A ETERNIDADE DO CLUBE DO POVO DO RIO GRANDE DO SUL


Não é nada simples fazer da casa alheia sua própria morada; tornar um canto diferente do seu, um pedaço de si que seja capaz de acolher e ser mais do que um pouco de chão, um filete de grama ou um lugar debaixo do céu. Fazer ser e pertencer a um lugar tantas vezes, carece de derrubar barreiras e muros que são invisíveis ao olhar cru. São intocáveis, mas que ainda assim, existem de forma dura e cruel. 

Foto: Ricardo Duarte/ SC Internacional

Em 1909 houveram aqueles que ousaram e adentraram os muros impostos em Porto Alegre  para aqueles que vinham de fora, que não tinham bolsos forrados por dinheiro ou status. Eles foram além de si mesmos.

Henrique Poppe Leão, José Eduardo Poppe e Luiz Madeira Poppe trouxeram de São Paulo o amor pelo futebol em 1908. No entanto,  aqui encontraram clubes fechados e com lugares marcados para jogar e torcer. As instituições que aqui existiam   eram destinadas aos seus “escolhidos”, com cores, peles, sobrenomes e origens pré determinadas

Os clubes de football porto alegrenses não tinham portas abertas a todos. Os irmãos Poppe traziam consigo a esperança de dar ao Rio Grande do Sul e a sua capital, um clube em que cada pessoa pudesse fazer de seu, de seu lar, de sua casa e sua própria religião.

Nasceu daqueles que vinham de fora e foi batizado como Internacional, para que não houvessem dúvidas que aquele clube, fundado em um 04 de abril em 1909, seria tão dos irmãos Poppe quanto daqueles que escolhessem o Clube do Povo para torcer.

Nascido para abrir as portas e seus gramados a todos, logo foi subjugado por olhares e peles claras. O “Clube dos Negrinhos”, dos Crioulos, apontado sempre com julgamento, cresceu e fez da sua história um lugar de abrigo ao longo dos anos, orgulhando-se de todas as alcunhas que lhe jogaram. Assim, trouxe para si o símbolo do macaco e do Saci que lhe deram como “castigo” e fez deles parte de si em todos os cantos de sua história. 

Do povo, acolheu Nelson Silva em 1943, também vindo do eixo que escolheu Porto Alegre para si como casa. O mesmo Nelson que teve na cor escura de sua pele um motivo para ser proibido de adentrar no estádio do co-irmão e assistir o futebol do seu Flamengo. Nelson Silva que se apaixonou pelo clube da Padre Cacique, pela sua cor, sua festa, seu legado de ser Internacional, marcou no hino do clube também seu legado. 

Naquele 1909, os irmãos Poppe criaram uma instituição dada a ter base no chão, na música, no povo que o escolheu e que mesmo em dias tortuosos ainda o faz sua escolha todos os dias.

A base daquele clube fundado por quem precisava de um lugar para si, tornou-se legado para todos que viriam adiante, dos anos dolorosos às conquistas gloriosas.

Dentro de seus gramados passaram muitos camisas 10, passaram ainda Dadá, Tesourinha, Manga, Carlitos, Guiñazu, Rafael,  Fabiano, Iarley, Abel, Fernandão, Gabiru, D’Alessandro, Alisson, Taffarel, Nilmar, Taison,  Yuri, outros e outros tantos que a memória vai alcançando a cada linha dita, mas fora dele, na força do grito é que muitas vezes a real história se escreve. 

O legado desta história que alcança seus 113 anos neste 04 de abril é só um pedaço da história do Clube do Povo que ainda será levada por muitos outros que por vezes se separam pelas linhas do gramado, mas que dividem ainda um elo forte como a fé e eterno como o amor. 

O clube que é do povo que tem todas as cores, que abriga todos os dialetos, os que chegam de perto e os que atravessam oceanos, os que vibram em suas arquibancadas ou em terras de outros portugueses, que é embalado pela força de muitas mulheres que contam suas histórias entrelaçadas as suas conquistas e também derrotas. 

O clube que é do povo, um povo forte, bravo, brigador. Um povo teimoso que teima em viver, em celebrar, em lutar e insistir, um povo que canta mais alto seja na casa de quem for, que leva seu manto seja onde as coordenadas existirem. O clube quem tem um povo para si que não desiste, não muda ou abandona, que RENASCE!

Vídeo: Divulgação SC Internacional

Ao Sport Club Internacional, um obrigada pela existência, pelas lições e por me fazer crer no impossível. O impossível dentro de campo baseado nas vitórias menos prováveis, o impossível aos olhos dos outros que acontece a cada vez que o meu pai deixa seu cantinho na eternidade e adentra ao Beira Rio ao meu lado para cantar por ti, Colorado. 

Que outra vez renasça do mais improvável, do mais julgado, do menos esperado o Clube do Povo do Rio Grande do Sul. 

Feliz aniversário Sport Club Internacional, segue tuas sendas de vitórias Colorado das glórias, ORGULHO DO BRASIL. 

Por Jéssica Salini

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.    


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