O futebol não é justo, mas a árbitra é 


Com atuação pífia da arbitragem, Juventude sofre revés do Flamengo fora de casa

Na noite deste sábado (26), as Gurias Jaconeras foram até o Estádio Luso Brasileiro, na Ilha do Governador, para enfrentar as Malvadonas do Flamengo e foram superadas por 2 a 0.

Apesar dos dois gols do rubro-negro, o que mais chamou a atenção foi a atuação confusa, frouxa e anti-jogo da árbitra Charly Wendy Straub – que decidiu errar e atrapalhar os dois lados para que ninguém saísse magoado. Sem critério nenhum do que era ou não falta e se colocando na frente de atletas de ambos os times em momentos de trocas de passe, a juíza decidiu que a injustiça seria o justo nesta noite de Brasileirão A1. 

Nathan Bizotto/ECJ

O jogo começou um pesadelo total. Tudo de bom que o Juventude sabia fazer conectando as zonas táticas de maneira fluída e gostosa de se assistir se tornou balões saídos da defesa direto para o ataque, sem qualquer interferência ou ajuda do meio. Muitas vezes, Bruna Emília lançava direto para as mãos da goleira Vivi, ex-Grêmio, matando qualquer chance de construção para as visitantes. 

Por conta disso, o jogo começou pegando fogo para o lado do Flamengo, que mandava e desmandava, fazendo a linha de quatro defensoras do Ju de gato e sapato. A nova titular na lateral direita rubro-negra, Monalisa, enfiou boas bolas para as atacantes desde o início e absolutamente todas as finalizações passavam pelos pés da camisa 10, Glaucia. Se houvesse um Cartola FC do campeonato feminino – aliás, vamos trabalhar nisso, GE? -, mesmo sofrendo dois gols, a goleira Renata teria pontuado muito bem. Com uma defesa completamente omissa no início da partida, a defensora das metas jaconeras precisou trabalhar muito para evitar o inevitável.

Porém, logo aos 9 minutos, a camisa 2 carioca provou que o Flamengo sabe se aproveitar de posse de bola e chutou cruzado em direção ao gol. A bola que poderia ter resvalado para fora acabou esbarrando na zagueira Bruna Emília e tirou Renata da jogada. Antes dos 10 minutos, o Juventude já estava atrás e não parecia que iria acordar com aquilo. 

A saída de bola do Ju só parecia piorar ao decorrer do jogo, deixando que o Flamengo se aproveitasse disso para criar mais jogadas. O setor defensivo das visitantes estava tomado de jogadoras do time carioca que trocavam passes livremente, com tempo para pensar e criar táticas na hora de finalizar. Se Glaucia não tivesse tomado tantas decisões equivocadas no último chute, com certeza o marcador teria mostrado um resultado bem mais elástico. 

Assim como no jogo do time masculino, a defesa jaconera cedeu tantos escanteios que é possível que a camisa 10 das donas da casa tenha precisado fazer gelo em sua perna direita depois de tantas cobranças. Contudo, buscando diminuir o conforto das donas da casa, a camisa 9, Kamile Loirão decidiu marcar mais em cima a saída de bola do Flamengo, esperando por erros da goleira Vivi Holzel. Mostrando que muda as laterais, muda a casamata, mas algumas coisas seguem iguais, as Malvadonas sentiram a pressão e acabaram baixando a produtividade. 

O final do primeiro tempo veio e uma entrevista bem lúcida da zagueira Rayane Pires mostrou que elas tinham consciência de que estavam atuando abaixo e esperavam vir com uma atitude ainda mais agressiva para a segunda parte do jogo. Ambas as equipes voltaram a campo sem mudanças nas suas 11 iniciais, contudo, as atuações quase que se inverteram nos primeiros minutos.

A marcação pesada do Juventude seguiu surtindo efeito. Muito mais agressivas do que defensivas, as Gurias Jaconeras conseguiam trabalhar passes mais fluídos e interessantes – que faziam jus ao gramado muito bem cuidado e que com certeza, agora, teria o selo de aprovação Tamires Cássia. Contudo, algumas bolas perdidas seguiam sendo lançadas da área de defesa direto para os braços de Vivi. 

Antes dos 10 minutos, Cristiane já tinha sido parada algumas vezes, tanto por Rayane, quanto por Renata. Aliás, a camisa 11 mal cometeu a infração de impedimento nesta partida e eu considero isso muito perigoso para os demais times do Brasileirão. Mesmo assim, a defesa seguia marcando firma e não deixando que as atacantes do Mais Querido se sentissem confortáveis em seu ofício. 

Nathan Bizotto/ECJ

O jogo seria muito mais bonito de se assistir se a senhora Charly Wendy não estivesse tão preocupada em se colocar na frente das jogadoras em momentos de passe. Só no início do primeiro tempo ela impediu a aproximação de Eduarda Tosti, do Juventude, quase na área das adversárias, e da volante Djeni Becker, do Flamengo, na hora de tentar uma interceptação. Aos poucos, o jogo equilibrado foi se transformando em um jogo feio, de passes quebrados e jogadas inconsistentes para os dois lados. Apesar disso, o Ju ainda se colocava mais próximo de empatar do que o Mengo de ampliar. 

