Gurias Coloradas saem na frente, mas não conseguem segurar o resultado e levam o empate duas vezes
Na tarde desta segunda-feira (31), o Internacional recebeu às 16h – horário péssimo para uma partida de futebol – as meninas do Sport Club Recife em jogo válido pela terceira rodada do Brasileirão A1. Em meio a faltas, cartões questionáveis e uma escalação confusa por parte do técnico Jorge Barcellos, São Pedro decidiu que na iminência de uma vitória colorada, ele mandaria uma tempestade com raios, trovões e uma ventania típica do sul do país. Em campo 2 a 2, fora dele polêmica após uma banana ser arremessada contra o banco de reservas rubro-negro.
“Não no meu turno!” disse o santo.
A culpa foi da tempestade? Claro que não! Seria ilusório demais da minha parte ser supersticiosa nesse nível. Óbvio que a paralisação de meia hora no início do segundo tempo não ajudou em nada o Internacional, mas esse não foi o único problema. A começar pela escalação, Barcellos pareceu estar um pouco perdido ao cobrir o desfalque da lesionada Bruna Benites descendo Capelinha para a zaga – o que se mostrou ser a melhor decisão que ele tomou este ano – e ao manter Anny Marabá no banco e promover Paola a titularidade. Anny Marabá PRECISA ser a centroavante titular.

No início do jogo, as donas da casa mostraram mais intensidade e conseguiram chegar tanto com Paola quanto com Belén Aquino. As ideias de jogada partindo principalmente da meio-campista Marzia eram boas, mas os chutes estavam faltando ser um pouco mais caprichados em direção à meta adversária. Barcellos escalou, entre jogadoras híbridas ou de origem, cinco meio-campistas e é absurdo que nessa formação, apenas a camisa 14 tenha desempenhado bem os 90 minutos de jogo.
Rafa Mineira parecia estar completamente desconectada da partida. A camisa 77 errou domínios, lançou bolas longas demais e finalizou algumas vezes sem mira. Aliás, as bolas longas foram um grande problema, não só para o Inter, que não conseguia alcançar os passes, mas também para a arbitragem, que enfileirou impedimentos inexistentes para o lado das coloradas. Além disso, a árbitra Cássia Franca de Souza ainda sonegou pelo menos três cobranças de lateral para a equipe do sul por ignorar o desvio nas jogadoras do Sport. Tudo dando certo pra dar errado.
O trabalho de bola colorado estava passando muito pelos pés das laterais, já que o meio estava um tanto quanto congestionado com a marcação por zona do Sport e a falta de destreza das jogadoras do Inter. Lorrany, lateral-direita que voltou ao elenco titular neste jogo, estava empilhando tentativas de boa fé, mas mal desempenho. Então, aos 45 minutos do primeiro tempo, Belén Aquino entregou uma bola cruzada nos pés da camisa 15, que invadiu a área das Leoas. Ajeitando rapidamente do pé direito para o esquerdo, Lorrany tirou a goleira Nanda da jogada e encheu o canto esquerdo das redes. A atacante Paola ainda representou muito bem a torcida quando comemorou erguendo as mãos para os céus e agradecendo.
“Finalmente!” berrou Paola.
O dia já havia escurecido em meio a nuvens carregadas quando o apito de reinício da partida foi ouvido. A etapa complementar seguiu quase que dentro da normalidade até os 10 minutos, quando os refletores apagaram e a árbitra achou mais seguro se utilizar do protocolo de tempestade e paralisar a partida por meia hora. A maior surpresa desse fato é que uma chuva bastante rigorosa caía dos céus e o gramado do Sesc da Protásio Alves continuava seco, fluído e muito melhor do que muitos – sintéticos ou não – que estão presentes em estádios oficiais pelo país. Meus parabéns para a equipe que cuida da casa das Gurias!

Transcorridos apenas 16 minutos de paralisação, a partida voltou, apesar do vento e da chuva ainda castigarem todos os presentes. Logo no primeiro minuto de bola rolando, as Leoas mostraram que a pausa não tinha servido para esfriar seu jogo mas, sim, para deixá-las com mais fome. Jaque lançou a bola em direção a Laysa que, numa escolha equivocada, tentou encobrir Tainá e acabou lançando por cima do travessão. Mantendo esse ritmo, aos 14, essa mesma Jaque recebeu a bola um tantinho longe da área e finalizou dali mesmo. Um golaço inaugurou a participação agressiva do Sport na Série A1.
