Renata em dia de Santa Clara


Juventude segura bem, mas não consegue parar o time de uma mulher só

Créditos: Nathan Bizotto/EC Juventude

Na tarde desta quinta-feira (27), o Juventude enfrentou o Corinthians, em um jogo de início estranhamente zerado na Fazendinha, em São Paulo. Com a formação levemente diferente da que iniciou o Campeonato Brasileiro, as Gurias Jaconeras até tentaram, mas a entrada de Vic Albuquerque no segundo tempo foi mortal. 2 a 0 para as Brabas, porém muitos aprendizados a serem retirados da partida. 

A equipe do professor Luciano Brandalisle veio levemente mais ofensiva do que no primeiro jogo. Com Flávia Pissaia um pouco mais adiantada para auxiliar o ataque e a volante Hericka Sorriso como novidade no meio, o Ju entrou em campo ignorando completamente o placar anterior das adversárias e acreditando que era possível sair vivo desse jogo. Este trabalho de mentalidade é, inclusive, extremamente importante para os times que recém subiram da Série A2. 

É importante entender que os primeiros jogos servem para sentir o campeonato, mas também saber que cada partida é uma e os resultados anteriores não necessariamente interferem em confrontos futuros. Claro que é preciso respeitar o poder de ataque do Corinthians, mas também é necessário respeitar a sua força de vontade e a habilidade do seu time. 

Além disso, esse tipo de jogo é aquele que testa a fé, tanto do torcedor, quanto das jogadoras. É o momento em que nos agarramos aos nossos talismãs, conversamos com seres celestiais e pedimos, independente da religião, que São Judas Tadeu, santo das causas impossíveis, ilumine cada passe e finalização. Mesmo entrando sabendo que a possibilidade de uma goleada era grande, ainda existia esperança de que o jogo pudesse ser, pelo menos, equilibrado. 

As Gurias de Caxias se mantiveram firmes durante toda a primeira etapa, mantendo seu campo de defesa recheado de jogadoras para bloquear o ataque intenso das comandas de Lucas Piccinato. Aos 10 minutos, Andressa Alves inaugurou as finalizações e teve seu chute parado por duas das maiores personagens deste jogo: as mãos abençoadas da goleira Renata. É absurdo o tanto que a protetora da meta jaconera precisou trabalhar, já que apenas a sua zaga não estava sendo o suficiente para manter as Brabas longe. 

Alice, a camisa 5 das Gurias, percorreu uma verdadeira Via Sacra para garantir que conseguiria auxiliar as meninas da zaga na defesa e ainda assim articular jogadas construtivas o bastante para ser útil no ataque. Assim como Davi e Jônatas, que passaram por inúmeras adversidades que testaram a sua conexão divina, Alice e Renata foram a dupla que manteve o Juventude dentro do jogo durante toda a primeira etapa. 

Aos 39 minutos, depois de muitas tentativas das Brabas e muitos cabeceios da centroavante Johnson para fora, o time de Caxias conseguiu a sua primeira definição em direção ao gol.  Depois de uma falta da lateral-direita alvinegra, Letícia Santos, em cima de Flávia Pissaia, a própria meio campista levantou para que Kamile Loirão tentasse abrir o placar de cabeça, mas a bola acabou nas mãos da goleira Nicole.  

15 minutos de intervalo foi o suficiente para que as meninas do Juventude trocassem de roupa e para que Piccinato lembrasse que seu time goleador de uma mulher só não funcionaria se esta não estivesse em campo. 4 minutos de segundo tempo foi o suficiente para que Vic Albuquerque estreasse o placar com um gol de cabeça – o que Johnson tentou o jogo inteiro e não conseguiu. Diferente do imaginado, o Juventude se manteve fechado e defendendo, mesmo com o ataque reforçado das Brabas. O jogo não mudou muito de dinâmica. Ataque do Corinthians, defesa da Renata. 

Aos 11 minutos, Andressa Alves serviu e Vic Albuquerque ampliou novamente de cabeça, marcando seu 112º gol com a camisa do Corinthians. Esse lance chamou muita atenção pois a jogadora subiu completamente livre de marcação, um completo descuido da defesa do Juventude. A goleira Renata não engoliu aquilo e aproveitou o tempo até a reposição de bola para dar uma chamada na sua dupla de zaga. 

Aprendi com a família que se não queremos que chova, pedimos que Santa Clara mantenha os céus limpos e iluminados pelo sol. Hoje, aprendi que se não queremos uma chuva de gols de um dos times mais ofensivos da modalidade, pedimos que Renata May bloqueie os caminhos. A camisa número 1 defendeu de tudo que era jeito, prevenindo o alviverde de levar uma goleada do time de Vic Albuquerque e conseguiu sair com um resultado bastante justo e até fácil de correr atrás no decorrer do campeonato. 

A goleira do Ju bloqueou Johnson, Duda Sampaio, Carol Nogueira e até impediu o hat trick de Vic Albuquerque. O sangue jaconero que agora corre nas veias de Renata mostra que nenhuma causa é impossível, apenas improvável. Perder para o Corinthians faz parte de qualquer competição de futebol feminino. Conseguir esfriar a camisa 17 depois de uma entrada iluminada e frear a corrida das Brabas até o topo da tabela é um feito que poucas goleiras conquistam. Renata May é nossa e é MUITO nossa, graças a Deus. 

Créditos: Nathan Bizotto/EC Juventude

No domingo (20), as gurias do Juventude recebem o Fluminense na Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, às 16h, horário nobre do futebol brasileiro. Os dois times têm campanhas parecidas e podem entregar um jogo equilibrado e cheio de vontade. De qualquer maneira, a Santa Clara das Metas Fechadas ainda estará jogando do lado verde e branco do campo.

Por Luiza Corrêa

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


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