Com pênalti duvidoso para o Mirassol, o Verdão perde a sequência de vitórias em casa
A manhã de domingo começou com um empate amargo no Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul. Às 11h, a bola rolou entre Juventude e Mirassol em um jogo equilibrado que acabou com o placar de 2 a 2, quebrando os 100% de aproveitamento que o Verdão tinha em casa. O resultado, em si, não é ruim, mas se levarmos em consideração que o segundo gol do time paulista veio de um pênalti inexistente, esse empate começa a ter um gostinho de derrota. Quando me disseram para tomar cuidado com os times do eixo, eu imaginei que o Mirassol estava do nosso lado da balança – e eu estava enganada.

O jogo começou pendendo mais para o lado dos visitantes. O meio campo do Juventude não parecia funcionar e a defesa se portava como uma peneira, deixando que qualquer ataque conhecesse a pequena área, pelo menos. Inaceitável. Negueba foi o nome do jogo pelo lado paulista, trazendo muito perigo à zaga do Juzão, também com chutes de fora da área. O atacante mirassolense, inclusive, entregou uma das chances mais claras aos 12 minutos, quando mandou uma bomba de pé direito que acabou desviando em Giraldo e tirando tinta do travessão. A impaciência crescia à medida que aos 20 minutos o Mirassol já tinha quatro finalizações no alvo e os donos da casa nenhuma.
Aos 23’, porém, um erro do lateral esquerdo Reinaldo afastou a bola direto nos pés de Jadson. O capitão jaconero entregou um passe perfeito para que Ênio dominasse e limpasse a jogada antes finalizar com a esquerda bem no cantinho direito da meta adversária. O goleiro Muralha não pegava essa bola nem que ele tivesse 15cm a mais de estatura ou envergadura. Finalização perfeita para desafogar um time que jogava à beira do desespero.
É inegável que o Mirassol foi quem mais trouxe sufoco ao gramado do Jaconi até agora, porém a abertura do placar deixou os donos da casa por cima novamente. Logo depois do gol, Gabriel Taliari comandou mais um ataque venenoso que acabou por cima das traves de Muralha – que, honestamente, não fez muito jus ao seu apelido hoje.
Ainda tentando se estruturar no jogo e mostrar quem manda em Caxias do Sul, um descuido deixou tudo igual. Em mais um erro de passe – coisa comum no jogo deste domingo -, Wilker Ángel acabou entregando a bola nos pés de Edson Carioca. Dez minutos depois do gol do Papão, Iury Castilho recebeu de seu meio-campista o passe perfeito para invadir a área se livrando da marcação e bater também no canto direito do goleiro Gustavo. O camisa 1 do Juventude até tocou na bola com a ponta dos dedos, mas nada impediu que o empate acontecesse.
Ambas as equipes seguiram fortes depois do empate, com o protagonismo levemente mais inclinado para os donos da casa. Muralha foi obrigado a trabalhar muito nesses últimos 15 minutos de primeiro tempo – visto que este durou até os 48’. Aos 38 minutos, Jean Mágico entrou em ação cobrando uma belíssima falta da intermediária, porém o goleiro paulista conseguiu fazer uma defesa firme. No último minuto antes dos acréscimos, o lateral Ewerthon – que trabalhou bastante do seu lado do campo, cobrindo Abner que estava tentando compensar as falhas de Wilker Ángel – tentou uma bucha de fora da área. O social media que comentava o jogo no X (antigo Twitter) do Juventude inclusive comentou: “Chutaço do Ewerthon e o goleiro do Mirassol conseguiu sei lá eu como evitar o gol Jaconero”. Sim, eu entendo ele.
Faltando dois minutos para se esgotarem os acréscimos, tudo já parecia levar para um empate que seria decidido na etapa complementar, porém, uma jogada coletiva mudou o cenário. Repetindo a maneira que o Juventude entregou o gol de empate ao Mirassol, os visitantes saíram errado e entregaram a bola de mão beijada ao atacante Ênio. O camisa 97 não pensou duas vezes antes de bicar a bola para frente para o domínio confiante de Gabriel Taliari. Taliari ajeitou para que seu passe permitisse que Emerson Batalla batesse de primeira, sem complicações. Minha amiga, que GOLAÇO do meu colombiano! Com todo o caráter decisivo que um jogador de seu calibre tem, Batalla chapou e guardou a bola no fundo da rede de Muralha. O primeiro tempo acabou e o Juzão estava na frente.
Logo nos primeiros segundos da etapa complementar, o Mirassol mostrou que até pode ser do interior, mas com certeza é do sudeste. Uma bola espirrada no corpo de Ewerthon esbarrou em seu braço colado, iniciando a primeira choradeira por pênalti dos últimos 45 minutos de jogo. Dessa vez, o árbitro se manteve firme e mandou o jogo seguir. Ah, se tu fizesses isso sempre, Paulo dos Prazeres Filho!
