Erros bobos levam o Juventude à primeira derrota no Campeonato Brasileiro diante do Botafogo
Neste sábado (05) foi inaugurada a segunda rodada da série A do Brasileirão 2025 e com ela veio a vitória por 2×0 do Glorioso em cima do Ju. O jogo aconteceu no Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, e foi marcado por uma série horrorosa de erros da defesa e do ataque do Juventude, e a prova de que é necessário não temer o adversário.

Não, o Botafogo não foi superior o jogo todo – se você ler isso em qualquer lugar, é mentira. Não, o Juventude não fez a máxima do futebol gaúcho de se retrancar logo no início – foi guerreiro os 90 minutos. Não, o primeiro gol do alvinegro não fez nem cócegas na moral do visitante e qualquer um que não veja isso, é desonesto e enviesado – uma pena que a maioria seja.
E, de longe, a parte que mais me fez grunhir de raiva sobre toda essa partida não teve nada a ver com o jogo jogado, mas, sim, sobre o que levou ele até a tela da minha televisão. Esse é o mal da globalização, um trio de transmissão lá do Rio de Janeiro consegue me estressar aqui na minha casa.
O primeiro tempo foi bastante truncado e mostrando que ambas as equipes estavam em um lugar um pouco nebuloso na questão técnica, mas, mesmo assim, o Juventude conseguiu dominar a sua zona de ataque com defesas do goleiro Jhon ou chutes para fora que nem constam para a estatística. Nesse momento, quem narrava e comentava disse que era um jogo morno e que, apesar da investida intensa estar vindo claramente mais de um lado, as equipes estavam equilibradas.
Aos 23 minutos, inaugurando a sua segunda finalização na partida, o Botafogo abriu o placar. Artur levantou a bola na área e Igor Jesus subiu para desviar para dentro da meta. Marcão, que teve desempenho abaixo do jogo contra o Vitória, ensaiou que se esticaria, mas não pôde evitar o gol de número 800 do Engenhão. Deixar o camisa 99 subir completamente sozinho foi apenas um dos erros da defesa alviverde.
Durante todo o jogo, um dos comentaristas pintou o quão genial era o jogo pelos lados do Botafogo – que realmente é muito bonito. A fim de combater isso, Emerson Batalla e Gabriel Taliari tentavam pelo meio e Petterson, promovido a titular por conta do enrosco envolvendo o atacante Ênio, insistia em levantar na área para que ninguém finalizasse no alvo. Péssimo, porém com raça. Nos acréscimos, Savarino saiu na frente do gol e quase fez o 801º, mas chutou para fora, tirando uma lasquinha da trave.
No intervalo, os comentários sobre a disparidade entre as duas equipes continuaram e, se eu não estivesse assistindo ao jogo, acreditaria que se tratava de uma partida insossa e sem briga nenhuma. A disputa foi pintada quase como chata, sem grandes chances, sem destaques e nada que mostrasse o que os times estavam ali para fazer. Indo contra a boa atuação do Juventude, que foi incansável em todos os momentos que teve a bola no pé. Se eu quisesse achar alguma coisa, acharia que a partida não estava boa para eles porque o time tido como favorito não estava bem. Mas, quem sou eu para achar qualquer coisa, né?
A segunda etapa teve um início bem parecido com a primeira, com Taliari cruzando uma bola em direção ao gol de Jhon logo aos 3 minutos. Como é de praxe para times mais ao norte – em relação ao Rio Grande do Sul, claro -, um gol de vantagem é o momento do goleiro segurar a pelota o máximo que der em cobranças de impedimento e tiros de meta. Mandaca e os demais jogadores do Juventude, inclusive, reclamaram da atuação frouxa do árbitro nesse e em outros lances. Para mim, a falta da aplicação do cartão amarelo na tentativa de Cuiabano de despir um dos adversários e a falta de pulso do juiz na hora de pedir que o minuto de silêncio fosse cumprido antes do apito inicial foram grandes marcos do quão fraco ele era.
Insistindo em pressionar as saídas de bola, porém se perdendo do meio para trás, o Juventude acabou levando o segundo aos 16 minutos. Só aí que se dignaram a falar que o jogo estava começando a esquentar. A conversa entre as laterais do Botafogo mudou completamente a visão da transmissão sobre ele. De repente, o cruzamento de Cuiabano para o chute direto do falso centroavante Mateo Ponte foi a salvação da partida. Agora, sim, estava interessante! Depois de 64 minutos de bola rolando, finalmente, estava valendo a pena assistir àquilo.
