Se é para se falar em Copas do Mundo, é preciso antes da bola rolar no Catar pensar naquelas que não podem ser esquecidas ou que precisam ser preservadas.
Nessa balança fizemos algumas escolhas para celebrar a ansiedade de mais um dia 21 à espera.
A PRIMEIRA
A história da Copa do Mundo se entrelaça com outro dia 21, desta vez 21 de maio de 1904. Na ocasião dirigentes de 7 países fundaram o que conhecemos hoje por FIFA, a entidade que rege o futebol mundial. No primeiro momento, as nações envolvidas eram: Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Suécia e Suíça, mas, posteriormente se juntaram a eles Alemanha, Áustria, Hungria e Itália. A terra mãe do futebol, Inglaterra, se juntou ao grupo somente em 1905 e quando a faísca da celebração do esporte surgiu.
A idéia havia sido plantada e germinada, mas teve de ser guardada, quando eclodiu no mundo a Primeira Guerra Mundial, em 1914.
Quando Jules Rimet assumiu a FIFA, nos anos 20, a bola esteve mais próxima de rolar. Em maio de 1928, em um congresso em Amsterdã, por 23 votos a 3 decidiu-se pôr em prática a competição. Em setembro do mesmo ano, a decisão foi tomada sobre a frequência da competição, que seria realizada de 4 em 4 anos. A sede foi decidida a base de promessas. Espanha, Holanda, Hungria, Itália e Suécia se candidataram para sediar a primeira edição, mas foi o Uruguai quem levou para casa a Copa do Mundo de 1930. Dentre as promessas, o país celeste ofereceu a construção de um super estádio e o pagamento das despesas de viagem e alimentação para todas as seleções.
A escolha da sede, no entanto, não agradou a parte européia. A Itália puxou um boicote à competição motivada pelo ego ferido dos gringos, que queriam à todo custo sediar o Mundial. Desta forma, “Copa do Uruguai” contou com 13 equipes que foram divididas em 4 grupos:
Grupo A: Argentina, Chile, França e México.
Grupo B: Bolívia, Brasil e Iugoslávia.
Grupo C: Peru, Romênia e Uruguai.
Grupo D: Bélgica, Estados Unidos e Paraguai.
A final chegaram, sem nenhuma surpresa, Argentina e Uruguai. Os donos da casa levaram a melhor e a taça Jules Rimet: por 4 a 2, a Celeste se tornou a primeira campeã mundial!
“LA MANO DE DIOS”
Certamente você já ouviu falar de “La mano de Dios”, a famosa mão santa de Maradona e o seu gol histórico na Copa de 1986. Esse fato histórico, que até virou tema de livros e filmes na Argentina, ocorreu no dia 22 de Junho, nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986, no estádio Azteca (México), na partida entre Argentina x Inglaterra.
Além de valer vaga na semifinal, a partida era importante pelo contexto das duas equipes que vinham da rivalidade da Copa de 1966, realizada na Inglaterra. Na ocasião, o jogador argentino Rattín zombou da bandeira Inglesa em um lance de escanteio, além de sentar no tapete da Rainha, acirrando a rivalidade.
O lance do gol aconteceu aos 6′ da etapa final, no momento em que a partida ainda estava 0x0. A jogada começou com Steve Hodge, zagueiro da Inglaterra tentando afastar a bola com um chutão para o alto. O que o atleta não esperava, era que a bola fosse para dentro da grande área, onde se encontrava o camisa 10, Diego Maradona, que com o punho cerrado, pulou e, com a mão, mandou a bola para o fundo das redes, gerando revolta no time Inglês.
Minutos depois a seleção Argentina voltou a balançar as redes, mais uma vez com Maradona em um verdadeiro golaço, que ficou conhecido como o “Gol do século”. Lineker diminuiu para a Inglaterra, mas a partida acabou em 2×1 para os Albicelestes. A seleção Argentina ainda derrotou a Bélgica na semifinal e venceu a Alemanha na decisão para ficar com seu segundo título na história.
No livro “Tocado por Deus: Como Nós Vencemos a Copa do Mundo de 86 do México” lançado em 2017, Diego Maradona contou alguns detalhes desse lance:
“A bola tocou a rede e tudo, não tinha chances de alguém ter visto. Nem o árbitro, nem o assistente, nem Shilton, que estava atordoado olhando para a bola. O único que entendeu o que aconteceu foi Fenwick, o último homem entre eu e o gol. Mas, exceto ele, ninguém. Saí correndo para comemorar. Continuei correndo, sem olhar para trás. ‘Checo’ Batista veio até mim e perguntou “você desviou com a mão, não foi? Você usou a mão?”. Eu respondi “cala a merda da boca e continua comemorando”. Eu estava com medo do gol ser anulado, mas não foi”.
