Feliz aniversário, meu Gigante!


Para comemorar o aniversário do Gigante da Beira-Rio, Internacional goleia dentro de casa e conquista a primeira vitória no Campeonato Brasileiro 

Neste domingo (6), o Inter recebeu o Cruzeiro no Beira-Rio, em Porto Alegre, e distribuiu gols de tudo que é jeito, buscando dormir na liderança do Brasileirão. Com gols de Alan Patrick, Enner Valencia e Rafael Borré, o Colorado conseguiu 3 pontos e chegou ao topo da tabela segundo os critérios de desempate. Apesar dos pesares – que ainda não chegaram -, é bom demais ser Inter!

Foto: Ricardo Duarte/ SC Internacional 

Como todos os jogos dessa rodada, e alguns da rodada anterior, escolhas questionáveis foram feitas pela arbitragem. No caso do jogo sediado no Rio Grande do Sul, esta escolha foi a expulsão do zagueiro cruzeirense Jonathan Jesus aos 20 minutos do primeiro tempo. Em um lance de bola longa, Wesley acabou na frente do gol de Cássio e foi prensado por dois defensores do Palestra. A visão do árbitro indicou que o ponta-esquerda do Inter recebeu pressão nas costas e ainda uma entrada por baixo, resultando em um cartão vermelho para o número 34.

A discussão foi se a falta realmente houve, já que a carga nas costas de Wesley não parece ter sido tão forte assim. Pela imagem mostrada na televisão, após o ocorrido, se vê a movimentação superior e também um enrosco de pernas. Pela letra da regra chamada de “último homem”: impedir um gol ou uma clara oportunidade de gol de um adversário que se dirige à meta do infrator por meio de uma infração punível com um tiro livre é passível de expulsão. 

Eu não sou contra a reclamação e, principalmente, a cobrança de uma revisão em nosso corpo de árbitros de campo e de vídeo. Inclusive, acho muito sintomático que na mesma semana em que um dossiê sobre o presidente da CBF foi disponibilizado pela revista Piauí, este mesmo tenha decidido aumentar o salário dos presidentes das confederações em quase 200% e o salário dos árbitros tenha permanecido na casa dos R$5000. Muito dinheiro rola nesse esporte e pouquíssimo é revertido para a aprimoração do trabalho desenvolvido. 

Sendo falta, ou não, é absurdo dizer que o Internacional só aplicou os três gols – e mais um anulado – por conta da falta de Jonathan Jesus em campo. O Colorado tem um dos times mais organizados e o melhor treinador do campeonato – empatado com Filipe Luís – na casamata, então vamos nos respeitar, gurizada. Quando ano passado, vindo de um dos piores inícios de temporada possíveis, nosso zagueiro Rogel, camisa 18 na época, foi expulso dentro da casa da Raposa por um segundo amarelo questionável aos 30 minutos do primeiro tempo, o Inter segurou o 0x0 que daria início a uma série de 16 jogos de invencibilidade. Na ocasião, o mesmo Anthoni que mal trabalhou hoje, ainda defendeu um pênalti. Todos os times já jogaram com um a menos, mas o que vimos hoje foi um Cruzeiro com menos um zagueiro, um goleiro ineficiente, cansado e limitado e um treinador que se perde com facilidade. Pelo menos 3 pessoas a menos, sendo punidos ou não.

Desde o apito inicial, o Celeiro de Ases se mostrou centrado e preparado para uma partida, sem nem levar em conta que seu adversário havia conquistado os 3 pontos que tem contra uma das equipes mais fracas do Brasileirão – o Mirassol. O que entrou em campo não foram os 14, agora 15, jogos de invencibilidade do Colorado, muito menos a estrela cabulosa de Gabriel Barbosa. Esse tipo de coisa não joga dentro das 4 linhas. O que entra em campo é a raça e a habilidade dos jogadores, adicionadas à visão e a inteligência tática de seu técnico. Todas essas coisas pareceram faltar do lado azul que, após perder o zagueiro menos expressivo – tendo em vista que sua dupla é o talentosíssimo Fabrício Bruno -, se perdeu completamente. 

Aos 31 minutos, embalado por uma torcida que enfrentou o frio para se esquentar nas arquibancadas do Inferno, o Internacional mostrou porque tem sido tão soberano, principalmente pela esquerda. A bola passou por metade do time até chegar aos pés de Bernabei. O argentino trabalhou sua posse, mas só até achar seu capitão Alan Patrick pronto na entrada da área. O camisa 10, habilidoso como só ele sabe ser, finalizou seguro de que abriria uma noite vitoriosa. 1×0 pros donos da casa. 

