O JOGO DA VIDA


Arena do Grêmio e bairros ao redor estão tomados pela água. Foto: Ramiro Sanches

No nome do estado já se revela uma grandeza, um poderoso rio do sul que impacta com sua imponência. O gaúcho, figura marcante, é reconhecido pelo seu fervor bairrista, pelo amor incondicional à sua terra e à sua rica cultura.

Rio Grande do Sul, com sua capital Porto Alegre, que já testemunhou sorrisos, que há uma semana desapareceram, junto com seus cartões postais, como o Mercado Público, a casa do poeta Mario Quintana, a Arena do Grêmio, o Estádio Beira-Rio, entre outros, todos submersos pelas águas revoltas.

Após o fatídico evento de 1941, naquele mesmo mês, de final de abril e início de maio, o Rio Grande do Sul se vê hoje, 83 anos depois, diante de sua maior catástrofe ambiental. Me lembro da minha bisavó dizer e contar como foi na época as ruas sendo tomadas pelas águas e eu dizer “vó isso não acontecerá mais!” e ela responder: “o rio um dia tomará o lugar que é dele.” Dos 497 municípios do estado, 397 estão enfrentando problemas relacionados às intensas chuvas. Cidades inteiras foram arrasadas do mapa, vidas ceifadas em meio à fúria das águas, enquanto outras tantas vidas ainda esperam resgates.

Talvez o restante do Brasil não compreenda a verdadeira dimensão do estrago no Rio Grande do Sul. O que foi perdido vai além das casas e das ruas inundadas; é o tecido social, a história, a identidade de um povo, são vidas. O lamento ecoa pelas terras gaúchas, enquanto se busca reconstruir não apenas as estruturas físicas, mas também o espírito resiliente de um povo que nunca desiste de lutar pelo seu lar.

Mas como diz um trecho de nosso hino, “sirvam nossas façanhas de modelo a terra!” Olhem para o sul e vejam esse povo que, mesmo sem nada, está ajudando o próximo. Na Serra, nos Vales, na Capital, na Região Metropolitana, indivíduos comuns, como eu e você, transformam-se em heróis, resgatando vidas dos bairros que hoje são tragados pelas águas.

Mas o que isso tem a ver com futebol? Talvez tudo. O futebol é união, é amor, e enquanto um estado chora e ainda não sabe a dimensão de tudo que está por vir, o Campeonato Brasileiro segue sua tabela como se nada estivesse acontecendo, e isso não é culpa dos clubes, muitos já demonstraram apoio e solidarizaram com o sul. 

Enquanto os jogos seguem rolando, em Porto Alegre e sem holofotes, o goleiro Caíque realiza verdadeiros milagres, salvando pessoas ilhadas. Em outra cidade, atravessando o rio, Diego Costa corre em busca de ajudar nos resgates. E ainda em Porto Alegre, Rochet e Enner Valencia estendem suas mãos em doações, esses são exemplos entre outros atletas e ex-atletas que não estão medindo forças para ajudar, junto à população.

Neste jogo chamado vida, o maior vencedor é o povo gaúcho. Nos gramados, as rivalidades dão lugar à solidariedade, e o que importa não são os gols marcados, mas sim as vidas salvas e o espírito de comunidade que se ergue das águas turbulentas. No coração do Rio Grande do Sul, a força do povo mostra-se inabalável, transcendendo até mesmo os embates esportivos.

Estádio Beira-Rio e entorno completamente alagados. Foto: Anselmo Cunha/AFP

Por isso, orem pelo Rio Grande do Sul! Quem puder ajudar, pessoas de fora do estado, ajudem como puderem. Está faltando itens básicos, água, medicamentos, roupas íntimas, produtos de higiene e quando passar, precisaremos de produtos de limpeza. Estamos vivendo momentos difíceis e teremos meses pela frente de reconstrução. 

Por Noara Tainá


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