Bola parada pra gente conversar 


Barcelos mostra que seu time sabe perder em casa e fora também

Crédito: Lara Vantzen/Sport Club Internacional

Vergonha. Não existe outra maneira de descrever o que aconteceu na tarde desta quarta-feira (26), com as Gurias Coloradas a não ser como uma vergonha. Jorge Barcelos levou suas comandadas de Porto Alegre até Santana de Parnaíba, São Paulo, para que elas levassem três gols – dois deles absurdamente iguais – das Bragantinas e não reagissem em nada. Bom, 3×0, fora o baile. O resultado péssimo dá a primeira vitória ao time de Bragança Paulista e a segunda derrota em dois jogos para o Internacional no Brasileirão – A1. 

Essa derrota desastrosa passa por várias coisas. Elenco lento, jogadoras em hora extra na titularidade, oponente melhor preparado e tudo mais que caracteriza uma atuação pífia. Mesmo assim, de tudo que estava errado, o maior problema estava na casamata. Jorge Barcelos e seu ego ignorante mataram qualquer chance de reação do Internacional nesta partida. Contra o Bahia, pudemos ver lados positivos como a evolução da volante Capelinha mas, dessa vez, não sobrou nada para admirar. Tudo que restou foi a vontade  de puxar o técnico para uma conversa séria e sem rodeios.

Crédito: Lara Vantzen/Sport Club Internacional

A titularidade da capitã Bruna Benites é amplamente questionada pela torcida há pelo menos duas temporadas e é absurdo que depois de performances – no mínimo – medianas, a diretoria e o treinador não tenham percebido. Bruna está lenta, descuidada e com o poder de reação extremamente prejudicado. Uma capitã ocupar seu lugar no banco não é em nada vergonhoso. Se for pedir a minha opinião, é na verdade virtuoso. Entender que está na hora de deixar novos talentos – como o de Bianca Martins – brilharem mostra muito mais amor ao time do que insistir em 90 minutos chorados.

A escolha de descer Marzia, nossa meio-campista mais veloz e ágil – para a lateral direita e submeter Aquino, nossa melhor ponta esquerda, à posição de falsa 9 foi… definitivamente uma escolha. Barcelos conseguiu, ao mesmo tempo, matar a criatividade do lado direito e o poder de decisão do lado esquerdo. Sem contar que jogou Belén pelo meio, sendo que Anny Marabá, centroavante de origem, passou o primeiro tempo inteiro no banco. A insistência do treinador em escalar o elenco na formação 4-3-1-2 e esperar que suas peças se adequem ao que ele tem na cabeça simplesmente passou dos limites. Até os atletas que são personagens de um vídeo game tem suas particularidades, o que faz ele pensar que suas jogadoras conseguem de uma hora para outra mudar a base do seu futebol para satisfazer as suas ideias inconsequentes? O feijão com arroz 4-3-3 e o ousado, porém seguro, 4-2-3-1 existem, funcionam e são permitidos no futebol feminino, professor. É só escalar direito. 

Sobre o jogo, os primeiros minutos gastaram toda a intensidade que o Internacional tinha para atacar, deixando Aquino exausta logo no início. A uruguaia teve um descanso, voltando para a sua posição de destaque lá pelo final do primeiro tempo. Pati Llanos e Rafa Mineira revezaram o lugar de falsa 9 depois disso, mas nenhuma mostrou o fôlego necessário para que a escolha fosse útil ao jogo do Inter. 

Do outro lado, a professora Fabiana Guedes trouxe um time fechadinho que sabia se defender muito bem e aproveitar os espaços cedidos pelas Gurias. Contudo, seu ponto alto não foi exatamente a fluidez do ataque mas, sim, “a bola parada que ganha jogo”, como bem insistiu o trio que comandou a jornada esportiva na TV Massa Bruta. A bola parada veio e realmente ganhou o jogo. 

A maior atuação do lado das Bragantinas foi, sem dúvidas, a da zagueira Géssica. A defensora abriu a goleada cabeceando o levantamento da colega Jane para dentro da meta e deu assistência para o gol de Ana Clara, que também nasceu de uma cobrança de falta mas, dessa vez, de Carol Tavares. Dois gols praticamente iguais, ambos nas costas da zaga colorada e finalizados em menos de 4 minutos, deixaram o time paulista na frente perto do final do primeiro tempo. 

Na volta para a segunda metade do jogo, Júlia Bianchi e Pati Llanos deram lugar para Anny Marabá e Paola no time do Inter, na tentativa de deixar o ataque mais efetivo, porém, nada mudou. O time gaúcho seguiu sem conseguir trocar passes de maneira livre, já que a marcação das adversárias era intensa e não deixava espaço para que as Gurias Coloradas respirassem. 

Aos 29 minutos da etapa complementar, um ataque insistente do Bragantino foi cortado pela zaga do Inter, porém a atacante Thayslane pegou o rebote e terminou de pregar o caixão vermelho. Bragantinas 3, Gurias Coloradas 0. 

Se do lado paulista o destaque foi Géssica, do lado gaúcho o destaque foi a habilidade de Jorge Barcelos de não aprender com os seus próprios erros. É tempo de se renovar, professor! Se o senhor não quiser dar o braço a torcer para todas as críticas absolutamente fundadas e abandonar as suas idiossincrasias, tudo bem. Nesse caso, talvez melhor do que sair da sua cabeça, talvez seja sair da casamata do Inter. 

As Gurias Coloradas voltam a campo na segunda-feira (31), diante das leoas do Sport Club Recife, mandando no SESC da Protásio Alves. Gostaria de terminar este texto com uma frase esperançosa, mas não consigo. Tendo em vista a qualidade do nosso elenco e o tamanho do nosso time, parafrasearei uma das minhas músicas favoritas da Guarda Popular: não importa o que aconteça, jogadoras, joguem pela camiseta!

Por Luiza Corrêa

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


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