Gurias Jaconeras deixam os 3 pontos escaparem nos últimos minutos e empatam com o Real Brasília
A segunda vitória quase veio, mas neste domingo de Páscoa (20), o empate em 1 a 1 prevaleceu entre Juventude e Real Brasília, no Estádio Defelê, no Distrito Federal. Com apenas um gol para cada lado, as donas da casa se mantiveram em décimo lugar, enquanto as visitantes alviverdes continuaram em décimo terceiro, entre as Spartanas do América-MG e as Gurias do Internacional. Os dois pontos que escaparam teriam alçado o Juventude à portinha do G8, junto ao Flamengo, mas ficou para a próxima.

Que empate dolorido foi esse em Brasília, torcedor jaconero! O jogo começou até bem equilibrado, mas claramente o Juventude estava mais confortável entre as quatro linhas do Defelê. As Gurias mantinham a posse de bola controlada em passes certeiros e jogadas espetadas no meio, com bolas longas extremamente precisas. Já aos 3 minutos, Jaielly arriscou de fora da área para a defesa firme da goleira Taina. Dois minutos depois, foi a vez do Real Brasília chegar em uma falta cobrada pela camisa 10, Manu. A goleira Renata May só precisou acompanhar enquanto a bola passava por cima do travessão.
Alice, uma das protagonistas deste jogo, estava especialmente “poucas ideias”, malhando o Judas em toda a oportunidade – mesmo que um dia atrasada. Qualquer brincadeira que as atacantes brasilienses tentavam mandar para cima dela, ela respondia com dribles humilhantes ou com jogo de corpo dentro da intensidade permitida, só para deixar a adversária no chão e sair com a bola. Física como estava, a camisa 5 levou um cartão amarelo logo aos 7 minutos, numa dividida rápida que deixou a camisa 10 brasiliense caída. Até houve alguma reclamação, mas não o suficiente para esfriar o jogo, que começava a pegar fogo. Alice também não baixou o giro, levando algumas advertências verbais depois disso.
Kamile Loirão e Jaielly deram algum trabalho para a goleira das Leoas do Planalto, que precisou ficar ligada a cada aproximação, já que sua zaga não parecia dar conta da intensidade das atacantes do Verdão. Essa intensidade, inclusive, foi um fator determinante para o empate, mas vamos deixar os assuntos ruins virem com o tempo.
Na primeira etapa, o jogo estava dominado pelo Juventude e é disso que eu estou falando. Aliás, essa mesma Kamile Loirão já dava sinais de que criaria algo muito importante quando raspou a bola no travessão aos 13 minutos, aproveitando um cruzamento da companheira Grazi.
Se utilizando da posse de bola tranquila com a qual tocavam o jogo, as Gurias Jaconeras começaram a arriscar de fora da área. Não só as atacantes, como as meias, as laterais e até a capitã – e xerife da zaga – Bruna Emília, tentavam a todo custo encobrir Taina. Mesmo com todas essas tentativas, a goleira das Leoas continuava se arriscando em saídas para interceptar finalizações e cobranças de escanteio. Numa dessas, o Juventude saiu com a melhor.
Depois de muita cera da protetora da meta brasiliense, as Leoas do Planalto saíram para um ataque que parecia promissor – elas só não esperavam que a bola perdida por Ju Morais resultaria em uma pintura do outro lado. A camisa 53 das donas da casa tentou achar Manu em um passe sem muita força que acabou nos pés de Alice. Sem pensar duas vezes, a camisa 5 bicou pra frente direto pro domínio de Kamile Loirão. Camisa 9 como poucas são, a atacante teve poucos segundos para olhar para a meta e perceber Taina adiantada mais uma vez.
Quanto tempo leva para entrar para a história de um time? Para Kamile Loirão, 6 segundos foram o suficiente entre dominar o passe, analisar a posição da goleira e meter uma bola sem muita força, mas com muita personalidade. Do meio da rua, pela direita da intermediária, a camisa 9 fez o gol mais bonito da competição até agora. Taina nada pôde fazer. Foi encoberta pelo chute mais lindo que Kamile já deu em sua vida e assistiu de camarote aquela bola entrando estufando sua rede. Que golaço, minhas amigas! Kamile Loirão não joga futebol, ela faz carinho na pelota. Este foi o segundo gol da atacante nesta temporada. Também foi ela que abriu os trabalhos do Juventude no empate com a Spartanas.
O jogo seguiu sem muitas faltas e sem muito perigo, apesar das Esmeraldas terem tomado gosto pelos dribles longos e o futebol arte em sua essência. Depois de um gol que nem Pelé foi capaz de fazer, existe um certo padrão de beleza a ser seguido nas jogadas. Em resumo, mesmo com a árbitra dando 5 minutos de acréscimo e depois acrescendo mais um, as Gurias Jaconeras seguiam deitando e rolando com a bola. Pena que existe o segundo tempo.