Ao invés de fugir do embate, Fábio Matias decidiu colocar seu elenco em posições mais ofensivas e arriscar, afinal, ele já estava longe de uma dominância e não perderia nada se atacasse ainda mais. Essa decisão foi criticada pelos jornalistas – assim como a retranca seria -, já que permitiria mais espaços para serem aproveitados pelo Botafogo. Isso é uma conclusão lógica de quem conhece futebol, mas a conclusão empírica de quem assiste futebol com narradores do eixo é que contra um time do Rio ou de São Paulo, não existem decisões certas. Nunca. Dominando o jogo ou não. Perdendendo de um gol ou de uma goleada. É impossível acertar, afinal nem comentar sobre o jogo do Juventude eles comentaram, eles só fizeram um espelho do que o Botafogo fazia com o time gaúcho.
Aos 24, Igor Jesus até ampliou, mas o VAR reconheceu – de maneira incrivelmente rápida – que Mateo Ponto estava impedido logo no início da jogada, invalidando o gol.
Cada vez mais próximo do final, o professor Fábio Matias abriu mão do volante Giraldo para colocar Nenê em campo e tentar organizar o seu meio para frente – já que a defesa já tinha ficado com Deus. Mandaca deu lugar ao estreante Emerson Galego, forçando um jogo cada vez mais avançado. Além disso, Mateus Babi e Giovanny entraram nos lugares de Emerson Batalla e Gabriel Taliari, respectivamente, para ter jogadores descansados e manter o ritmo intenso. Nada deu certo, infelizmente. Vitória dos donos da casa.

Depois do apito final, o experiente Nenê foi confrontado por um entrevistador que pediu que ele explicasse como mudar a tônica de que o Juventude joga mal fora de casa, por conta do retrospecto dessa temporada. O camisa 10 riu e pediu que o jornalista fosse com calma, afinal, era o segundo jogo do campeonato e o primeiro fora de casa. Querendo embasar seu questionamento, o homem insistiu que o Ju tem apenas 39% de aproveitamento fora de casa, juntando o Brasileiro e o Gauchão – campeonato esse onde se manteve líder em pontos pela maior parte do tempo e conseguiu chegar na semifinal, diferente do adversário desta noite.
Nenê é um lorde e discorreu sobre ser normal jogar nervosamente na casa dos atuais campeões do Brasileirão e ainda disse que apesar do resultado negativo, apreciou a postura do time em campo que, até se embaralhou, mas não se fechou ao jogo. Segundo ele, é preciso ser fatal quando se tem tantas chances como as que o Juventude teve. Não se pode errar tanto. Ele está certo.
A minha bronca aqui não é com os apontamentos de erros do Juventude mas, sim, com apenas se apontar erros do time, sem apreciar a boa bola que foi jogada e a raça que eles tiveram de enfrentar o Botafogo como só mais um oponente, que é o que todos são. Se organizando melhor, é possível ganhar de todo mundo, principalmente de um time que anda sendo sucateado pelo seu dono. Esse foi o erro do Juventude. Não matar o fragilizado Botafogo quando teve tempo. Não foi a melhor atuação do alviverde, contudo, nem de longe o Ju se mostrou menos capaz que o outro time, apenas menos confortável e organizado. Tudo se ajusta. O Alfredo Jaconi e o seu frio insuportável estarão esperando eles no returno.
E, já que a transmissão gosta tanto de números, aqui vai alguns que eu juntei ao final da partida. O Botafogo disputou 10 jogos fora de casa nessa temporada, sete no Carioca, um no Brasileiro, um pela Libertadores da América e o jogo de volta contra o Racing pela Recopa Sul-Americana. Destes, foram 6 derrotas, 3 empates e uma vitória sobre o Nova Iguaçu no dia 6 de fevereiro. Eu sou de humanas, mas a calculadora me disse que isso significa que o Fogão tem o aproveitamento fora de casa um pouquinho superior aos 10%. Em campo neutro, como foi contra o Flamengo na Supercopa, o Glorioso só perdeu. Não é corneta, é informação.
Dito isso, o Juventude volta a campo no próximo sábado (12) às 16h no Jaconi, contra o Ceará, que vem de uma vitória contra o Grêmio. Dessa vez, pelo menos, a mídia do eixo desconhecerá igualmente a grandiosidade de ambos os times. Nos vemos logo, logo, Vovô!
Estaremos juntos, buscando ser fatais – dentro e fora de campo – para que um dia, respeitem nosso nome e nossa história como fazem com os outros!
Por Luiza Corrêa
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.