A Baixada Santista nunca mais foi a mesma desde que Edson Arantes do Nascimento pisou em suas terras, ou de forma mais precisa, em Santos. Por todos os cantos da cidade praiana é rotineiro encontrar estátuas, desenhos, pessoas ostentando a camisa 10 com o escudo do time que Edson, mais conhecido como Pelé, defendeu e honrou com tanto amor até o fim de sua vida.
Você pode não gostar de futebol, mas quem vive ou já viveu no território caiçara sabe que Pelé é um patrimônio histórico, uma lenda viva. E isso é ainda mais forte se você pertencer a uma família de santistas. É impossível falar de Santos sem falar de Pelé. Parafraseando Claudinho e Buchecha, é como se fosse um “avião sem asa, fogueira sem brasa”. O Santos já existia antes de Pelé, já conquistava títulos antes dele, mas foi com a sua chegada e genialidade, que o Santos Futebol Clube foi conhecido por todo o mundo e que uma história de amor se iniciou.
Pelé sempre foi predestinado. Foi um dos primeiros a chegar onde muitos não conseguiram. Conquistou coisas que até hoje, são consideradas impossíveis de serem feitas novamente. Ganhou o reconhecimento mundial, além de abrir portas e dar esperança para muitos meninos, que assim como ele viram no futebol a esperança de mudar de vida.
Junto com o ataque dos sonhos, Pelé levou o Santos a conquistar seus maiores títulos. Um dos maiores não foi um troféu: por algumas horas uma guerra parou para ver o Santos de Pelé jogar. O que muitas autoridades não conseguiam, o futebol arte conseguiu. É meio doido pensar nisso, não é mesmo?
Se o brasileiro tem esse transtorno de “vira-lata” e valoriza o que é de fora, o santista tem uma devoção ao Pelé sem igual. A gente nasce e cresce escutando ouvir falar de Pelé. A primeira camisa do Santos? Tem que ter o número 10 nas costas. É como se fosse uma bênção do Rei para a nova geração de santistas que está a caminho. Afinal, torcer para o time do Rei é um orgulho que nem todos podem ter.
A grandiosidade deste ser é algo que não dá para explicar, mas a gente tenta. Nenhum estádio do mundo tem a energia do lugar que o Rei tanto amou. A gente cresce com a consciência de que estamos pisando em um solo sagrado, e convenhamos, clubismo a parte, a Vila Belmiro é surreal. Nunca vi na vida um lugar que combinasse tão bem com alguém como a Vila e o Pelé. Cada canto deste lugar traz uma história e uma energia diferente em relação a ele, e pensar nisso, faz meus os olhos encherem d’água.
Eu não vi Pelé jogar. Mas cresci ouvindo sobre os seus feitos e quando fui crescendo passei a ler mais e buscar vídeos de cada lance magistral. Que sorte tiveram os meus avós, que mesmo torcendo para outros times, tiveram a honra de viverem no auge do encanto do Rei e mesmo torcendo para um alvinegro rival, que sofreu com o talento dele, eles o exaltavam.
Além de ser um ícone, ele era como nós, um torcedor. Supersticioso, ao encerrar a carreira como jogador, seu armário no vestiário santista continuou intacto, lacrado e com um presente especial que afirmou que seria um amuleto da sorte ao time que o acolheu e aprendeu a amar. Quando criança, eu tinha muita curiosidade em saber o que ele tinha deixado ali, mas não queria que aquele dia chegasse… O dia que aquilo poderia ser descoberto.
Com o passar dos anos, a devoção a Pelé continuou firme e forte em solo santista, e em certos momentos, ainda mais sólida. Além do monumento de um peixe na entrada da cidade, temos a estátua de uma camisa alvinegra com o nome e número 10 do Rei e a cada vez que passamos por ela, sentimos uma sensação de pertencimento, de estar em casa a cada retorno de viagem.
E por falar em retorno, ele voltará para casa pela última vez, e não mais em vida. Na próxima segunda-feira (2), seu corpo será levado ao lugar que tanto amou.
O dia seguinte a sua partida amanheceu nublado e chuvoso. Com um clima estranho, frio, triste. O Museu que carrega o seu nome estava cheio, a padaria que sempre passava para ver os amigos estava com seus visitantes tristes, e a Vila Belmiro silenciosa…
Todo o canto da cidade que possui uma estátua de Pelé estava repleto de flores, no Museu, na Vila, na praça da padaria e inclusive nas escadarias da prefeitura. As cidades da região decretaram dias de luto, e em Santos, horas antes da virada, os hinos do Peixe serão entoados por uma orquestra e diversos drones farão uma linda homenagem no céu. Eu nunca vi algo igual. Talvez, porque ele não era igual a ninguém, era diferenciado demais, como diria seu grande amigo Pepe, o Pelé era um ET (risos).
Seu último pedido será respeitado: o velório será aberto ao público no gramado do estádio de sua maior paixão. A gente nasce, vive e morre Santos… Nem todos podem ter esse orgulho. Mas Pelé teve e terá por toda a eternidade. Um pedaço da história de cada torcedor alvinegro e também dos brasileiros apaixonados pelo esporte se vai junto com ele, mas o legado de Pelé será eterno e perpetuado por toda a eternidade.
Por Carolina Ribeiro
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo