UM ANO SEM CLÁSSICO PRECISA NOS DAR A CHANCE DE APRENDER


Os últimos 4 clássicos entre Grêmio e Internacional foram marcados pelo além campo e lições precisam ser tiradas disso, antes que seja muito mais tarde

Foto: Ricardo Duarte/ SC Internacional

Uma guerra que parece infinita, um confronto que não começou ontem, mas que precisa encontrar uma data para acabar, antes que o choro da perda ultrapasse ainda mais os limites. 

Há muito já tem se estendido a corda do aceitável, tem se entrado porta adentro do tolerável e de qualquer limite, mãos de ambos os lados tem se impregnado de sangue dia sim e outro também. 

Sempre que uma torcida ou instituição erra, do outro lado alguém levanta o tom de voz, brada efusivamente, grita a plenos pulmões e grenaliza atitudes e ações que deveriam justamente estar o mais distante possível do melhor clássico do país. 

O clássico em si estende um ano sem ocorrer e neste período é necessário que as cristas sejam baixas de ambos os lados e que se enxergue a violência como um problema mais adverso do que o rival. 

A caça às bruxas que se estabelece a cada confronto para um lado ou para outro de nada adianta, não existem mocinhos ou bandidos, são TODOS ERRADOS. Mesmo que se busque historicamente, não há de achar o primeiro caso de violência, não há de se buscar o primeiro culpado porque de fato, este filho parido já possui muitas mães e pais. 

A rivalidade que se torna uma tentativa de justificativa tola e inconsequente já se tornou há muito tempo distanteda selvageria que ocorre a cada clássico, não é mais sobre o amor à camiseta ou ao clube em que se torce. 

O amor ao futebol e as cores que te movem precisam serem exaltados, serem cantados, serem evidenciados no grito, fazer dele sangue do adversário é distorcer a necessidade de se sentir melhor que o outro, mais forte, mais violento, mais “macho”, quando na verdade torna se somente mais imbecil. 

A violência que permeia e rodeia os estádios e gramados precisa ser repensada por TODOS, do torcedor que faz do seu estádio quintal de casa ao dirigente que berra e grenaliza ato A ou B a plenos pulmões aos microfones, a violência precisa deixar de ser alimentada também por quem tem voz na imprensa ou por quem dentro de campo perde os limites e as estribeiras quando não é capaz de ouvir uma corneta. 

A diferença de divisões entre Grêmio e Internacional faz com que tenhamos ainda agora um bom período para que TODOS, outra vez, enxerguem seus erros, que dentro ou fora de campo deixe de politizar a violência, de fazer dela placa de exaltação de um ou outro lado, todo mundo é prejudicado quando sangue é derramado. 

As pontas e arestas das camisas que vem sendo rasgadas precisam ser aparadas principalmente pelas instituições que possuem todas as medidas e tecnologias possíveis para identificar, dar nome, rosto e principalmente punição para o vandalismo. 

O ciclo precisa ser quebrado, das mãos que atingem vidros com pedradas, aos jornalistas identificados que vociferam aos microfones ameaças ao torcedor comum. 

O torcedor precisa ainda relembrar e entender que o peso e o orgulho de amar um clube, de fazer dele parte da vida é proporcional a responsabilidade de seus atos, que a primeira camiseta que o sangue respinga e mancha é justamente a que ele jura amar e honrar, a conta não fecha.

A gente precisa num todo ser mais consciente enquanto torcedor, mesmo aqueles que nunca se meteram em uma briga precisam ainda aproveitar a oportunidade para lembrar sobre a essência do futebol, sobre quem queremos ser hoje e amanhã enquanto vestimos as cores do nosso clube, a gente precisa recordar sobre qual elo a gente cria e alimenta com o clube do nosso coração e com aqueles que se cercam do mesmo sentimento. 

É preciso que os altos escalões se lembrem ainda da raiz de seus clubes, do que são feitos antes de qualquer coisa e de que precisam alimentar e proteger a construção do futuro dentro das arquibancadas, antes que a cegueira proposta pelo ego leve vidas e tire dos estádios quem é a motivação da existência de cada clube: o seu torcedor de hoje e o de amanhã.

Por Jéssica Salini

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


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