Um pouco de senso ou uma escalação misteriosa?


Gurias Coloradas tentam a primeira vitória no Brasileirão diante do atual vice-líder do campeonato

Na tarde desta quinta-feira (17), às 16h, o Internacional recebe o Cruzeiro em casa para disputar a quinta rodada do Campeonato Brasileiro. Por conta da punição que o Colorado sofreu pela suspeita de ato de racismo vindo da sua torcida no jogo contra o Sport, o embate com as Cabulosas está marcado para acontecer no Estádio dos Eucaliptos, em Santa Cruz do Sul. 

Lara Vantzen

No entanto, a investigação chegou à conclusão que o ato cometido pela ex-jogadora da base do Inter não se encaixa em ato de racismo, mas, sim, no artigo 37 da lei de contravenções penais, que engloba a prática de arremesso de objetos. A discussão se dá pois o vídeo recuperado do ato mostra que o objeto arremessado foi um copo de plástico que tinha dentro a casca de banana que as meninas haviam comido de lanche durante o jogo. A partir disso, o clube esperava ser liberado para atuar no Sesc Protásio Alves, em Porto Alegre, ainda de portões fechados, mas segundo as redes sociais das Gurias, tudo segue em Santa Cruz do Sul. A partida passará na rede aberta pela TV Brasil, rede pública de televisão do conglomerado de comunicação do governo.

Apesar de não estar dentro da zona de rebaixamento, o Internacional vem apresentando um futebol e uma desorganização que parecem se encaminhar para o Z2. Em quatro rodadas disputadas, as Gurias Coloradas só conseguiram angariar dois pontos advindos de empates com o Sport, onde começaram ganhando por 2×0 e deixaram as Leoas empatar em dois erros da defesa, e com o Fluminense, em um jogo sem gols. A temporada vem se desenrolando bem diferente das expectativas da torcida quando conhecemos os nomes dos reforços que chegaram em janeiro. 

O fator principal dessa performance abaixo das meninas precisa ser comentado até que a direção resolva olhar para o problema. O treinador Jorge Barcellos vem se mostrando inapto a comandar um time de futebol que deveria estar na prateleira de cima do Campeonato Brasileiro. A falta de constância em suas decisões é tão grande que o professor só manteve duas jogadoras titulares nos quatro jogos disputados até agora. A meio-campista Marzia – às vezes usada na lateral ou onde der na telha dele – e a volante e capitã Julia Bianchi parecem ser as únicas certezas de Barcellos. A falta de direcionamento por parte dele é tão grande que ele optou por começar o jogo contra as Guerreiras do Fluzão com Belén Aquino no banco. A ponta já passou por todas as zonas de ataque, assumindo o papel de falsa 9 e de centroavante e nada parece convencê-lo de deixá-la jogar pelos lados. Uma tragédia.

E tudo fica pior quando lembramos que do outro lado temos o naipe do Cruzeiro que mais tem dado resultados à SAF até agora. Na tentativa de reunir um time simples, porém competitivo, Jonas Urias montou uma máquina de jogar futebol. São 10 pontos em 12 disputados, fora o baile que deram em times como Grêmio e Juventude, co-irmãos gaúchos que parecem estar em momentos muito melhores do que o das Coloradas. 

É quase impossível pensar em algo de bom saindo do encontro da, agora capitã das Cabulosas, Isa Haas, com o seu antigo time. O que se pode prever é um Cruzeiro agressivo e dominante, com posse de bola e trabalho contínuo com passes certeiros e um Internacional perdido em campo com direcionamentos vazios e quase nenhum entrosamento, esperando pela chance de um contra-ataque. 

O Inter vai jogar pelo erro das visitantes, isso é claro. Não existe um mundo onde as Gurias teriam como ditar o jogo, mesmo dentro de sua casa. Nem se fosse em um Beira-Rio lotado puxando Camisa Vermelha ininterruptamente pelos 90 minutos de jogo, não seria possível. Contudo, temos boas goleiras e jogadoras interessantes em todas as posições. Se Jorge Barcelos souber respeitar as habilidades e características de suas comandadas, algo minimamente positivo pode sair desse jogo. Difícil, porém não são só os números que entram em campo. Quem sabe Julia Bianchi acorde em um dia iluminado e cometa o crime de marcar um hat-trick honrando a mesma camisa 10 que Alan Patrick usa no time masculino? Quem sabe elas tenham se inspirado no último jogo entre Inter e Cruzeiro na Série A e decidam fazer igual? Improvável? Demais, mas nada é impossível. 

