Falar sobre estádios neste momento é reverberar, remexer, cutucar nossas maiores saudades. É escrever quase que de olhos fechados, enquanto a mente passeia e revive cada momento dentro de um gigante feito de concreto, de cores, sentimento e fé.
Em Porto Alegre, capital dos gaúchos e casa que muitos outros escolheram para si, existe há beira do Rio Guaíba, na Avenida Padre Cacique 891, um gigante e imponente templo de fé, da fé que colocamos em um clube, em sua história, no peso de sua camiseta.
José Pinheiro Borda, assim nomeado em homenagem a um lusitano que tudo fez e dedicou-se até o último suspiro a ver seu sonho de pé. José faleceu antes da inauguração, mas o que deixou para a história do clube amado viverá para sempre.
O português amou o Clube do Povo e fez parte de sua história, construiu junto da sua trajetória de vida mais um capítulo do clube que recebeu o nome de Internacional, justamente porque desde sempre se pôs a abraçar a todos.
O Beira Rio, como é carinhosamente conhecido, desafiou logo de cara a todos. O terreno destinado a sua construção ficava dentro do rio, exatamente dentro do Rio Guaíba.
Como poderia um clube construir um grande estádio sobre as águas? É disso que o amor e fé alicerçaram o estádio, daqueles que duvidaram, daqueles que desacreditaram, daqueles que não imaginavam sobre o que o povo Colorado era capaz.
O desafio não era somente sobre fazer chão sobre a água, mas também em como pagar por isso. De todos os cantos, de todos os povos, de todas as famílias que já tinham para si o Internacional como clube do coração vieram suor, sacos de cimento, areia, tijolos e mão de obra.
O estádio que precisava desafiar o Guaíba e impor-se se fez com o seu povo, com doações de todos os tipos e quantidades, muitos foram os que atravessaram a cidade com seu tijolo embaixo do braço, alegres e orgulhosos.
O Beira Rio fez-se casa e abrigou toda a sua gente, desde aquele 06 de Abril 1969, não há quem adentre seus portões, suba suas rampas ou escadas e não se sinta exatamente na sua casa.
52 anos depois de sua inauguração e mais de 60 do seu pontapé inicial de construção, o Beira Rio já foi palco de tardes mágicas e de noites intermináveis.
Um tricampeão brasileiro, uma campanha jamais repetida e que ninguém lhe impôs o amargo gosto de uma derrota, os inúmeros estaduais, as vitórias absurdas e absolutas sobre o rival, as reviravoltas quase que inacreditáveis, a América a seus pés, uma, duas vezes…
Um estádio, um templo que mesmo no mais absoluto vazio ainda ecoará pela eternidade o grito de um capitão campeão mundial, que ficou gravado em cada estrutura, cada pedaço da grama, cada espaço dentro do estádio. Um estádio que silenciou, soluçou, chorou também a perda daquele eterno F9.
O Beira Rio que reformado, reestruturado, vestiu se de novo, de tecnologia, jamais será somente um amontoado de cimento, um conjunto de cadeiras numeradas ou se resumida somente a um dos melhores gramados do país, naquele 891 da Avenida Padre Cacique pulsa sentimento, pulsa força, pulsa fé nesta religião chamada Sport Club Internacional.
Palco das copas do mundo e de suas copas particulares, berço de amores inabaláveis e cenário de momentos absolutamente inexplicáveis, a casa do Clube do Povo é desde a incredulidade daqueles que duvidaram do seu povo até a maestria de sua imponência e beleza uma das conquistas mais gigantes do Internacional.
A beira daquele rio, que é banhado pelo pôr do sol existe um estádio que desafiou a rivalidade, os preconceitos, a falta de fé, a história e as próprias águas que o banham, impôs se e reina inabalável em Porto Alegre como um gigante.
Por Jessica Salini
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.