No início da segunda etapa, foi onde conhecemos o terceiro nome desta partida. Renata May nunca decepciona, apenas dá seu show silencioso e volta para casa como se nada tivesse acontecido. Poucas goleiras desta Série A1 passam tanta confiança quanto a defensora das metas jaconeras. A camisa 1 do Ju joga como se estivesse fazendo uma tarefa comum de seu dia a dia e não deixa a pressão chegar. Munida de seu penteado excêntrico, Renata mostra a cada jogo o quanto ela merece a elite e o quanto a elite precisa dela. O espetáculo não está só do meio para a frente, ele começa no campo de defesa com uma goleira que saiba ser a rainha do show.

Com as visitantes um pouco mais cansadas, foi a hora de o Real Brasília mostrar o futebol que sabe jogar desde que chegou na Série A1. Com jogadas inteligentes focadas na meio-campista Manu e na atacante Pitty, as Leoas iam chegando e fazendo Renata trabalhar. Houve defesa de todos os jeitos. Encaixada, espalmada e até um milagre saído de suas luvas ao tirar uma bola que já entrava com a ponta dos dedos em direção ao travessão. Renata não sabe brincar, ela só sabe dar trabalho para as atacantes adversárias. E com boas reposições, Jaielly e Kamille seguiam dando um show de finalizações.
Aos 10 minutos, o Juventude perdeu uma peça muito importante do seu meio campo. Eduarda Tosti, que conseguiu a titularidade depois de desempenhar muito bem, vinda do banco, precisou ser socorrida por suas colegas depois de tombar ao chão longe da bola. Leka, que entrou em seu lugar, estava mais descansada e continuou o trabalho de tentar servir uma das atacantes para matar o jogo.
Renata continuava dando segurança no campo de defesa, não deixando que bola nenhuma passasse por suas luvas. Podia ser uma bomba, uma escapada de um bate-rebate ou um cabeceio belíssimo de Dani Silva, não ia entrar. Até que entrou. Aos 25 minutos, após uma série de defesas para parar a blitz de ataque brasiliense, Renata não conseguiu parar a camisa 12, Giovana, na hora de colocar para dentro. Segundo a arbitragem, a goleira jaconera foi atingida em uma das tentativas de finalização, logo, todo o lance a partir daí foi anulado.
Honestamente, eu não vi choque, mas lances como esse mostram a falta que faz um VAR em competições desse porte. Como assim as Leoas do Planalto precisaram confiar na palavra da árbitra ao anular um gol – que à primeira vista, foi legal – por conta de um choque que ninguém viu acontecer? Renata sentiu dor, mas pode ter sido da queda. De qualquer maneira, o placar seguia 1×0 para as visitantes.
A partir dos 30 minutos, a bola não saiu do campo de defesa do Juventude. Estava claro que aguentar os próximos 15 minutos seria quase insuportável, mas as Esmeraldas – mesmo cansadas – sabiam o quão importante era essa vitória e seguiram firmes. O professor Luciano Brandalise promoveu todas as trocas que tinha na manga, tentando manter seu time descansado, porém cinco não valem por onze e o cansaço do primeiro tempo intenso estava começando a bater. Pelo menos, eram só mais 15 minutos.
Até que, aos 45 minutos, a árbitra estava gostando do jogo e decidiu pedir mais 11 de acréscimo. Era claro que o físico das Esmeraldas não estava mais aguentando e elas não conseguiam criar nada, mesmo defendendo com criatividade. Renata precisou invocar a Mary Earps que existe dentro dela para segurar o placar sozinha, porém, aos 56 minutos, viu os 3 pontos escorrerem por suas luvas.
Sem conseguir chutar a bola para longe, as Esmeraldas permitiram que mais um bate-rebate acontecesse dentro de sua área. Perdidas e exaustas, deixaram que a zagueira Petra ficasse com a sobra e ela não desperdiçou. No último lance da partida, o Real Brasília empatou e levou um pontinho para casa.
Tudo parece muito injusto quando pensamos que não foram desperdiçados 11 minutos no segundo tempo em nenhum momento. Para que esses acréscimos de Olimpíada? Por que obrigar que as jogadoras joguem 107 minutos ao total? Era alguma final para ter prorrogação? Eu não sei, só sei que o Juventude teve sua segunda vitória adiada por tempo indeterminado.
Apesar do empate amargo, as Gurias Jaconeras – e o professor Luciano – estão de parabéns por mostrarem que um futebol bem jogado pode render momentos históricos. Daqui alguns anos, quando estivermos discutindo momentos e nomes marcantes do futebol feminino brasileiro, este gol de Kamille e a atuação incansável de Renata com certeza farão parte da discussão. Que honra que é assistir à história acontecer!
Por Luiza Corrêa
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