facilidade e sofre com bolas simples. Os dois gols do Palestino nasceram de situações que poderiam ser evitadas com posicionamento mais atento.
O segundo gol, então, expõe o nível de desorganização: erro individual do goleiro, falha de cobertura no escanteio e desvio contra do próprio time. Sintomático.
2. Posse de bola estéril e pouca agressividade
O Cruzeiro teve mais posse de bola e mais finalizações, mas isso pouco importou. A equipe roda a bola, mas falta profundidade, movimentação coordenada e presença de área. Quando chega, não tem capricho.
O time parece inseguro na hora da decisão, como se o gol fosse uma ideia distante, não uma consequência natural da construção.
Gabigol foi participativo, Eduardo marcou, mas o volume ofensivo só cresce quando o time está em desvantagem. E isso é perigoso: reações tardias não vencem campeonatos.
3. O emocional que pesa e derruba
Um problema estrutural do Cruzeiro nos últimos jogos é a incapacidade de reagir emocionalmente aos gols sofridos.
A equipe sente demais quando sai atrás no placar, perde o foco, e demora a se recompor taticamente. Esse descontrole psicológico torna a missão ainda mais difícil, especialmente em jogos fora de casa e em torneios de mata-mata.
4. Erros individuais em momentos decisivos
Jogadores experientes, como Cássio, têm cometido falhas em momentos cruciais. Isso mina a confiança do grupo e passa insegurança para a torcida. A expectativa sobre ele era de liderança, mas, até aqui, o saldo é negativo.
O que precisa mudar?
– Reconstruir a solidez defensiva, começando pelo básico: posicionamento, cobertura e concentração.
– Melhorar a tomada de decisão no terço final, com mais velocidade e objetividade.
– Trabalhar o aspecto emocional, para que o time saiba sofrer e reagir com maturidade.
– Aproveitar melhor jogadores como Eduardo e Gabigol, que têm conseguido criar e decidir, mesmo em cenários adversos.
O Cruzeiro não é um time ruim, mas está longe de ser um time competitivo. O desafio agora é reagir rápido, ajustar o que precisa e reencontrar um mínimo de confiança. O tempo está passando, e a Sul-Americana está escapando.
O Cruzeiro precisa mais do que correções táticas, precisa reencontrar sua identidade competitiva. A Sul-Americana ainda permite uma reação matemática, mas, em campo, a equipe precisa mostrar muito mais.
A torcida já percebeu: não basta tocar a bola, é preciso saber o que fazer com ela e ter raça até o apito final.
Próximos compromissos
Brasileirão: Cruzeiro x Vasco
Domingo (27), às 18h30, no Mineirão
Sul-Americana – 4ª rodada: Mushuc Runa x Cruzeiro – Quarta-feira (7 de maio)
Por Mury Kathellen
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.*