O CLÁSSICO QUE NÃO ACONTECEU QUANDO A BOÇALIDADE VENCEU


Um sábado de sol, calor e greNAL, coisas que um amante de futebol gaúcho ama e aprende a criar laços desde cedo, mas que foi manchado pela barbárie humana

Foto: Divulgação Grêmio

Se no futebol nacional Grêmio e Internacional estão separados por uma divisão, o Gauchão dava a ambos e ao torcedor, a oportunidade de um clássico com toda a rivalidade característica de um dos confrontos mais importantes e emblemáticos do Brasil. No entanto, o que houve no clássico 435 passa longe de qualquer sentimento que possa ou deva ser ligado ao amor por seus clubes e ao respeito com a camiseta que se veste. 

Fora de campo tudo que  distância o futebol e a paixão que envolve um verdadeiro torcedor foi posto à mesa, e não é de hoje. O clima extremamente hostil entre determinados grupos e as torcidas vem sendo alimentado. Alimentado de forma covarde, quando no último clássico pelo Campeonato Brasileiro, aquele com sabor de rebaixamento gremista, uma van de torcedores colorados do interior sofreu uma emboscada em uma das cidades perto de Porto Alegre. Foi alimentado quando ainda na manhã deste sábado outra emboscada foi realizada e um torcedor foi espancado, enquanto o vídeo era exibido como um troféu pela torcida agressora. Foi alimentado quando houve uma batalha campal em Novo Hamburgo, quando elementos de ambos os lados se enfrentaram a céu aberto, sem consequências e que também pouco encontraram punição. Foi alimentado quando o setor visitante do estádio Beira Rio foi danificado e as imagens rondam como troféus.

Torcedores colorados que vinham de Caxias do Sul e foram emboscados na partida válida pelo Campeonato Brasileiro 2021.

Sabemos que a pedra que atingiu o ônibus do Grêmio durante o seu deslocamento para a Padre Cacique e que atingiu de forma covarde os atletas tricolores, não tem só uma mão por trás. É necessário buscar o rosto criminoso de quem lhe atirou, mas já passou da hora de tomar ações que coibam atrocidades como as ocorridas neste 26 de fevereiro. 

A rivalidade não pode ser argumento ou explicação para algo que ultrapassa o mínimo senso de existência. 

A pedra que atingiu Villasanti  foi disparada antes por muitas outras mãos,  atingiu muitos outros. A pedra que acertou o atleta já bateu em muitos outros, alguns que estavam em meio a confusão por querer, outros que nem deveriam estar ali. Na história que mancha o clássico e afasta o futebol de si, não existem somente mocinhos e bandidos, nem de fato um lado de vítimas e outro de vilões. Na verdade existe a alimentação da barbárie, a falta proposital do trabalho mínimo dos órgãos de segurança. Muitas soluções “fáceis” são propostas, mas seguem sendo ignorados os reais problemas por trás de tamanha brutalidade. 

O clássico que não aconteceu neste sábado, no Beira Rio, também foi atingido. Morre a cada episódio de violência permeando o esporte um bocado de tudo que faz dele tão grande, tão histórico, tão intenso. 

Que a gente saiba também enxergar as mãos que alimentam a boçalidade e que atiram pedras sem direção.

Por Jéssica Salini

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


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