AS ÁGUAS QUE NOS TROUXERAM ATÉ AQUI


A temporada 2024 do Colorado, entre lamas e renascimento

Foto: Ricardo Duarte/ SC Internacional

Chegar ao final deste 2024 e pensar sobre tudo o que aconteceu no Sport Club Internacional, nesta temporada, passa por uma ligação impossível de ser cortada com o todo dentro do estado. Parece meio óbvio afirmar que não se pode desligar o clube de sua “localização”, mas desta vez foi além da geografia, tudo que passou por aqui e todas as águas que nos trouxeram como clube ao fim de 2024 são uma história longa e de muitas nuances.

Antes de fechar as cortinas de 2024 e decretar totalmente fracassada uma temporada é preciso refletir sobre como correram os rios até aqui. Se hoje, na beirada de 2025 discutimos se são cabíveis as vendas de Wesley, de Vitão, de Thiago Maia, Wanderson e todas as especulações a respeito dos atletas enquanto se contam, calculam cifras altíssimas pela saída do jovem Gabriel Carvalho, a gente se imagina lá em janeiro deste ano. Começamos a temporada com expectativas altíssimas, e mente quem diz que não! Chegávamos a 2024 esperando muito, querendo muito e tendo condições de fazê-lo.

Continuidade de trabalho, ingredientes importantes em um mercado de futebol tão acirrado e imediatista quanto o brasileiro, era justamente o que Eduardo Coudet recebia e com alto respaldo no começo do ano. O primeiro balde água fria, no entanto, chegou mais cedo do que se planejava o mais pessimista dos torcedores: logo na semifinal do Campeonato Gaúcho o Colorado foi derrotado pelo Juventude, numa sequência de jogos repleta de intempéries. O Inter ainda assim prometia boas coisas. Em meio a queda houveram as apresentações dos reforços: Thiago Maia, Fernando Régis e Rafael Borré, badalados reforços.

O mês de abril iniciou com estreia no Brasileirão e um vitória de virada, com vitórias pela Copa Sul-Americana embaladas pela classificação à próxima fase da Copa do Brasil, o vexame do Gauchão ainda respingava, mas parecia aos poucos ficar mais distante. Aí ela veio, imensa. Veio arrastando, invadindo, sujando, afogando. Chegou grande, menos barulhenta do que devastadora, a água que sempre foi motivo de beleza, do Guaíba abençoado e do pôr do sol mais bonito que se vê, chegou sangrenta, densa, assassina…Chegou roubando casa, roubando o ar, roubando vidas, chegou deixando um rastro que nunca mais será apagado, assim como os sonhos, as memórias, os laços, as vidas ceifadas daqueles que foram e os que nem ao menos foram e encontrados por suas famílias.


Maio veio gritante, espalhafatoso e trouxe consigo uma tragédia sem precedentes.

O futebol que retornou praticamente um mês depois trazia ainda marcas, a distância de casa, tudo e a todos que foram afetados, física, mental e psicologicamente, o luto enlameado e suas marcas. O futebol não retornou em grande estilo, nem com grandes resultados, tal qual a lama ainda não havia sido totalmente expurgada das casas e localidades.

No rastro e na ausência de futebol, Eduardo Coudet também ficou pelo caminho, a incógnita de quem seria o novo treinador foi respondida por um anúncio que mexeu com ambos os clubes da dupla gre-NAL: em 18 de julho Roger Machado foi anunciado como treinador Colorado. O ex-atleta e treinador gremista fazia com que bases lá do outro lado da cidade fossem mexidas como consequência.

A apresentação de Roger foi de certa forma surpreendente, afinal, havia sim muito tempo que não se via pelos pampas que alguém tão identificado com um dos times da dupla gre-NAL era apresentado justamente pelo seu arquirrival. Aqui eu posso e devo falar por mim mesma no quanto houve desconfiança de um trabalho honesto vindo do professor, outra vez a Jéssica que escreve um tanto de bobagens, vontades e opiniões precisa pedir desculpas ao Roger, eu não fazia ideia do meu vacilo.

O trabalho do professor, no entanto, demorou a encorpar. O Inter de Roger Machado perdeu a sua estreia, uma derrota encardida, mas a última de uma sequência que imprimiria 17 partidas de invencibilidade.

O Colorado demorou a conquistar sua primeira vitória, deixou pulgas atrás de muitas orelhas, mas não perdia e isso pesou emocionalmente e na tabela, assim Roger foi construindo um time que sentia o sabor de um sonho: o tetracampeonato brasileiro.

Na construção do Inter que sonhava, empolgava e não perdia, crescia Gabriel Carvalho da base. Menino, moleque , aos 17 anos, mas que sabia muito bem o que estava fazendo. Crescia também Wesley, de longe o menos badalado dos reforços, de longe um dos mais importantes deles.

O sonho foi doce, grande e esteve tão perto. O Clube do Povo que renasceu da lama, das perdas, da derrocada, sentiu o bafo quente de um sonho doce e bonito. O Internacional que chegou até aqui e no fim das contas desta balança deve mais do que sobra sim, ainda torce da roupa a água suja, mas que em momento algum, com o peso que houve deixou de sonhar, tanto quanto não deixou de olhar para seu povo.

Que venha um 2025 de menos lutas, de mais colheitas, de mais Gabrieis Carvalho e menos contas negativas.

Por Jéssica Salini

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


Deixe um comentário

Veja Também:

Faça o login

Cadastre-se