Inter de Jorge Barcelos não convence e perde para o Bahia na estreia do Brasileirão A1
Na tarde deste sábado (22), Jorge Barcelos levou as Gurias Coloradas a campo para enfrentar o Bahia de Felipe Freitas, no Sesc Protásio Alves, e o que mostrou foi mais da mesma insistência descuidada da temporada passada. O Internacional estreou perdendo por 3 a 2 para as Mulheres de Aço por tentar ser o mesmo time que tinha Priscila e Tamara Bolt em seu plantel. A insistência em um desenho tático que deu certo no passado, mas não funciona mais com as peças atuais, pode ser a ruína de um elenco talentoso e identificado.

Os erros começaram com a escalação confusa e desajeitada que abriu mão de Tainá como goleira titular, colocou Rafa Mineira como falsa 9 e ainda insistiu na centroavante Julieta no meio-campo. Além disso, a volta de Eskerdinha, mesmo como segunda opção na lateral esquerda, traz flashbacks de guerra à mente de qualquer colorado que lembra da última passagem da jogadora pelo clube. Uma bagunça anunciando a tragédia que estava por vir. Spoiler: nem com uma a mais e jogando em casa, o time de Porto Alegre conseguiu dominar o jogo.
Para ser justa, o início do jogo começou a escrever uma história que parecia estar levando para um final feliz. Anny Marabá se mostrou uma boa dupla para a atacante Belén Aquino e tentou ao máximo servir a ponta esquerda que buscava seu primeiro gol na temporada. É importante que entendamos que Aquino precisa de uma companheira à altura para que renda o mesmo que rendeu ao lado de Priscila, mas também é importante lembrar que só existe uma Priscila no mundo e que esta está vestindo as cores do América do México. Mesmo assim, já aos 3 minutos, a camisa 9 serviu a colega uruguaia, que finalizou por cima da meta, direto para fora.
A partida evoluiu para um confronto intenso e bastante ativo, com os dois lados insistindo e bombardeando as traves e a linha de fundo. Aos 10, a lateral colorada Lorrany cabeceou para fora. Aos 15, a meia tricolor Suelen finalizou da entrada da área ao infinito e além. Esse número de tentativas falhas, geralmente desenha uma abertura de placar e dessa vez não foi diferente.
Três minutos depois da tentativa de Suelen, Rafa Mineira entregou a bola nos pés de Belén Aquino e a uruguaia finalizou bem no canto da meta das Mulheres de Aço. A goleira Anny até se esforçou, mas não conseguiu chegar. Mostrando seu sangue “charrua y colorado”, Aquino inaugurou o marcador do Brasileirão 2025 e colocou o Inter na frente no placar.
O jogo seguiu com o Colorado tentando ampliar e com o Tricolor da Bahia se defendendo bem. Anny Marabá tentou de cavadinha, a zagueira Leticia Debiasi tentou de cabeça, Rafa Mineira tentou uma finalização com curva que acabou nas mãos da goleira Yanne, mas nenhuma conseguiu. Com os ânimos lá em cima, as Gurias Coloradas terminaram o primeiro tempo na frente no marcador.

Nas palavras do professor Barcelos ao GZH, o Internacional entrou “um pouco sonolento no segundo tempo”. Mesmo que isso seja verdade, a sonolência das Gurias não foi nem de longe o único motivo para o empate repentino logo no início da etapa complementar. A razão para o apagão da zaga colorada tem nome, endereço e CPF. A atacante Kaiuska, vinda do banco de reservas, bagunçou a defesa do time de Porto Alegre e deixou seu gol logo aos 2 minutos do segundo tempo.
Aos 13, Suelen cobrou uma falta que Mayara precisou defender para longe, deixando a bola para que a atacante Vilma tentasse uma segunda finalização. Mais uma vez, a defesa saiu sem segurança alguma e acabou na cabeça de Mila Santos, que mandou a bola direto para o fundo da rede. A autora do segundo gol das Mulheres de Aço foi expulsa aos 22 minutos por conta do segundo cartão amarelo.
Aos 34 minutos, Paola, alvo da falta que ejetou Mila Santos do jogo, empatou com um golaço. A diferenciada meia Julia Bianchi lançou a bola do campo de defesa até o campo de ataque em um passe extraordinário que caiu nos pés da camisa 7. Sem hesitar, Paola encheu o véu da noiva e acordou todas as corujinhas que ali dormiam com uma bucha de pé direito. A atacante comemorou muito esse gol e foi até possível sentir que a vitória estava próxima.
Ambas as torcidas reclamaram de lances onde a ajuda do VAR teria sido fundamental para resolver. Mãos na bola dentro da área, saída perigosa das goleiras e entradas por baixo violentas angariaram o estresse das equipes, mas a arbitragem seguiu gelada e inabalável, mandando o jogo seguir.
Tanto seguiu que aos 51 minutos, Ellen ampliou para o Bahia e garantiu a vitória Tricolor. Esse gol, inclusive, está na conta de Capelinha e Bruna Benites – que já havia falhado em outros momentos do jogo. As defensoras foram de corpo mole tentar afastar um levantamento desajeitado que saiu do campo de defesa do Bahia e não conseguiram nem tocar na bola. Ellen, ganhando a dividida com a capitã do Inter, meteu para dentro do gol. A cena que se seguiu foi um montinho tricolor em comemoração surgindo dentro da área do Inter enquanto a volante colorada Marzia levou às mãos à cabeça estática e confusa tentando entender como sua defesa havia entregado um gol daqueles. A gente também não entendeu, Marzia!
Se meus conselhos valessem de alguma coisa, eu diria que Barcelos precisa começar a entender as particularidades de suas jogadoras para montar um plano que se adeque a elas. É ineficiente e desrespeitoso que ele mantenha um desenho tático que deu certo com jogadoras passadas esperando que as novas atletas simplesmente se transformem nas anteriores. Jorge Barcelos precisa ser criativo, ousado e responsável na hora montar seus times ou vamos continuar vendo um grupo sem estabilidade para se manter ofensivo, já que várias delas estão em posições que não contemplam suas habilidades.
Muita coisa para pensar em pouquíssimo tempo. Já na próxima quarta-feira (26), o Inter viaja até Santana de Parnaíba para enfrentar o RedBull Bragantino no estádio Gabriel Marques Silva às 17h. Que as noites quentes de Porto Alegre acendam o fogo da sabedoria na cabeça de Jorge Barcelos e façam ele lembrar que Lorrany não é Tamara Bolt e que Thaini não é uma opção abaixo de Eskerdinha de jeito nenhum.
Por Luiza Corrêa
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.