Jogar como um time, empatar como uma família


Gurias Coloradas saem na frente, mas deixam as Mosqueteiras empatarem em Novo Hamburgo

A noite desta segunda-feira (28) foi embalada por um Gre-Nal daqueles que dão gosto de assistir. Dois times fortes, aguerridos e bravos disputando a vitória de maneira equilibrada nos gramados do Estádio do Vale, em Novo Hamburgo. No final das contas, o placar mostrando o 2×2 saiu justo para os dois lados – mesmo que os pontos que escaparam sejam tão caros para o time do Internacional. O empate deixa as Gurias com 3 pontos, sem se mover na tabela, enquanto as Mosqueteiras chegam aos 7 pontos e se mantém no décimo segundo lugar, dando continuidade ao trio gaúcho – Grêmio, Juventude e Internacional, em ordem – coladinho no Z2.

(Duda Fortes/GZH)

Mesmo com o empate um tanto amargo por conta do primeiro tempo brilhante que o Inter fez, essa é a primeira vez que eu posso chamar o time de brilhante em sete jogos, então tivemos progresso. Eu estou exausta de conseguir qualquer vantagem e levar o empate ou a virada no final e me é muito difícil acreditar que Maurício Salgado seja a solução para os nossos problemas, contudo, as charruas fardadas de vermelho e branco me obrigam a acreditar.

Vendo o retrospecto de partidas apáticas que o Inter disputou esse ano, quando eu iria imaginar que estaria comemorando um gol em cima do nosso maior rival antes mesmo dos dois minutos? Eu não imaginaria, mas hoje, isso aconteceu. Em um dos primeiros movimentos de bola do primeiro tempo, a atacante Julieta Morales surgiu na área do Grêmio sendo apertada por três defensoras imortais – que acabaram morrendo um pouco rápido demais. Sem ter como prosseguir com a jogada, forçou a tabela com uma das adversárias e liberou para que Belén Aquino contornasse as jogadoras, ameaçasse uma pedalada e chapasse a bola direto no fundo da meta defendida por Raíssa. 

A uruguaia saiu correndo para comemorar com as colegas do banco, mas não sem antes empunhar a camisa 10 de Julia Bianchi e erguê-la em homenagem a ela. O Internacional veio por meio de uma nota oficial comunicar que a volante sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior (LCA) no último compromisso contra a Ferroviária e que estará afastada realizando o tratamento fisioterápico pré-cirúrgico junto ao departamento médico e de fisioterapia do clube.  Sem surpresas, como quando alguém de nossa família está passando por problemas, as Coloradas jogaram pela sua guerreira machucada neste Gre-Nal.

Depois da euforia do placar aberto, pudemos perceber as motivações de David da Silva – técnico interino até que Maurício Salgado assuma – na hora de escolher entrar em campo com uma linha de três zagueiras. Bruna Benites, Fefa Lacoste e Gi Santos tinham o trabalho de segurar o ataque intenso e físico do Grêmio, que foi comandado pela meio-campista Camila Pini e a ponta-direita Maria Dias. Tarefa difícil que fez com que muitas vezes a bola fosse perdida no entrelace de pernas da defesa com o ataque. Bruna Benites, em especial, teve muita dificuldade de driblar e dominar quando conseguia um turnover, simplesmente se livrando da bola pela linha de lado como dava. Contando que ela está voltando de lesão, até que tudo bem.

Enquanto o Grêmio tentava criar contra-ataques e roubar espaço do jogo do Colorado, as Gurias se mantinham absolutas tentando ampliar o placar. Aos 12′, Julieta arriscou de fora da área e mandou uma bomba direto no travessão. De pé em pé, porém com bastante pressa, o Inter se doava por inteiro até a última gota de suor para que as aproximações se mantivessem apenas em seu campo de defesa. Isso até deu certo, visto que o Grêmio simplesmente não conseguia atravessar a barreira da zaga para invadir a área. Uma pena que não só de bola rolando se faz um jogo.

Físico, como só um Gre-Nal sabe ser, este tipo de jogo rende muitas faltas e alguns cartões. Perto dos 20 minutos, a árbitra Edina Alves concedeu uma falta claríssima ao Grêmio do lado esquerdo da área colorada. Camila Pini bateu com efeito como se estivesse sacando em uma partida de tênis de mesa e enganou a goleira Mayara, que saiu errado, completamente adiantada, e entregou o desvio que fez a bola entrar e empatar o jogo. 

Diferente de todas as outras vezes em que tomamos um empate, o time mal sentiu. Foi como se o gol tricolor fosse apenas um detalhe no jogo magnífico que aquela família estava fazendo. De olhos atentos e cabeça erguida – muito diferente de como agiam nos jogos comandados por Barcellos -, o Inter não aceitou o empate e continuou trabalhando da mesma forma para que o segundo gol saísse. A regra era se esforçar à exaustão para fazer virar a chave.

Devolvendo o gol com início de um levantamento do lado esquerdo, porém sem precisar de uma bola parada, Rafa Mineira deu sua única contribuição no jogo. A camisa 77 – que tem muitos problemas para driblar, dominar, passar ou finalizar – cruzou a bola em profundidade direito para Julieta Morales, que mandou a pelota para o gol de Raíssa. Não teve como: esse foi o jogo das uruguaias!