Lara Vantzen

Impossível, no entanto, é prever o time que entrará em campo como titular nesta quinta-feira. Mesmo que haja um consenso de quem deveria ocupar este lugar, Jorge Barcellos parece tirar na roleta qual será sua formação inicial. O que parece que vai acontecer, segundo apurações e levando em consideração a última formação, é: Mayara; Ketlin, Fefa Lacoste, Gi Santos e Eskerdinha (Katrine); Marzia, Jordana e Julia Bianchi; Myka (Belén Aquino), Julieta Morales (Paola) e Anny Marabá.

Sim, essa escalação é uma bagunça. Não existe um mundo em que, nesse momento, May dispute posição com a titularíssima Tainá em um jogo com um time que ataca tanto e toca tanta bola na entrada da área. Precisamos de uma jogadora que saiba sair da meta defendendo as nossas redes e essa é a goleira carioca. 

Bruna Benites segue indisponível por conta de lesão, então faz sentido que estejamos experimentando na zaga. A pergunta é: por que não dar uma chance para Letícia Debiasi para que ela faça dupla com Fefa Lacoste, tendo em vista que a uruguaia e, sua atual dupla, Gi Santos, gostam de jogar pelo mesmo lado? Ainda é importante perguntar por que ele não está dando continuidade ao seu maior – e único – acerto até agora. Por que usar Capelinha na zaga em um jogo, ver dar certo, e no mesmo jogo adianta-la novamente para entregar dois gols ao adversário?

Ainda na defesa, preciso dizer que me incomoda extremamente termos Katrine no banco para que Eskerdinha, jogadora que voltou ao Inter após uma temporada completamente esquecível no Palmeiras, esteja em campo. No que interessa bancar uma das melhores cobradoras de falta e mais habilidosas jogadoras em nosso plantel por uma atleta que sobe para tentar fazer alguma coisa no ataque e nunca mais volta para marcar? Não existe uma característica no Super Trunfo de jogadoras que Eskerdinha tenha acima de Katrine. Nenhuma. Além disso, é absurdo que Lorrany tenha entregado o fôlego e o gol que ela entregou contra as Leoas e isso não seja levado em consideração na hora de escalar. Katrine e Lorrany seriam uma dupla ofensiva a qual um time que precisa desesperadamente marcar poderia se aproveitar muito bem.

O meio é o que dá para fazer mesmo, tendo em vista que Rafa Mineira tem entregado bem menos do que o esperado para a sua contratação, então faz sentido. O que me incomoda mesmo é o ataque desorganizado que decidiu colocar Myka em um local de evidência no time profissional no pior momento possível, ao invés de manter a figura de liderança que é Belén Aquino com o grupo e decidir que Julieta, atleta que só rendeu nos times de base no ano passado, é titular acima de Paola, recém chegada que corre bem, ocupa espaços e, inclusive, marcou em seu jogo de estreia. Anny Marabá como centroavante é o mínimo que eu espero desse elenco. 

Tirando tudo que eu odiei, eu acho que é a primeira vez que eu estou absolutamente segura de que Barcellos jogará em um bom e velho 4-3-3, sem grandes invencionices e um pouco mais de segurança. 

Infelizmente, se você veio aqui buscando otimismo, o meu ficou lá no jogo contra o Bragantino, quando em alguns minutos estávamos levando 3×0 de um dos times com menos expressão e tradição no campeonato. No momento, não existe mais sonhar com título, nem com classificação. O que precisamos é de paciência para aguentar um ótimo elenco sendo mastigado e mal instruído por um homem que parece não aguentar mais o seu trabalho e uma direção que se recusa a mexer um dedo, afinal, o masculino tem chances de ganhar alguma coisa esse ano, então eles têm mais o que fazer.

Pra fechar, gostaria de lembrar que enquanto o masculino passou oito anos sem levar um Gauchão, as Gurias levaram cinco Campeonatos Gaúchos e uma Ladies Cup, sem contar a participação na Libertadores de 2023, onde só foram paradas pelo melhor time do hemisfério sul nos pênaltis – um jogo muito menos humilhante do que o que eliminou os homens no mesmo ano, da mesma competição. Tudo isso, com muito menos apoio financeiro e muito menos boa vontade de uma direção que só olhou para o feminino como proposta de campanha nos últimos anos.

Como que o descaso faz um time que vence o Santos de Cristiane, elimina o Flamengo e só é parado pelo melhor Corinthians de todos os tempos para um time que não consegue segurar um jogo contra o Sport Club Recife, recém subido da Série A2? Eu não sei responder. Talvez nem Alessandro Barcellos saiba e, muito menos o nosso treinador. 

Esperar pelo melhor já não é mais suficiente. Eu só quero que essa fase acabe para que eu possa ver a camisa vermelha estampar espetáculos como vinha fazendo.  

Por Luiza Corrêa

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


Deixe um comentário

Veja Também:

Faça o login

Cadastre-se