Nove meses atrás, o caos tomava conta do clube de Parque São Jorge. Saída de atletas pela porta dos fundos, fim da relação com a patrocinadora por fraude na negociação, salários atrasados, racha na diretoria e possibilidade de ser advertido pela FIFA com transferban por falta de pagamentos. Dentro de campo nada dava certo: vexame no Paulistão com eliminação ainda na fase de grupos, saída de Mano Menezes com multa milionária e iminente demissão de Antônio Oliveira à vista já que a equipe não saía do Z4 do Brasileirão. O “barco” estava à deriva, o desespero tomava conta e um dos jogadores mais queridos do clube tentou tranquilizar a torcida dizendo “tudo vai dar certo”. Mas era difícil acreditar…
Ao acordar, a cabeça doía. Nas ruas, na resenha e em qualquer lugar imperava a frase provocativa “e o seu Corinthians, hein?”. No grupo de whats, minha xará Mariana e a parceira de coluna, Júlia, dividiam a agonia. Contávamos ponto a ponto.

O Corinthians maltratava o nosso coração. Depois da frase de Garro empatamos quatro jogos e perdemos dois, incluindo o Dérbi, e amargamos a vice-lanterna da competição, sem vitórias há nove jogos.
Em meio ao caos, nos vimos sem goleiro. Primeiro o ingrato Cássio, que em sua despedida sequer a camisa do clube que tudo lhe deu estava usando. Depois, Carlos Miguel. Sim, ele que tanto defendemos e pedimos uma oportunidade saia pela porta dos fundos em direção a Inglaterra, onde ganharia alguns trocados a mais. E agora?
Eis que emerge um dos maiores responsáveis por evitar a derrocada do Corinthians: Fabinho Soldado. O ex-Flamengo, com a sua filosofia de “acreditar no atleta”, sacou do baralho um trunfo: Hugo Souza. Em um breve telefonema, Hugo aceitou o desafio e fechou com o alvinegro. O time seguia patinando no nacional e vinha de duas derrotas para Cruzeiro e Vasco. Mas Hugo não titubeou e com a camisa 1, que não era usada desde 2011 com Júlio César, o goleiro assumiu a liderança e comandou a ascensão alvinegra.
Diante do Criciúma, estrearam Hugo, Alex Santana e Ramón Díaz. Dom Ramón com sua filosofia “no va a bajar”, trabalhou duro para evitar o segundo rebaixamento do Timão. Hugo assumiu a titularidade e saímos de campo vitoriosos por 2 a 1. Alívio, pero no mucho, pois a disputa para sair da zona de rebaixamento era ponto a ponto com Vitória, Grêmio e Fluminense.
No jogo seguinte, triunfo fora de casa diante do Bahia e nossa esperança aumentava. O combustível para seguirmos acreditando foi o anúncio do novo patrocinador, a Esportes da Sorte, que prometia uma contratação de peso. No entanto, em campo ainda patinávamos, e ficamos no empate com o Grêmio por 2 a 2. O empate selou a pior campanha do clube na era dos pontos corridos com míseros 19 pontos conquistados com 4 vitórias, 7 empates e 8 derrotas.
Veio o segundo turno e nos apegamos a esperança de dias melhores. No primeiro jogo, derrota por 2 a 1 para o Atlético-MG fora de casa. Depois empate absurdo por 1 a 1 com o Juventude, dentro de casa, com dois jogadores a mais. O pior? Alex Santana lesionado e fora do time por no mínimo três meses. Na mesma semana, classificação “culposa” sobre o Grêmio na Copa do Brasil. Culposa, pois não havia intenção da equipe em se classificar, mas Hugo Souza brilhou.
No Brasileirão seguia o desespero com dois empates seguidos e uma derrota para o Fortaleza. O clube se dividia entre as copas e o nacional, mas a Fiel só pensava em uma coisa: não ser rebaixada. Vitória sobre o Flamengo, derrota para o Botafogo, vitória sobre o Atlético na estreia de Depa – a tal contratação de peso do patrocinador, e derrota no Majestoso. Socorro, Deus!
Fazíamos contas e sabíamos que o time precisava dar a vida. Faltavam 10 jogos e precisávamos jogar a vida, vencendo no mínimo 6 partidas. Veio o Inter, e nos acrescimentos cedemos o empate. Neste dia chorei. Falei com Deus e disse: seja feita a tua vontade. Aceitei que o pior estava chegando, que não tinha jeito. Xingava, vivia p* da vida, afinal, que time frouxo! Mas a luz brilhou no fim do túnel!
Diante do Athlético, após falta batida com maestria por Memphis, 5 a 2 no placar. Cuiabá, os porco, Vitória (de virada), Cruzeiro, Vasco, Criciúma, Bahia e Grêmio. 9 jogos e 9 vitórias. Impressionante, surpreendente! E o Corinthians estava salvo e classificado para a pré-Libertadores. Yuri Alberto, que antes caia sozinho em campo, terminou a temporada como artilheiro da equipe. O camisa 9, Memphis e Garro ditaram o ritmo da arrancada alvinegra, participando de 91% dos gols da equipe.
Em lua de mel com o time, começamos 2025 confiantes. Antes da bola rolar, uma tragédia. Rodrigo Garro se envolveu num acidente no dia de seu aniversário. Era a nossa vez de dizer “tudo vai dar certo” e segurar a mão do argentino.
Com os reservas iniciando o Paulistão, três vitórias. Veio o Majestoso com os titulares e tropeçamos, 3 a 1 para o rival. Seguimos firmes, mas angustiados com Ramón que ainda rodava o elenco e não achava a formação ideal, principalmente na defesa. Seguimos invictos, Garro retornou e o Corinthians terminou a fase de grupos com a melhor campanha, somando 27 pontos em 12 partidas.
Em meio ao início do mata-mata do estadual, disputamos a Libertadores. Na competição continental o time deixou a desejar e suou para se classificar diante da fraquíssima Universidad Central da Venezuela. Já pelas quartas do Paulista, passamos sem suar pelo Mirassol, vencendo por 2 a 0, em Itaquera.
Esperançosos, fomos ao Equador duelar com o Barcelona. Pecamos. O time parecia outro, desatento, de “salto alto”. Fomos amassados e sem dúvida os 3 a 0 ficaram baratos.
O time precisava dar uma resposta à torcida. Passou pelo rival da Baixada e se classificou para a final estadual, mas na Libertadores, “morremos na praia”. Em casa fomos vítimas da catimba e da cera equatoriana, vencemos por 2 a 0, mas não foi suficiente e acabamos eliminados. Vexame, vergonha… o Paulista era obrigação.
Nosso adversário era o clube que nascemos aprendendo a odiar: os de verde e branco. Era a turma da Barra Funda, os que desdenham do “Paulistinha” e que contaram com uma “ajudinha” da arbitragem para chegar à final. Com eles buscando o tetra, ninguém apostava no Corinthians. Verdade seja dita, fomos pintados de “patinho feio”, de “zebra” e a mídia apontava que a taça tinha destino certo. Mas eles esqueceram da nossa maior cartada: a Fiel.
No confronto de ida, na saída da delegação rumo ao Allianz, a torcida alvinegra deu show e deixou claro que o time poderia contar com o nosso apoio. Energizados pelo corinthianismo, nossos atletas souberam ter paciência e contaram com o protagonismo de Yuri Alberto para sair com a vitória por 1 a 0.
Calamos a todos. Eles que já cantavam vitória e a mídia que em nenhum momento apostou no Corinthians. A festa seria na zona leste, na favela!