O jogo seguiu intenso até os 48 minutos, deixando claro que o domínio colorado seguiria até o apito soar anunciando o intervalo. Daniela Montoya conseguia ter mais espaço no nosso meio de campo, se desvencilhando da marcação, porém não tinha ninguém a acompanhando para seguir a jogada quando não era mais possível manter a bola nos pés. O mesmo acontecia do outro lado com Belén Aquino, que levava a jogada até a área, mas perdia o domínio com três defensoras em sua cola e não tinha uma companheira para aproveitar a sobra. Nesse chove e não molha, Edina acabou o primeiro tempo.

Então, veio a segunda etapa e com ela todo o cansaço que as Gurias Coloradas reuniram na primeira parte do jogo. Com um elenco muito menos extenso que o tricolor, foi impossível não baixar a intensidade no decorrer da partida. O Grêmio promoveu trocas que só renovaram e descansaram o seu jogo, enquanto o Inter teve perdas, ao decorrer dos 45 minutos, na lateral esquerda, com a entrada de Eskerdinha e uma troca na ideia de jogar com três zagueiras e duas alas, promovendo a entrada da, também lateral, Lorrayne para a saída da ponta da base, Myka. 

Tentando se manter ativas, logo aos 2 minutos, Marzia já tentou uma bucha de fora da área depois de uma troca de passes controlada e bem executada. Depois disso, todas as sobras eram tricolores e precisamos contar com o travessão para parar a recém entrada Gisele, logo aos 8 minutos, e Pini, que sabia que estava perto de marcar seu segundo. Notando isso, Thaissan Passos aumentou seu poder ofensivo deixando que Bia Santos e Yamila Rodrigues, grande nome deste jogo, entrassem em campo.

A resposta do Inter foi tirar a, já cansada, Julieta Morales para que sua conterrânea Clara Guell pudesse entrar. Clara é uma atacante uruguaia de 18 anos que, desde o jogo contra o Cruzeiro, tem mostrado que sabe o peso da camisa vermelha que veste para entrar do banco. Entrou muito bem contra as Cabulosas e contra a Ferrinha e isso não seria diferente hoje. Entre seus lances de destaque, tivemos uma jogada individual pela ponta que acabou em uma finalização mascada. O outro destaque foi um erro um tanto forte, quando tentou aproveitar um passe para trás horroroso de uma das atacantes do Grêmio e saiu praticamente sozinha em frente à goleira Raíssa. Ao invés de manter a jogada fluída, parou para pensar no que fazer e perdeu a bola. Uma bronca desnecessariamente intensa veio da casamata do Inter, o que afetou a jogadora até o final da partida. 

Com tantas chances desperdiçadas e as jogadoras se arrastando em campo por conta do cansaço, era só questão de tempo até que o empate saísse. Então, aos 35 minutos, Raíssa Bahia cruzou para dentro da área e Camila Pini conseguiu se desvencilhar de Fefa Lacoste e cabecear a bola para dentro. Tainá, jogadora que estava sentada em nosso banco, poderia ter agarrado essa finalização, mas ela foi demais para Mayara, que nada pôde fazer para evitar o 2×2.

O Inter até que tentou, mas nem os cinco minutos de acréscimos foram o suficiente para que as chegadas cansadas fossem mortais. Do outro lado, as Mosqueteiras também insistiram, mas mandaram muitas bolas para fora ou morreram nos pés desajeitados da capitã Bruna Benites. Um Gre-Nal a cara do empate, realmente terminou empatado.

(Lara Vantzen/Internacional)

Depois do apito final, Clara Guell saiu em prantos de campo, precisando ser acudida pela equipe técnica e por algumas companheiras, uma delas sendo a goleira reserva Bárbara. Clara chorou pelo esporro desmedido que levou, mas também chorou pelos erros e pelos três pontos que escaparam pelos dedos. Clara chorou e foi confortada pela família que a adotou a quilômetros de distância de sua terra natal. Família essa que jogou junto, marcou junto, sofreu junto e empatou junto. Tá tudo bem errar, Clara. Nós te entendemos. Não se cobre além do necessário e não deixe que façam isso contigo. Sinto que viveremos coisas importantes juntas, então não se deixe abater. As coisas já estão melhorando.

O jogo de hoje não teve o resultado que esperávamos, afinal, merecemos muito a vitória na primeira metade. Contudo, esses 90 minutos nos mostraram o que mais queríamos: um Inter ativo, lutando e se protegendo como uma família faz. Todas jogando por todas e todas jogando pela torcida, como um time com mentalidade vencedora e coletiva faz. Poucas coisas me deixam mais feliz do que comemorar um gol da baixinha charrua, peleadora y colorada, Belén Aquino, porém vê-la abrir mão de uma comemoração para homenagear Julia Bianchi me lembrou do porquê eu me apaixonei por este time: o Inter, além do nosso time, é o nosso melhor amigo e elas sabem bem disso. 

Por Luiza Corrêa

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo


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