Cria, mas não conclui: América desperdiça e volta pra casa sem os 3 pontos


Coelho pressiona, perde chances claras e repete roteiro de frustração fora de casa, desta vez contra o Coritiba

O América até teve volume de jogo e criou boas oportunidades, mas voltou a esbarrar na própria ineficiência ofensiva. Na noite desta segunda-feira (19), o Coelho foi derrotado por 1 a 0 pelo Coritiba, no Couto Pereira, em duelo válido pela oitava rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. Com o resultado, a equipe de William Batista segue sem vencer fora de casa na competição e, pior, já acumula quatro derrotas consecutivas como visitante. Para um time que almeja o acesso, os pontos desperdiçados longe do Independência vêm pesando — e a paciência da torcida também.

Para o confronto no Couto Pereira, o técnico William Batista mandou a campo o América com: Matheus Mendes no gol; Júlio César, Ricardo Silva, Lucão e Paulinho na defesa; Cauan Barros, Kauã Diniz e Jhosefer no meio-campo; com Figueiredo, Stênio e William Bigode no comando de ataque. A expectativa era de um time mais ajustado defensivamente e com maior mobilidade ofensiva, mas o que se viu em campo foi mais uma repetição do roteiro que o torcedor já conhece de cor: pouca efetividade nas conclusões e um castigo na primeira chance real do adversário.

O primeiro tempo até começou com o América tentando se impor. Logo aos 2 minutos, William Bigode desperdiçou uma chance claríssima de cabeça, mandando pra fora em frente ao gol. Aos 11′, Figueiredo apareceu bem em jogada pela direita e levou perigo, e aos 18′, foi a vez de Jhosefer finalizar com força e obrigar o goleiro adversário a fazer uma grande defesa. No entanto, o bom início não durou. Aos 22 minutos, após falha defensiva e rebote dentro da área, o Coritiba abriu o placar e esfriou completamente o ímpeto americano. Daí em diante, o Coelho se perdeu em campo. A única chegada de algum destaque veio aos 45 minutos, quando Figueiredo arriscou de longe — sem sucesso. O time parecia travado, repetindo o roteiro de outras atuações ruins longe de casa.

Foto: Matheus Meneses/América

Na etapa final, o América voltou com uma postura um pouco mais agressiva, ocupando o campo de ataque e buscando o empate com mais intensidade — mas, como de costume, faltou capricho. Aos 16 minutos, Stênio desperdiçou uma boa oportunidade ao finalizar mal. Logo em seguida, aos 17′, Marlon apareceu com liberdade e bateu firme, mas novamente parou nas mãos do goleiro adversário. Aos 19′, Figueiredo — que insistiu o jogo inteiro — criou mais uma jogada promissora, mas a bola teimava em não entrar. A pressão final nos acréscimos, que chegaram a seis minutos, gerou volume, mas não efetividade. Desta vez, os maiores destaques ficaram por conta de Jhosefer, que entrou com vontade, mostrou entrega e tentou acelerar o jogo, e do próprio Figueiredo, que mesmo tendo perdido uma dezena de oportunidades, foi quem mais apareceu no terço final do campo. Faltou coletividade, sobrou desespero — e mais uma vez, o gol não veio.

Quanto ao técnico William Batista, eu, que estive entre os que mais o defenderam desde sua chegada, hoje me vejo obrigada a fazer críticas. E não apenas pelo desempenho em campo — ou pela ausência dele nos momentos decisivos —, mas especialmente pelas entrevistas recentes. As coletivas têm soado repetitivas, quase protocoladas: elogios à diretoria, insistência em dizer que o time jogou melhor, mas que o resultado não veio. Mas se futebol vivesse de gratidão e boas intenções, estaria tudo certo. Não está. Desde o início do ano, vendem ao torcedor que o foco é o acesso, mas a realidade que se apresenta é outra: o América, neste momento, está mais perto da zona de rebaixamento do que do G4. O discurso otimista começa a soar desconectado da realidade — e o torcedor, que sempre acreditou, começa a se cansar.

E falando em diretoria, a vida do torcedor americano consegue piorar sempre que o digníssimo presidente Alencar da Silveira Júnior resolve abrir a boca. A cada nova declaração, cresce o sentimento de revolta em quem acompanha o clube de verdade. Em vez de assumir responsabilidades, o presidente segue em sua cruzada de discursos sobre o aumento da dívida, as dificuldades financeiras e até a possibilidade de atraso nos salários — tudo isso enquanto joga no colo do torcedor a culpa pelos problemas financeiros do América. Desde o início do ano, virou prática divulgar o público presente nos jogos como se fosse esse o grande vilão do faturamento. Mas a gente sabe que o buraco é bem mais embaixo. Colocar a culpa na torcida é como alguém estourar o orçamento comprando supérfluos e depois culpar o café de todo dia pelos problemas no fim do mês. O problema não é o cafezinho — é a péssima gestão de quem faz as contas. Presidente, pare de responder torcedor em rede social, pare de justificar o injustificável e comece, de fato, a trabalhar. Se possível, em silêncio. Porque, do jeito que está, o risco de transformar um ano ruim em uma tragédia histórica é mais que real — e o senhor sabe disso melhor do que ninguém.

E achou que só isso já não era tragédia suficiente? Pois é. Como se não bastassem os tropeços em campo e o caos nos bastidores, o América-MG ainda precisou lidar nesta semana com uma notícia que escancara o tamanho da crise: o meia Miguelito foi suspenso por cinco jogos pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) após ser condenado por injúria racial contra o atacante Allano, do Operário. A decisão, que dividiu os votos da Primeira Comissão Disciplinar, foi divulgada na última segunda-feira (20) e causou forte repercussão entre os torcedores. Segundo matéria da CNN Brasil, o clube já anunciou que pretende recorrer e solicitar efeito suspensivo, mas o fato é que o episódio, que já havia paralisado uma partida, agora ganha contornos jurídicos ainda mais delicados — e o América coleciona mais um capítulo preocupante dentro e fora de campo.

O América volta a campo na próxima terça-feira (27), às 19h, para enfrentar o Atlético Goianiense, fora de casa, pela nona rodada da Série B. O adversário está atualmente duas posições acima do Coelho na tabela, o que torna o confronto ainda mais crucial para evitar o distanciamento em relação ao pelotão de cima. Diante de quatro derrotas como visitante, crise institucional e desfalques importantes, o time de William Batista precisa urgentemente dar respostas dentro de campo. Se o acesso segue sendo a meta — como tanto se repete nas entrevistas —, é melhor começar a construir esse caminho com bola na rede, porque no discurso, o torcedor já está no limite.

Por Laura Assis Ferreira

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


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