Casa cheia, recorde de público. Bandeirão, mosaico, tirinhas, bandeirolas e tudo que o torcedor tem direito. Canto forte, a plenos pulmões. Arquibancada pulsando, jogo truncado. Bola na trave, cantamos mais forte. Reza, figa, mandinga, lágrimas e VAI CORINTHIANS.
Catimba, cera. Segura a bola. Lambança de Felix Torres, mas se Hugo Souza é por nós, quem será contra nós?. Nosso arqueiro foi gigante e defendeu o pênalti de Veiga. A segunda penalidade defendida contra eles, abre caminho para a idolatria de um cara merecedor, humilde e que honra a camisa.
Felix tentou fazer merda novamente, mas não deu. Provocação. Sinalizadores acesos. Era um caldeirão, o maior pesadelo deles!
Memphis fez o certo. Faltas cobradas curtinho, prendendo a bola. Dribles, pirraças, eles que lutem! Contamos os minutos, os segundos. Acaba pelo amor de Deus Matheus! Choramos, torcida e jogadores! E assim, conectados com cada atleta, finalmente voltamos a soltar o grito de campeão!

Pouco importa se é o Estadual. Porra é o Corinthians! É uma conquista “à moda da casa”, na loucura, na raça.
Garrito? Deu tudo certo! Tu, que muitas vezes jogou no limite, na dor, assim como Yuri, Hugo e tantos outros, merece sim comemorar!
Que se danem os fiscais de comemoração! Aqui é Corinthians, é insanidade e contra “eles” até futebol de botão é importante! Derbi é guerra!
Agora vamos em frente, um novo Brasileirão vem aí e esperamos por dias mais calmos, tranquilos, ainda que saibamos que tranquilidade não está no DNA do Corinthians!
Por Mariana Alves com amor para Mari, Júlia, Camilly, Kamila, Thayná, Fabi, Vic e Nanna, companheiras de angústia, sorrisos e lágrimas!
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