Semifinalista nas Olimpíadas do Rio, em 2016, a Seleção Brasileira de Futebol Feminino vive um momento de transição e reformulação e dará seu primeiro passo nessa nova trilha
O primeiro grande desafio da Era Pia Sundhage acontece no próximo dia 21 de julho, às 05h da manhã (horário de Brasília), no Miyagi Stadium, longe de casa e do calor humano brasileiro.
Em sua primeira partida pelas Olimpíadas de Tokyo, a treinadora tem pela frente a China, equipe de nível intermediário, que tem como melhor campanha uma medalha de bronze em Atlanta 1996 e chegou até as quartas de final na última edição, disputada no Rio em 2016.
A treinadora sueca, hoje com 61 anos, assumiu em 2019 o desafio de comandar a Seleção Brasileira e unir seu DNA vencedor com o plano brasileiro de alçar vôos mais altos no futebol feminino e, quem sabe, conquistar o tão sonhado Ouro Olímpico. De lá para cá, Pia teve personalidade para implantar seu estilo de jogo, testar novas peças e desmamar alguns vícios.
Com 1 ano a mais de trabalho do que o esperado (pelo adiamento dos jogos devido a pandemia de COVID-19), o ciclo olímpico se encerra com cara de transição, mas muito otimismo. Já sem Cristiane, a maior artilheira da história dos Jogos Olímpicos, vemos diante dos nossos olhos a ascensão de novos nomes e a saída de foco do Trio de Ferro formado pela eterna camisa 11 ao lado de Marta e Formiga. Ainda que o ciclo não esteja completo, as Olimpíadas de Tokyo escreverão a primeira página de uma nova história.
A Seleção Feminina disputa em 2021 sua sétima Olimpíada e de lá para cá, ficou três vezes quarto lugar (1996, 2000, 2006), caiu uma vez nas quartas de final (2012) e colocou no peito duas medalhas de prata (2004 e 2008). A sorte, até aqui, tem sido generosa com a equipe que, na fase de grupos enfrentará a China, velha conhecida e adversário complicado, mas contra quem possui um placar favorável (5 vitórias, 5 empates e apenas 1 derrota); Holanda, contra quem venceu 3 dos 5 confrontos e empatou os outros dois; além da Zâmbia, adversário nunca antes encarado. Pelo corpo e preparo do time brasileiro, a expectativa é de que enfrente a fase de grupos com facilidade, podendo escolher o melhor caminho a seguir no mata-mata.
Em campo, Pia Sundhage terá 22 opções que conhece bem. São elas, as goleiras Bárbara, Lelê e Aline Reis; defensoras Tamires, Erika, Rafaelle, Jucinara, Poliana, Leticia Santos e Bruna Benites; meio-campistas Marta, Formiga, Andressinha, Julia Bianchi, Andressa Alves, Duda, Angelina e Debinha; e no ataque Ludmila, Bia Zaneratto, Gio Queiroz, Ludmila e Geyse. A lista, inicialmente formada por 18 nomes, teve o acréscimo das 4 suplentes (Leticia Santos, Aline Reis, Andressa Alves e Gio Queiroz) por pedido das Seleções. Além delas, Angelina foi incluída na lista final após Adriana, inicialmente convocada, lesionar o joelho durante os primeiros dias de treinamento, em Portland, nos Estados Unidos.
Com o time completo, Pia e sua comissão técnica usaram o tempo de adaptação nos Estados Unidos e os dias de trabalho já no Japão para ajuste de detalhes. Sem muitas surpresas nos nomes convocados, a treinadora terá um time coeso e coerente com o trabalho realizado desde sua chegada e, até aqui, demonstrou estar segura e confiante do que quer, mas principalmente do que não quer.
Diante das chinesas, as adversárias mais fortes do grupo (se pensarmos em retrospecto) o Brasil deve apostar nas suas principais fichas, tanto por segurança, quanto para sentir o clima. Espera-se que as 11 titulares escolhidas sejam: Barbara; Rafaelle, Erika, Tamires, Bruna Benites; Andressinha, Formiga, Marta, Debinha; Ludmila e Bia Zaneratto.
O clima nos bastidores é o melhor possível e contará muito para a motivação das atletas. Com a evolução da comunicação da CBF com jornalistas e torcedores, todos os dias é possível conferir conteúdos exclusivos de bastidores nas redes sociais da Seleção Feminina, que faz essa ponte entre as jogadoras e quem está do lado de fora do campo. Se as brasileiras já tinham antes muita identificação e proximidade com a torcida, algo bem característico e natural do futebol feminino, Tokyo 2020 apertou ainda mais esses laços e firma diariamente o compromisso da torcida apaixonada com suas ídolas.
Entre queixas, elogios, erros, acertos e apostas, a equipe que entra em campo para enfrentar a China é a melhor e mais coerente possível. Não é possível afirmar qualquer coisa além de que é um time bem preparado e que dará o seu melhor em campo. Quais serão os resultados disso, só o tempo dirá, e talvez demore mais do que os 15 dias de Jogos Olímpicos. O fato é que Pia veio para mudar o jeito de se encarar o futebol feminino no Brasil e está só no começo de um trabalho que, inevitavelmente, será brilhante.
Por Vic Monteiro, colunista da Seleção Brasileira Feminina no Portal Mulheres em Campo
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo