Em meio a disputa da Ladies Cup, Kamila Padilha entrevistou a diretora colchonera de futebol feminino
A segunda edição da Ladies Cup chegou ao fim no feriadão prolongado, tendo o Flamengo como campeão, ao derrotar o Internacional por 1 a 0, em Araraquara-SP. A competição organizada pela Federação Internacional de Football Soccer Society (FIFOS), em parceria com a Federação Paulista de Futebol (FPF), contou este ano, com a participação de uma equipe europeia: o Atlético de Madrid. São Paulo, Flamengo, Ferroviária, Universidad de Chile, Santos, Palmeiras e Internacional completaram o quadro de participantes.
O Atlético tem em seu elenco a brasileira Ludmila. No clube desde 2017, a atacante conquistou uma Supercopa da Espanha e o bicampeonato nacional pelo clube.
Aproveitando a participação das Colchoneras, o Portal Mulheres em Campo entrevistou a diretora geral de futebol feminino do clube, Lola Romero. Filha de imigrantes espanhóis, Lola tem uma relação especial com o Brasil, afinal, nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Além disso, Romero é peça fundamental para o desenvolvimento do futebol feminino na Espanha – tendo sido eleita uma das 100 mulheres mais influentes do esporte espanhol em 2022, e para a melhora das Rojiblancas, que no último Campeonato Espanhol, terminaram na quarta colocação com 59 pontos.
Lola, como está sendo retornar ao Brasil e reencontrar suas origens?
É uma terra que adoro e não tenho muitas oportunidades de voltar a visitar. Para mim tem sido, particularmente, muito especial, pois foi onde nasci e passei parte da minha infância.
Falando de futebol, você acompanha o futebol feminino brasileiro? O que tem achado do crescimento que a modalidade vem tendo por aqui?
Acho que muitas coisas estão sendo feitas para o futebol feminino por parte da federação, dos patrocinadores e das entidades. Vejo um nível competitivo muito alto e se continuarem assim, farão com que esta liga seja muito reconhecida no mundo.
Quais pontos você considera necessários para criar uma cultura de futebol feminino fortalecida em um país?
Acho que o mais importante é acreditar nisso (futebol feminino), reparar os erros e aproveitar o que foi bem-feito no meio do futebol masculino. Acredito que o futebol feminino deve ser estimulado desde as escolas, o que serve como ferramenta de igualdade no país e que é uma vitrine dessa cultura de tolerância que tanto precisamos na sociedade.
Você vê com bons olhos a criação de um mundial de clubes para o futebol feminino?
Acho que sim. Seria dar a cada país um novo incentivo para disputar mais uma competição e seria uma vitrine fantástica no mundo.
Falando em Mundial, quais as suas expectativas para a Copa de 2023?
Acho que vai ser um show fascinante. O futebol mundial cresceu muito em pouco tempo e acho que veremos um futebol altamente desenvolvido, em um nível melhor do que a Copa do Mundo anterior, com certeza.
Falando das Rojiblancas, quais foram as principais dificuldades para a criação da equipe feminina do Atlético de Madrid?
A nível de clubes a verdade é que nenhuma. O Atlético de Madrid acredita neste projeto há 21 anos e graças a isso e ao respeito mútuo, alcançamos o sucesso e nos tornamos uma referência mundial. Anos atrás sentia falta do reconhecimento de instituições, patrocinadores etc, mas o trabalho nos colocou onde merecemos e isso se deve a muitas pessoas que acreditaram neste projeto em particular e no futebol feminino em geral. Neste momento, o futebol feminino é imparável, não é moda, e viemos para ficar.
Quais as diferenças na cultura do futebol feminino espanhol e brasileiro?
Sinceramente, não sei muito sobre a cultura do futebol feminino no Brasil, mas se eu pudesse colocar uma intenção nisso por amor, acho que as jogadoras merecem jogar e treinar onde a elite do futebol masculino também faz; ou pelo menos em bons campos, academias, infraestrutura, serviços extras esportivos como médicos, fisioterapeutas, psicólogos; isso tornaria o nível das jogadoras muito mais alto e, portanto, também o espetáculo e sua liga.
Qual a importância das mulheres ocuparem espaços no futebol?
Bem, não é apenas uma importância esportiva, mas também social. Acho que o futebol deve servir como ferramenta para mudar as culturas em alguns países. Se em países específicos, que não quero mencionar, o futebol feminino fosse mais normalizado, seria uma ajuda para a igualdade social. Acho que o que ele pode transmitir é tão poderoso, que poderíamos fazer um mundo melhor e dignificar as mulheres como elas merecem, sem diminuir o papel do homem em nossa sociedade.
Por fim, qual a sua opinião sobre o crescimento no número de competições e no aumento da premiação?
Bom, acho que é um reconhecimento da competição, da jogadora de futebol feminino e dos clubes que estão comprometidos com o futebol feminino. Qualquer investimento é reconfortante se for para o crescimento da comunidade do futebol feminino, mas realizar competições atraentes também é reconfortante. Então vamos continuar acreditando que tudo é possível, se continuar o apoio de todas as áreas, e por isso quero mostrar minha gratidão pela organização do torneio porque colocou o futebol feminino em um patamar mais alto no Brasil, tendo convidado uma equipe top da Europa.
Entrevista: Carolina Ribeiro, Kamila Padilha, Rayssa Rocha e Vic Monteiro
Texto: Mariana Alves