Na minha casa, não, Vovô!


Juventude vence de virada e se mantém invencível dentro dos portões do Alfredo Jaconi

Ganhar é gostoso. Ganhar de virada é mais gostoso. Ganhar de virada para desequilibrar e largar na frente no histórico de partidas e manter a invencibilidade em casa é MUITO MAIS GOSTOSO!

Crédito: Fernando Alves/ECJ

Na tarde deste sábado (12), o Juventude recebeu o Ceará no Alfredo Jaconi e bateu os adversários com um placar que mostrava 2×1. Os visitantes até saíram na frente, mas o Ju mostrou mais uma vez que é soberano em Caxias do Sul e não aceita perder em casa. Com a vitória, o mandante da partida aproveitou momentos no topo da tabela do Brasileirão.

O primeiro tempo começou mostrando aquilo que já era esperado: Juventude x Ceará tinha tudo para ser o confronto mais equilibrado da rodada do Campeonato Brasileiro. O histórico respalda essa impressão pois, antes de hoje, marcava 12 jogos com 4 vitórias para cada lado e 4 empates. A única vitória fora de casa desse confronto foi o 1×3 conquistado pelo Juventude em 2023, dentro do Castelão, garantindo o vice-campeonato da Série B e, com isso, o acesso do Alviverde para a elite do futebol masculino mais uma vez. O único jogador que marcou aquele dia, e permanece no Ju até hoje é o capitão. O volante Jadson cresceu muito e atualmente ocupa um local de liderança dentro de campo, mas também nos vestiários.

Voltando para a partida, logo aos 3 minutos, os torcedores do Vovô já acharam que era hora de gritar gol, contudo, as metas do Juventude – tanto no feminino, quanto no masculino – têm goleiros extremamente habilidosos. A volta de Gustavo à titularidade já começou com um milagre ao salvar a primeira finalização do atacante Galeano. Já começamos sabendo que respirar não seria uma opção.

O primeiro tempo seguiu intenso e rápido, com ambos os times apostando na velocidade e nas finalizações fortes, encontrando muitas vezes a rede por fora do gol. A primeira finalização do Ju nasceu de Gabriel Taliari sendo desarmado e a sobra acabando nos pés de Giovanny, que finalizou de longe direto para fora.

As tentativas foram se empilhando dos dois lados, com o Juventude jogando com a posse de bola e o Ceará aproveitando as escorregadas do time da casa para criar oportunidades no contra-ataque. Sem surpresa nenhuma, já no final do primeiro tempo, o primeiro gol do jogo veio da habilidade de Pedro Raul, atual artilheiro do Ceará. Aos 40 minutos, o camisa 9 recebeu pela direita e promoveu a virada de jogo com um passe certeiro que acabou com Matheus Araújo. O meio-campista levantou na área e encontrou Aylon que, frio, quase congelando, enganou Gustavo e meteu pra dentro. A torcida do Ceará, que compareceu ao estádio, comemorou demais o que estava se desenhando para ser mais uma vitória do Vovô contra um time gaúcho.

Porém, o Juventude se recusa a perder em casa no ano de 2025 e arquitetou a resposta 5 minutos depois. Em um ataque rápido, Batalla cruzou na área do Alvinegro, enquanto Mandaca invadia com violência o espaço do adversário. O camisa 44 colocou a cabeça na bola e igualou tudo no Jaconi. Para comemorar, o atacante segurou o tapete que fica ao lado do campo com o distintivo do Juventude no alto para que todos pudessem ver quem manda naquele gramado.

Na volta do segundo tempo, o meio de campo do Ceará parecia um pouco mais perdido do que no início. A impressão é que os jogadores estavam começando a sentir os ares místicos e mortais que rondam a casa do Maior de Caxias. Logo aos 2 minutos, Mandaca já se infiltrou entre os zagueiros e marcou a primeira finalização por cima do gol na segunda etapa. Aos 8’, foi a vez de Giraldo fazer a mesma coisa. O Juventude entrou com fome de bola, mas não conseguia converter a vontade em gols.

Sabendo que seu time podia mais, Fábio Matias decidiu fazer as mudanças que resolveram o jogo aos 19 minutos. De uma vez tirou Mandaca, Batalla e Gabriel Taliari que, aliás, rendeu muito pouco neste jogo. No lugar deste trio, entrou Jean Carlos, para organizar o meio, Ênio, para dar um pouco mais de fôlego nas infiltradas de bola e, o recém-chegado, Matheus Babi. O camisa 17 entrou com vontade de fazer a diferença, mostrando que já tem o sangue esmeralda correndo em suas veias.

Crédito: Fernando Alves/ECJ

Com 3 minutos passados das alterações, deu a lógica. O capitão Jadson encontrou Giovanny em um belíssimo passe em velocidade. Giovanny cruzou como se estivesse finalizando um chute que iria para fora, contudo, Matheus Babi entrou para empurrar o que estivesse na sua frente para dentro do gol. Com uma cabeçada baixa, o atacante deixou o seu primeiro com a camisa do Papão, esclarecendo que já entende a importância de se recusar a perder no Alfredo Jaconi. Na nossa casa, não tem conversa. Meus atacantes resolvem.

Aos 28’, Jean Mágico quase deixou o dele. Aos 35’, meu camisa 20 rolou para o meu capitão, mas Jadson finalizou para fora. O volante fez menção de reclamar, mas Matheus Babi segurou seus ombros e pediu que o jogo seguisse. Essa cena me deixou ainda mais animada. Como pode o cara que chegou ontem no time já se identificar tanto com as nossas cores?

Esse tipo de jogo, onde a raça vence as adversidades e a virada vem com o grito de gol preso na garanta, me faz pensar que eu tenho pena de quem não conhece e não entende o esporte como a gente. Nem só o futebol, mas qualquer esporte.

Eu tenho pena de quem não encontra um lar em um estádio, ginásio ou quadra. Eu tenho pena de quem não sabe que o melhor abraço do mundo é o de celebração depois do apito final. Eu tenho pena de quem não chora com uma vitória depois de um rali gigante no tie-break. Tenho pena de quem não arregala os olhos ao presenciar um arremesso de 3 virar uma cesta. Tenho pena de quem não comemora um ponto de backhand, largando a bolinha bem perto da rede.

Tenho pena de quem não berra a delícia que é virar um jogo desses. Se o que nos diferencia dos demais animais é a habilidade de produzir cultura, o esporte é a união dessa habilidade com os nossos instintos mais animalescos que acreditam que é possível ser feliz. Então, eu tenho pena de quem não se curva à majestade que é o esporte brasileiro.

Não importa se é a terceira rodada do Brasileirão ou uma final de campeonato. Se o coração bate mais forte e o grito é verdadeiro, vale a pena sentir.

Por Luiza Corrêa

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


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