Mostrando que o intervalo não tinha secado a vontade dos Jaconeros de se manterem por cima no restante do jogo, os ataques continuaram intensos. Aos 4’, foi Ênio por cima do travessão. Aos 8’, foi Taliari no meio do gol. Aos 16 minutos, mostrando que o Ju, por algum motivo, só ataca em múltiplos de 4, Vitor Pernambuco teve a chance de acabar com o jogo. Recebendo do camisa 97 após uma jogada individual lisa pela direita, o ponta-esquerda jaconero bateu com leve desvio direto no travessão. Daqui pra frente, é só pra trás.
Existem algumas máximas no futebol: 1) quem não faz, toma, 2) treino é treino, jogo é jogo, 3) quem se desloca recebe, quem pede tem preferência, 4) ganha quem tiver menos ingleses em campo, 5) Gre-Nal são 11 contra 11, ganha quem não tiver o Edenilson e, a frase que mais tem se mostrado mentirosa no Brasileirão este ano: pênalti roubado não entra. Gurizada, entra e entra MUITO!
Aos 24 minutos, após um dos jogadores do Mirassol mandar uma bucha que desviou em Jadson dentro da área do Juventude, o VAR interrompeu o jogo pedindo que o senhor Paulos dos Prazeres Filho fosse até o monitor. Depois de alguns minutos analisando a imagem, o árbitro decidiu brigar com ela. A jogada claramente mostrava Jadson, com os braços colados ao corpo, pulando para tentar servir de barreira ao recuo do Mirassol. Não existe movimento antinatural – nem natural, afinal, não existe movimento. Não existe distância considerável entre os braços e o tronco, apenas os milímetros causados pelo salto. Não existe, inclusive, nem interrupção do curso da bola causada pela mão de Jadson – que estava bem agarrada em sua perna flexionada. Logo, não existe pênalti.
Mesmo assim, aos 27 minutos, lá estava Reinaldo ajeitando a bola para cobrar um dos tiros livres diretos mais cachorros dessa temporada. Talvez, só equiparado ao pênalti por wi-fi concedido ao Palmeiras em cima do Sport e aos pênaltis sonegados ao Grêmio, contra o Flamengo, e ao Internacional, contra o mesmo Palmeiras. Notou algo de comum entre os times prejudicados e os times beneficiados com esses erros? Bom, seguindo o baile…
Reinaldo bateu, Gustavo acertou o canto, mas chegou atrasado. Gol do Mirassol, empatando o jogo que deveria ter sido resolvido com a bola rolando, mas foi resolvido no apito. Longe de mim achar que o Mirassol está sendo favorecido aqui, afinal, que motivos a CBF teria para favorecer um time tão pobre quanto o Juventude? Na minha opinião, a arbitragem despreparada que rege nossas partidas só tem uma facilidade imensa em errar contra times do sul e do nordeste em detrimento a tentar raciocinar se há algo de errado do lado sudestino da história. Não acho que seja premeditado, acredito que seja erro, mas uma hora cansa ser o elo mais fraco da corda que estoura queimando sempre as mãos dos mesmos. Lamentável.

Na temporada passada, o Juventude foi o time que mais cometeu pênaltis no Brasileirão e, até aí, tudo bem. Mas, se o time é tão físico ao ponto de estar no topo da lista de infratores, como pode o Ju não ter sofrido uma penalidade máxima ao longo de 38 rodadas em 2024? Nenhum pênalti à favor. Eu repito: NENHUMA PENALIDADE FOI CONCEDIDA AO JUVENTUDE EM 2024 NA COMPETIÇÃO NACIONAL MAIS IMPORTANTE QUE TEMOS. NENHUMA. Como isso é possível? Eu não sei e ninguém parece estar interessado em explicar.
Quero saber se o telefone de Fábio Pizzamiglio, presidente do Juventude, vai tocar em algum momento para que Ednaldo Rodrigues, enganador profissional na cadeira da CBF, se desculpe pelo ocorrido assim como houve com o Cruzeiro. Erros merecem pedidos de desculpas, mas a todos. Sem exceção. Eu nem acho que Cruzeiro seja um time tão influente assim, porém seu local geográfico já faz com que eles pisem na nossa garganta com uma facilidade absurda aos olhos da CBF.
Tu, que está lendo esse texto agora, sabia que nenhum time de fora do sudeste jamais ganhou um Brasileirão na era dos pontos corridos? No Rio Grande do Sul, Inter e Grêmio já chegaram bem perto, mas algo – como um pênalti sonegado, um cartão vermelho por simulação ou um gol erroneamente anulado – sempre entra na frente. Não estou dizendo que o Juventude está brigando por título, mas imagine o quão desgastante é brigar por qualquer coisa se a balança sempre pesa para o outro lado. Ou tu vai me dizer que nenhum time fora do sudeste desde 2003 teve a capacidade futebolística de ser melhor do que os times que são do eixo? Por favor, né?
Contra tudo e contra todos (os sudestinos), o Juventude volta a campo no próximo sábado (26), para enfrentar o Internacional dentro do Beira-Rio. Um enfrentamento entre dois gaúchos me soa como um jogo com cinco expulsos de cada lado ou uma partida onde nenhuma falta deve ser levada em consideração. O critério é não ter critério, principalmente se for contra nós.
Por Luiza Corrêa
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.