Sem parar de agredir e atacar por nenhum segundo, o Inter se manteve com o giro lá em cima. Os nomes de Gabriel Barbosa e Dudu mal foram ditos pela narração, afinal, o Cruzeiro estava sendo muito mais requisitado do meio para trás. Um minuto depois de uma defesa milagrosa de Cássio aos 36’, Wesley cruzou à meia altura em direção à meta para que Valencia pudesse se presentear – e nos presentear – com mais um gol em menos de uma semana. 2×0 e contando. Só não abrimos três no primeiro tempo porque a assistência do capitão para o equatoriano acabou no travessão. 

No finalzinho, ainda deu tempo do atacante cruzeirense Wanderson beijar a trave colorada depois de trabalhar completamente sozinho pela direita. Nada feito para o ex-Flash Colorado.

A segunda etapa começou assim como a primeira. Aguirre encontrou Enner Valencia em um passe longo, mas o camisa 13 acabou hesitando e perdendo o tempo de finalização. Em um escanteio, após uma defesa espalmada por Cássio, o meio-campista Bruno Henrique mandou uma bucha que acabou atingindo o parceiro de posição Matheus Henrique. 

Na gana de lutar por mais, fechando 10 minutos, o volante Ronaldo lançou uma bola alta em direção à Carbonero, que matou com a coxa e deu a assistência para que Wesley marcasse o terceiro. Depois de muita reclamação por parte do Cruzeiro, o árbitro revisou o lance pela imagem do VAR e entendeu que o domínio do camisa 7 teve a ajuda de um de seus braços e anulou o lance. 

O Colorado estava incansável. A ideia de ter Wesley e Carbonero juntos em campo exigiu mais do lateral-direito, Braian Aguirre, que teve que agir como xerife do seu lado do campo. O jogo focado pela esquerda fez com que Bernabei criasse várias jogadas que terminavam ou nas luvas cansadas de Cássio ou saindo pela linha de fundo. Enner e Alanpa tinham sede de mais. Sua última ação como dupla de meio foi um passe infiltrado do camisa 10 para que o equatoriano driblasse o  goleiro adversário. Infelizmente, Valencia finalizou fraco demais. 

Foto: Ricardo Duarte/ SC Internacional 

Os dois saíram aplaudidos para a entrada de Borré e do recém contratado Oscar Romero. É nesse momento, na troca de centroavantes, que eu penso que é uma sorte absurda acompanhar meu time nesse momento. Imagina ver o artilheiro da seleção equatoriana em Copas do Mundo sair para que La Máquina colombiana entre. É sorte banhada a “trago”, amor e paixão. 

E, assim como o titular, Rafael Borré tem fome de gol e uma vontade inesgotável de devolver à torcida a felicidade que o clube lhe traz. Em uma entrevista à jornalista Anita Caicedo – que, por coincidência, é também sua companheira de vida -, Borré comentou que está realizado de poder reencontrar a alegria de jogar futebol nos braços de uma torcida tão fiel e acolhedora como a nossa. De todos os lugares do mundo, ele decidiu recomeçar depois de episódios de preconceito que sofreu na Alemanha em um clube vermelho no sul do Brasil. Borré escolheu as nossas cores para pintarem um novo capítulo repleto de paz e felicidade na sua vida. E nós escolhemos o seu nome e a sua comemoração para encherem o estádio na hora do grito de gol. A nossa casa virou a casa dele também, assim é de todos os estrangeiros, pretos, mulheres, pessoas da comunidade LGBTQ+ e qualquer pessoa que precise de uma casa há 56 anos. 

A primeira ação do estreante Oscar Romero no jogo foi encontrar o colombiano nas costas da defesa, permitindo que ele seguisse a jogada protegendo a bola pela direita. Com um sorriso no rosto que brilhava pertencimento, Borré chutou cruzado para encontrar as redes de Cássio. O Beira-Rio explodiu em continências ao presenciar mais uma glória do desporto nacional para exaltar o Clube do Povo do Rio Grande do Sul.

Depois disso, foi administrar o resultado e contar os segundos para o apito final. O professor “Pep” Roger, como é chamado pela torcida e pelos comandados, ainda promoveu mais uma estreia. Diego Rosa vestiu as cores do Colorado pela primeira vez e entregou um final de jogo pelo menos interessante. 

É maravilhoso quando o time vence e, ainda por cima, convence a torcida e o próprio elenco de que o que está se passando ali é importante e especial. Mesmo antes da expulsão, o Internacional já dominava a partida e isso não mudou em nenhum momento. Todo lance que a arbitragem precisa tomar decisões – principalmente esse ano -, é passível de reclamações. Vamos debater, vamos aprimorar, vamos pedir por mudanças. Eu concordo. A única coisa que não está aberta para discussões é que, quando se está sendo recebido no Inferno, tu necessariamente precisa abraçar o capeta. E hoje não foi diferente. 

O céu até pode ser azul, mas o sangue de todos nós é – e sempre será – vermelho como as paredes do Inferno da Zona Sul, o aniversariante do dia, Gigante da Beira-Rio. 

Por Luiza Corrêa

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


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