Silêncio no Mineirão: Cruzeiro tropeça e se afunda na Sul-Americana


Sem torcida, sem criatividade e sem pontos: Raposa vive noite amarga, escancara falhas e vê crise ganhar corpo

O Cruzeiro entrou em campo na noite de 9 de abril de 2025, no Mineirão, pressionado pela necessidade de reação na Copa Sul-Americana. Mas, antes mesmo do apito inicial, o clima já era tenso: o time jogava sem o apoio da torcida, punida pela Conmebol, e a atmosfera era fria e pesada. 

Do outro lado, o modesto Mushuc Runa, do Equador, tecnicamente limitado, mas muito bem organizado. O que se viu em campo foi uma Raposa apática, desentrosada e presa fácil para um adversário que, até então, parecia acessível.  

Derrota por 2 a 1 em casa, nenhuma vitória em duas rodadas, lanterna do Grupo E. A luz de alerta? Já virou giroflex.

Desde o início da temporada, os problemas da equipe se acumulam. Mas diante do time equatoriano, tudo ficou ainda mais nítido: falta entrosamento, sobra indecisão. A equipe erra passes simples, toma decisões precipitadas e parece andar em círculos, sem demonstrar evolução, mesmo com quase meio ano de trabalho.

Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Primeiro tempo: posse sem propósito

O Cruzeiro começou com volume e tentou ditar o ritmo, girando a bola no campo de ataque e apostando nas descidas de Dudu e Marlon pelas pontas. A posse era azul, mas a inspiração parecia ter ficado no vestiário. A equipe tinha a bola, mas não sabia o que fazer com ela.

Aos 27 minutos, o castigo: falha defensiva, Orejuela aproveitou o rebote e, na segunda tentativa, empurrou para as redes. O Mineirão, já silencioso, mergulhou de vez no vazio. No fim da etapa, Wanderson tentou acordar o time em chute de fora da área, mas foi pouco.

Segundo tempo: o brilho que durou pouco

O Cruzeiro voltou com mais ímpeto e teve uma chance de ouro para empatar. Após revisão do VAR, pênalti em Dudu. Gabigol cobrou com a frieza que lhe é característica e igualou o placar. Mas a esperança durou só até a defesa voltar a vacilar.

Bentaberry aproveitou novo cochilo defensivo e recolocou o Mushuc Runa na frente. A partir daí, o Cruzeiro foi para o abafa, mas sem organização. A ansiedade tomou conta, as ideias se perderam e o gol de empate nunca veio.

Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

O retrato de uma crise anunciada

Apesar de ter impressionantes 74,6% de posse de bola, o Cruzeiro finalizou menos que o adversário (10 x 12). A equipe gira, gira, mas não fura. Falta criatividade no meio, agressividade na frente e solidez atrás. E quando sofre um gol, desmorona emocionalmente.

O que funcionou

– Dudu foi uma das poucas válvulas de escape, participando bem e sofrendo o pênalti.  

– Gabigol mostrou frieza na cobrança e movimentação, mesmo isolado.  

– O time manteve a posse de bola com constância — embora improdutiva.

O que precisa mudar e rápido

– A posse precisa virar finalização. Volume sem perigo não assusta ninguém.  

– A criação no meio-campo é travada e sem variações.  

– A defesa falha no básico: cobertura, posicionamento e concentração.  

– A equipe sente demais os gols sofridos e perde o controle emocional com facilidade.

Mais que números: um alerta tático e mental

Os problemas defensivos são constantes. A zaga erra no posicionamento, a cobertura chega atrasada, e a transição defensiva é lenta. O time também mostra sinais claros de instabilidade emocional: sofre um gol e desmonta.

A ausência de uma ideia de jogo clara também salta aos olhos. A posse de bola é alta, mas sem agressividade ou intensidade. Falta coragem para se impor e ousadia para buscar soluções — seja com mudanças internas, novas peças ou ajustes no modelo tático.

O Cruzeiro tem nomes interessantes e um elenco com potencial, mas precisa de mudanças urgentes. A temporada está andando e, se não reagir agora, pode ficar pelo caminho cedo demais. 

O Brasileirão ainda está no começo. E na Sul-Americana, a margem de erro é praticamente zero.

Próximos desafios

  • 13 de abril (sábado): Campeonato Brasileiro contra o São Paulo, no Morumbi.  
  • 23 de abril: duelo decisivo fora de casa contra a Universidad Católica, do Equador, pela Sul-Americana.

Se quiser seguir sonhando com classificação, o Cruzeiro precisa mais do que posse de bola. Precisa de alma. De reação. De entrega. Porque a camisa pesa e agora, está pesando contra.

Por Mury Kathellen

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


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