Nos termos do artigo 5° da Constituição Federal de 1988, é assegurado que:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
Já, pelo Código Penal Brasileiro é criminalizado ato que:
Art. 140- Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
§3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena – reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)
Vem escrito com todas as letras na constituição, vem criminalizado da mesma forma, clara e transparente no código penal, mas ainda assim, ainda que escrito, descrito, explicado e condenado, outra vez um “caso isolado”.
Nesta quarta-feira (05), o atleta do Sport Club Internacional Moisés, concedeu entrevista coletiva após a primeira partida pela Pré Libertadores, que ocorreu na terça-feira (04).
Foto: Ricardo Duarte
A entrevista foi transmitida, via live pelas redes sociais do clube. Durante a transmissão feita pela rede social Instagram, um fato triste, e que é caracterizado como crime ocorreu, enquanto a entrevista acontecia, a palavra “MACACO” começou a pipocar entre os comentários, também frases do mesmo cunho pejorativo foram proferidas contra o atleta colorado.
O direito de sermos vistos de forma igual, de não ser sermos segregados, menosprezados e ofendidos, foi derrubado, foi roubado, foi posto abaixo do preconceito racial.
Usou-se do futebol que é feito do povo, para o povo, que é feito de gente apaixonada, de gente sem cor, sem raça, sem credo, sem opção sexual como palanque, usou se de vestir a camiseta de outro clube como respaldo para agredir e ofender um atleta que antes das cores do Internacional, que estampa o uniforme, é de carne e osso, de pele, de sangue, e que não importa, não muda, não seleciona, não o faz melhor ou pior do que ninguém pela cor que carrega na pele.
Usou-se do que a gente ama e defende tão apaixonadamente para olhar o outro com a ignorância e falta de respeito.
Usou-se do futebol como ferramenta para transpor a boçalidade de um pensamento de quem considera-se acima de qualquer outro que não tenha o tom da pele, o cabelo ou as características físicas daquelas pré concebidas e ditadas por uma sociedade que carrega o preconceito no sangue.
Uma cultura que nasceu, que cresceu, que foi alimentada e que enraizou-se forte de preconceito, de imbecilidade, de boçalidade.
A internet já não é mais terra sem lei, os mesmos perfis que proferiram injúrias raciais e que escondiam-se atrás de “fakes”, de máscaras, de nomes, de “users” e @s, serão localizados, as medidas cabíveis de seu crime serão tomadas, o clube mesmo se pronunciou a respeito.
Mas ainda que estes sejam punidos como manda a lei, ainda que sejam encontrados e enquadrados na lei, até quando a gente vai seguir passando por isso? Até quando lei nenhuma vai impedir que o racismo fale em alto e bom tom? Até que dia a gente vai precisar bradar enquanto o preconceito fala livre e sem medo ?
O Sport Club Internacional, clube que carrega a alcunha de “Clube do Povo”, posicionou se de forma oficial a respeito do que houve, segue de forma integral:
“A discriminação é um mal que ainda nos assombra. Durante uma live da entrevista coletiva com Moisés, feita pelo nosso Instagram na tarde desta quarta, alguns criminosos publicaram comentários de cunho racista com relação ao nosso lateral.
O Inter repudia totalmente este tipo de comportamento e está tomando todas as medidas cabíveis.”
O Clube do Povo, ainda voltou a reforçar seu trabalho em combater todo e qualquer ato preconceituoso, para tal, com qualquer pessoa.
“Nosso engajamento é permanente em ações para coibir qualquer ato discriminatório. Um deles é o canal de denúncia ‘Estaremos Contigo’, que pode ser acessado pelo WhatsApp – número 51 98114-7779. Por meio dele, podem ser relatados atos discriminatórios e preconceituosos. Nós queremos te ouvir. Pode ter certeza que vamos agir!”
Em cinco de fevereiro de dois mil e vinte, registrou-se contra o Colorado e seus atletas no Rio Grande do Sul, mais um caso de racismo isolado.
De torcedora para torcedora, Jéssica Salini.
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna, não refletem, necessariamente, a opinião do Blog Mulheres em Campo.