Os últimos 4 clássicos entre Grêmio e Internacional foram marcados pelo além campo e lições precisam ser tiradas disso, antes que seja muito mais tarde
Uma guerra que parece infinita, um confronto que não começou ontem, mas que precisa encontrar uma data para acabar, antes que o choro da perda ultrapasse ainda mais os limites.
Há muito já tem se estendido a corda do aceitável, tem se entrado porta adentro do tolerável e de qualquer limite, mãos de ambos os lados tem se impregnado de sangue dia sim e outro também.
Sempre que uma torcida ou instituição erra, do outro lado alguém levanta o tom de voz, brada efusivamente, grita a plenos pulmões e grenaliza atitudes e ações que deveriam justamente estar o mais distante possível do melhor clássico do país.
O clássico em si estende um ano sem ocorrer e neste período é necessário que as cristas sejam baixas de ambos os lados e que se enxergue a violência como um problema mais adverso do que o rival.
A caça às bruxas que se estabelece a cada confronto para um lado ou para outro de nada adianta, não existem mocinhos ou bandidos, são TODOS ERRADOS. Mesmo que se busque historicamente, não há de achar o primeiro caso de violência, não há de se buscar o primeiro culpado porque de fato, este filho parido já possui muitas mães e pais.
A rivalidade que se torna uma tentativa de justificativa tola e inconsequente já se tornou há muito tempo distanteda selvageria que ocorre a cada clássico, não é mais sobre o amor à camiseta ou ao clube em que se torce.
O amor ao futebol e as cores que te movem precisam serem exaltados, serem cantados, serem evidenciados no grito, fazer dele sangue do adversário é distorcer a necessidade de se sentir melhor que o outro, mais forte, mais violento, mais “macho”, quando na verdade torna se somente mais imbecil.
A violência que permeia e rodeia os estádios e gramados precisa ser repensada por TODOS, do torcedor que faz do seu estádio quintal de casa ao dirigente que berra e grenaliza ato A ou B a plenos pulmões aos microfones, a violência precisa deixar de ser alimentada também por quem tem voz na imprensa ou por quem dentro de campo perde os limites e as estribeiras quando não é capaz de ouvir uma corneta.
A diferença de divisões entre Grêmio e Internacional faz com que tenhamos ainda agora um bom período para que TODOS, outra vez, enxerguem seus erros, que dentro ou fora de campo deixe de politizar a violência, de fazer dela placa de exaltação de um ou outro lado, todo mundo é prejudicado quando sangue é derramado.
As pontas e arestas das camisas que vem sendo rasgadas precisam ser aparadas principalmente pelas instituições que possuem todas as medidas e tecnologias possíveis para identificar, dar nome, rosto e principalmente punição para o vandalismo.
O ciclo precisa ser quebrado, das mãos que atingem vidros com pedradas, aos jornalistas identificados que vociferam aos microfones ameaças ao torcedor comum.
O torcedor precisa ainda relembrar e entender que o peso e o orgulho de amar um clube, de fazer dele parte da vida é proporcional a responsabilidade de seus atos, que a primeira camiseta que o sangue respinga e mancha é justamente a que ele jura amar e honrar, a conta não fecha.
A gente precisa num todo ser mais consciente enquanto torcedor, mesmo aqueles que nunca se meteram em uma briga precisam ainda aproveitar a oportunidade para lembrar sobre a essência do futebol, sobre quem queremos ser hoje e amanhã enquanto vestimos as cores do nosso clube, a gente precisa recordar sobre qual elo a gente cria e alimenta com o clube do nosso coração e com aqueles que se cercam do mesmo sentimento.
É preciso que os altos escalões se lembrem ainda da raiz de seus clubes, do que são feitos antes de qualquer coisa e de que precisam alimentar e proteger a construção do futuro dentro das arquibancadas, antes que a cegueira proposta pelo ego leve vidas e tire dos estádios quem é a motivação da existência de cada clube: o seu torcedor de hoje e o de amanhã.
Por Jéssica Salini
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.