A fim de mexer no campo e tentar voltar para o jogo, Jorge Barcellos decidiu nos mostrar que ele não só parecia confuso quando escalou o time, como permanecia confuso ao não enxergar nem quando ele acertava. A saída tardia de Rafa Mineira aconteceu para que Julieta, volante de origem que por algum motivo tem jogado no ataque, entrasse em campo. Para a saída de Jordana, o treinador voltou Capelinha à volância ao colocar Letícia Debiasi como dupla de Fefa Lacoste na zaga. E, finalmente, depois de muitos pedidos, colocou Anny Marabá para jogar, dessa vez no lugar de Belén Aquino.
“Você não tá vendo ‘xogo’, professor?” deveria ter perguntado a uruguaia.
Muito mais atenta ao seu papel de capitã nesta partida, Julia Bianchi passou o segundo tempo inteiro tentando ser útil para a sua equipe. Discutiu com a arbitragem, protegeu suas colegas e desenhou jogadas de todos os tipos para que a bola acabasse no gol. Aos 23 minutos, a camisa 10 se preparou para bater direto uma falta um tanto distante do alvo. Julia se lamentou ao ver a bola viajando pelo lado direito do travessão. Passados três minutos da cobrança, em um ataque relâmpago, Lorrany voltou a mostrar serviço à camisa vermelha. A lateral cruzou em direção a área, fazendo a bola percorrer boa parte do canto direito do campo de ataque do Inter e chegar aos pés da centroavante que nunca deveria ter estado no banco. Com o corpo levemente torto e desajeitado, Anny Marabá estufou as redes em um chute firme que devolveu a vantagem ao Colorado. A comemoração foi geral, com o destaque de Katrine socando o ar sozinha no canto esquerdo da câmera.
“Aqui é o Inter!!!!!” berrou a camisa 97.
Já no final do jogo, aos 46 minutos, a zaga das Gurias – que agora sofria com a falta de Capelinha – não conseguiu consertar os erros do meio-campo – que agora sofria com a presença de Capelinha. Laysa entrou na área do Inter com uma marcação frouxa a acompanhando e não teve dúvidas antes de acordar a coruja que dormia do lado esquerdo das redes de Tainá. 2×2, fora os sinais da ebulição global e das mudanças climáticas atrapalhando o andamento do jogo.
É inaceitável que uma loucura do professor tenha finalmente funcionado contra o time que menos desempenhou no campeonato e que ele volte atrás nas melhores escolhas que fez durante o jogo. É inaceitável que o Internacional só esteja achando espaço para jogar na terceira partida e não consiga nem se aproveitar disso para manter uma vantagem. É claro como a água que o trio inicial do ataque precisa ter: Paola na ponta direita, Aquino na ponta esquerda e Anny Marabá no meio. O time não pode ficar cruzando na área sem que uma mulher de quase 1,80 de altura esteja lá para tentar finalizar. Eu não sou contra o experimento, desde que ele seja consciente e que traga resultados além de amaciar o ego de quem os propõe. Deixa a Capelinha na zaga, deixa a Bianchi de capitã, deixa a Marzia correr livre pelo meio. Deixa as jogadoras desempenharem onde eles dão mais resultado, ou toda vez que o Inter chegar perto de ganhar, uma tempestade vai cair, professor.
Antes de fechar o texto, preciso tocar só em mais um assunto…
Antes da partida terminar, um caso absurdo aconteceu do lado de fora do gramado. O jogo estava ficando nervoso para os dois lados, o que atraiu mais faltas violentas e os ânimos estavam à flor da pele. Isso, obviamente, contagiou o público, composto por torcedores comuns e atletas da base colorada. Nesse momento, uma casca de banana foi arremessada em direção ao banco de reservas do Sport Club Recife. A equipe do Sport registrará um BO sobre o ocorrido e, como o Sesc tem câmeras em todos os setores, poderá ser feita a identificação do responsável por tal ato. Toda e qualquer agressão deve ser punida, seja de quem for e como for. Sinto pelas atletas rubro-negras e espero que prontamente tal situação seja esclarecida e que o agressor seja punido!
Por Luiza Corrêa
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.