Em uma chegada mais forte do Flamengo, Renata precisou evitar que a bola passasse pelo meio de suas pernas, salvando Glaucia de finalmente marcar o seu. Do outro lado, Juventude chegou firme e rápido, obrigando a lateral esquerda, Jucianara, voltar para marcar totalmente perdida e tirar uma bola que passou muito perto de virar um gol contra. Nesta hora, o jogo estava horroroso de se assistir com direito a um momento muito constrangedor em que três jogadoras do Flamengo brincaram de bobinho com a meio-campista Dani Venturini, tabelando entre elas e se recusando em abrir a jogada com Glaucia, que esperava por um passe bem perto da área do Ju. 

Aos 19 minutos, Jaielly acionou Teté em um lançamento que deixaria a atacante livre na frente do gol, mesmo sendo seguida por três defensoras do Flamengo. Uma delas, a autora do primeiro gol das donas da casa, Monalisa, entrou fortemente por baixo na camisa 11 do Ju. Ainda com Teté no chão, a árbitra foi rápida em puxar o cartão amarelo e punir a lateral direita. Só que, até onde eu sei, o fato de Jucianara estar acompanhando a jogada por trás, fazia com que a camisa 2 do Mengo fosse a última mulher entre Teté e a goleira Vivi. Segundo o livro de regras, “impedir um gol ou uma clara oportunidade de gol de um adversário que se dirige à meta do infrator por meio de uma infração punível com um tiro livre” é passível de expulsão. O que não aconteceu. 

Questionada pela repórter de campo da TV Brasil, rede de televisão pública que transmitiu a partida, do porquê o cartão vermelho não havia sido a punição escolhida, a quarta árbitra explicou que a regra só é aplicada quando os “4 Ds” estão completamente configurados. Os “4 Ds” se referem à distância mínima da meta, quantidade máxima de defensores (1), direção do ataque e domínio da bola por conta do atacante. Segundo a arbitragem, Teté não tinha completo controle da bola na hora que foi atingida pela rasteira de Monalisa, logo a defensora rubro-negra não deveria ser expulsa. Estranho que a bola estava muito bem dominada e só fugiu do curso da jogada em andamento quando a camisa 11 foi derrubada pela adversário, mas tudo bem, jogo que segue. 

A cobrança da falta sofrida pela ponta Teté ficou na responsabilidade de Carol Lagada – que entrou no lugar Karol Loirão, substituida por um desconforto na coxa – e a centroavante mandou para fora. Logo depois, a lateral direita Grazi tentou uma jogada improvisada pela esquerda, lançando na área para Duda Tosti, que finalizou bem no cantinho para a defesa da goleira rubro-negra. 

A pressão jaconera continuava tirando suor das jogadoras do Flamengo quando Vivi saiu completamente errado e chutou a bola diretamente para Jaielly. A atacante tentou finalizar, mas a zagueira Flávia não deixou que o empate se concretizasse. Mesmo assim, como bem diz o ditado: quem não faz, toma. 

Aos 33 minutos, o rebote de uma finalização que atingiu a barreira jaconera voltou nos pés da camisa 10 do Flamengo. Com muito pouco tempo para pensar, Glaucia tomou sua primeira decisão lúcida da partida. Ajeitando de um pé para o outro, a atacante meteu um torpedo bem onde a coruja costumava dormir – e digo costumava porque com a bucha disparada por Glaucia, a pobre da coruja morreu. Perder jogando melhor é muito ruim, mas perder jogando melhor e com um golaço indefensável desses é muito pior. 

No final das contas, não adianta abrir com um primeiro tempo apático e fechar jogando como nunca, porém perdendo como sempre. As mudanças tardias do professor Luciano Brandalise e a insistência em bancar jogadoras sanguíneas e inteligentes que poderiam ajudar no meio de campo em partidas que as zonas não estão conseguindo se conectar custam pontos importantes. 

Não se pode culpar a árbitra pela derrota, afinal Charly Wendy foi bem justa e fez os dois times viverem um inferno com seu pulso leve e desconhecimento de qualquer critério do que é uma falta ou de quando aplicar cartões. Contudo, a arbitragem dificultou para que o jogo fosse o que qualquer embate da elite é: um espetáculo digno de TV aberta. O jogo aconteceu APESAR das ações da árbitra e suas bandeirinhas que desenharam linhas de impedimento subjetivas. 

É preciso que a CBF pare de aumentar salários de maneira exagerada – e semelhante a uma propina – e comece a investir em seus campeonatos. Como assim, por falta de um chip na bola, um sensor nas traves e um óculos para o árbitro de vídeo, o time masculino do Fortaleza deixou que os 3 pontos adquiridos na Ilha do Retiro virassem 3? Como assim, por falta de um VAR na elite do futebol feminino, Monalisa se manteve em campo por mais minutos após uma infração para cartão vermelho? Como assim, em 2025, o público ainda chora para que uma das confederações de futebol mais ricas do mundo abra o bolso e coloque o impedimento semi-automático nos campeonatos nacionais?

Mas, é o que dizem: o futebol não é justo. 

Por Luiza Corrêa

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo


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