DE PALESTRA À ALLIANZ PARQUE: O BELO JARDIM SUSPENSO DEU LUGAR À MODERNA ARENA MULTIUSO


Que o Allianz Parque é muito moderno e muito bonito, não podemos negar, mas duvido que quem frequentava o estádio antes da mudança não sinta saudades do antigo Palestra Itália. Impossível não sentir falta do jardim suspenso e até mesmo das arquibancadas de concreto, que vibravam junto com a torcida. 

Hoje temos uma moderna arena que deixa os torcedores mais perto do gramado, mas a gente sente sim saudade da época em que o gramado era suspenso e tinha uma espécie de fosso, que separava  as arquibancadas do campo. Naquele espaço os torcedores se encontravam, confraternizavam antes e depois da bola rolar. E nesse clima de saudade, não tem como também não sentir falta do ingresso barato e do estádio acessível. 

O estádio Palestra Itália nasceu Parque Antarctica em 1902, era uma área de lazer que pertencia à Companhia Antarctica Paulista, e era o destino para o programa de fim de semana de muitos, pois era referência de local para prática de atividades ao ar livre. Time e estádio se encontraram pela primeira vez em 1917, quando o Palestra venceu o Internacional-SP por 5 a 1. Ali nascia o relacionamento entre clube e estádio, que também foi palco do primeiro dérbi da história.

Em 1920, o Palestra Itália comprou o Parque Antarctica, e o relacionamento virou mesmo uma história de amor. Na primeira partida como dono do estádio, o Palestra goleou o Mackenzie por 7 a 0, ainda no ano de 1920. O campo que sediou o primeiro dérbi também recebeu o primeiro confronto entre um time paulista e um time carioca, além de receber a primeira partida da Seleção Brasileira fora do Rio de Janeiro. Quanta história para contar tem esse gramado!

O Parque Antarctica era apenas um campo, que recebeu suas primeiras melhorias pelas mãos de alguns torcedores da época, e com o tempo, foi sendo melhorado pelo clube. Em 1932, o Parque Antarctica deu lugar ao Stadium Palestra Itália, o maior e mais moderno estádio da época, o primeiro com arquibancadas de concreto e capacidade para 30 mil pessoas.

(Palestra Itália) Site Oficial do Palmeiras

As reformas não pararam por aí, e anos mais tarde foi criado o jardim suspenso, contornado por suas arquibancadas em forma de ferradura. O campo recebeu esse nome pois o gramado ficava no centro do estádio, literalmente suspenso, separado das arquibancadas, com toda sua glória e beleza. Óbvio que amamos a atual arena, mas ela não toma o lugar daquele estádio charmoso em que tanto o clube quanto a torcida passaram por tantas emoções, alegrias, choros, risos e até mesmo tristezas. Palco de tantos títulos, o Palestra Itália também viu o Palmeiras passar por duas vezes pela série B do Campeonato Brasileiro, porém, viu esse mesmo Palmeiras se reerguer. 

Em 2010, o Palestra Itália saía de cena para a chegada do Allianz Parque. Hoje, dele resta apenas uma arquibancada embaixo da nova com suas cadeiras para ser mais confortável, mas quem já esteve naquela bancada de concreto, debaixo de chuva e sol, sentindo ela pulsar com o grito e a vibração da torcida, jamais irá esquecer. Resta também muita saudade aos palestrinos. Saudades dos corredores daquele fosso entre o gramado e a arquibancada. Saudades até de ver o Verdão debaixo de um sol escaldante, ou de uma chuva de “acabar o mundo”. Saudades de ver um jogador pesar a perna e mandar a bola lá área das piscinas, ainda mais se for do time adversário. O Palestra Itália se foi, mas as memórias criadas lá serão para sempre.

As antigas arquibancadas do Palestra Itália ainda vivem sob as cadeiras do Allianz Parque. Foto: Blog Libertadores 50 anos

Em 2014 nasceu o Allianz Parque, e o Palmeiras finalmente estava indo de volta pra casa, ali no mesmo local onde aconteceram as glórias do Palestra e Palmeiras, do líder e do campeão. Para alguns torcedores, foi e ainda é difícil aceitar a derrubada do Estádio Palestra Itália. Com a modificação, muitas coisas foram transformadas. 

No dia 19 de novembro, o primeiro jogo aconteceu na nova casa do Palmeiras, e o resultado não foi favorável aos mandantes. Uma derrota contra o Sport marcou a estreia da Arena. Não demorou muito para os questionamentos aparecerem: será que era a zica da destruição do Estádio Palestra Itália?

Allianz Parque – Reprodução Internet

Felizmente não era nada disso, apenas uma infelicidade de marcar a inauguração com uma derrota. Pouco tempo depois, o Allianz começou a viver a paixão palmeirense.

Casa cheia, bandeiras distribuídas pelos cantos, gritos de apoio e comemorações. Há sete anos abrigando o alviverde imponente, o estádio já foi palco de muitas glórias, e de uma campanha história na Libertadores.Infelizmente, esta última com os assentos vazios. Mas, relembramos a vibração.

Em 2015 veio a primeira glória em gramado novo. Aquele 2 de dezembro, sede por título e muito amor do torcedor ficou marcado na história. Após um ano horrível, conquistamos o primeiro título em casa nova. Um clássico entre Palmeiras x Santos emocionante. Marcou a história de um ídolo palmeirense: Fernando Prass. 

No ano seguinte, saímos da fila de 22 anos sem conquistar um Campeonato Brasileiro. Um 27 de novembro também inesquecível, dos heróis improváveis alviverdes, quem se consagrou no gol norte palmeirense foi o lateral Fabiano, ao marcar o gol que dava o título ao Palmeiras, contra a Chapecoense. Também foi no estádio palmeirense que aconteceu o último jogo dos guerreiros da Arena Condá, antes do fatal acidente a caminho de Medellín, na Colômbia, onde iam em busca da taça da Copa Sul-Americana.

Em 2018, de forma mais acirrada, ganhamos mais um Campeonato Brasileiro. Uma partida contra o Vitória marcou a comemoração palmeirense daquela conquista. Foi o último título adquirido com torcida no estádio.

Devido a pandemia do novo coronavírus, em 2020, ficou impossibilitada a ida de torcedores ao estádio. No Allianz, a última partida do Verdão em casa com a presença dos palmeirenses foi no dia 10 de março. Uma partida contra o Guaraní-PAR. Aquele 3×0 marcou o começo da história que o Alviverde fez na temporada de 2020.

Esse mesmo estádio vazio também foi palco de três goleadas por 5 a 0 na fase de grupos da Libertadores. Mas nem tudo foi alívio assim. O clima ficou tenso naquela derrota por 2×0 contra o River Plate. Uma atuação alviverde não tão boa, mas com certeza ali naquele gramado foi liberada toda energia já dispersada pela torcida, para segurar o resultado.

A cada jogo, a saudade aperta. É difícil ver as arquibancadas vazias, o barulho apenas de uma caixa de som. É difícil não estar presente para cantar e vibrar pelo Verdão.  Estamos há mais de 1 ano sem poder frequentar nossa casa, sentimos falta do Palestra Itália, e agora sentimos falta do Allianz Parque. Sabemos que o momento é delicado, e sentimos também por todas e tantas vidas perdidas. Nos mantemos firmes na fé de que vai passar, agarrados ao verde da esperança e do Palmeiras. E quando tudo isso passar, estaremos de volta às arquibancadas, cantando e vibrando como nunca, matando a saudade e fazendo festa no chiqueiro.

Foto: Reprodução internet

Por Vânia Souza e Victória Amorim

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


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