Maradona ainda relatou o medo de ter o seu gol anulado mesmo após o fim da partida:
“Na coletiva de imprensa, eu não sabia como reagir. A princípio, eu continuei falando que tinha cabeceado. Não sei, eu temia que, como ainda estava no estádio, eles poderiam anular o gol. Como eu poderia saber?..”
Porém no final, o então camisa 10 acabou relatando:
“Mas depois, eu disse para alguém “foi a cabeça do Maradona e a mão de Deus”. Não me arrependo de ter marcado com a mão, nem um pouco. Nem agora e nem no meu leito de morte”.
“ACABOU, É PENTA, É PENTA..”
Não tem um que não volte no dia 30 de junho de 2002 quando lembra dessa frase da histórica narração de Galvão Bueno. Vamos relembrar alguns momentos dessa trajetória, e claro, desse dia que selou nosso último título levantado até o momento; e que nos torna o maior campeão de Copas do Mundo!
Nossa convocação começou dia 5 de maio de 2002. Felipão anunciou os seus escolhidos com algumas mudanças que dividiram a opinião da torcida. O “baixinho” Romário ficou de fora, enquanto o fenômeno Ronaldo, que havia passado por um processo de lesões no joelho, integrava o grupo dos 23 atletas escolhidos. Para deixar a torcida ainda mais aflita, o meia e capitão Emerson acabou sendo cortado da seleção na véspera da nossa estreia, após participar de um “rachão” e lesionar seu ombro na trave.
Quando a bola rolou, a seleção Brasileira deu aula na fase de grupos, passando com 100% de aproveitamento. Foram 11 gols marcados e apenas três sofridos. Nas oitavas tivemos um difícil duelo diante da Bélgica, mas no final deu Brasil por 2×0 e partiu quartas de final!
Na fase seguinte foi a vez de encontrar a Inglaterra e com um golaço memorável de Ronaldinho Gaúcho viramos o jogo para 2×1. Assim nos classificamos para as semifinais.
A um passo de chegarmos na nossa terceira final consecutiva, a seleção Canarinho duelou diante da Turquia. Com gol de Ronaldo chegamos ao sonhado jogo da taça.
A grande final ficou marcada entre a equipe tetracampeã contra o time tricampeão, que no caso era a Alemanha. Com uma declaração pré jogo de que “para o Brasil ser campeão teria de passar por ele primeiro”, o clima era tenso. O goleiro Kahn foi destaque no nosso primeiro gol, após uma falha grotesca, e o tão contestado Ronaldo abriu o marcador aos 22′ da etapa final. Mostrando que tinha sim futebol para ser convocado, o Fenômeno marcou o segundo gol da partida, dando números finais ao jogo e selando nosso pentacampeonato. De forma merecida, com um futebol bom de assistir, de comentar pós jogo e ficar esperançoso para as próximas partidas.
O dia 30 de Junho de 2002 certamente está guardado na mente de todo brasileiro, que no fundo sente falta desse time, dessa energia, da entrega do elenco, e claro da memorável comemoração de Cafu subindo no palanque da taça para erguer nosso título!
“Único penta é o Brasilzão!”
A COPA NO BRASIL
Ainda em outubro de 2007, a sede de 2014 já era sabida. No Brasil a copa que despertou a brasilidade e a esperança do hexa em milhões de corações. Mas também, a copa que despedaçou sem piedade nossos corações e dentro de casa.
O não merecimento do país sede começou antes da bola rolar, com escândalos envolvendo o superfaturamento na construção do estádio Mané Garrincha. O custo da obra saltou de R$ 688 milhões para R$ 1,403 bilhão. Em São Paulo, na Neo Química Atena, dois operários morreram em 27 de novembro de 2013, quando um guindaste caiu derrubando parte da obra do estádio de abertura do Mundial.
O Brasil não era só o dono do campinho e da festa, mas ao lado da Espanha largava como um dos favoritos ao título. Mal sabiamos o que viria ali na frente.
Campeão da Copa das Confederações em 2013, de forma invicta, a canarinho vinha recuperando seu brio sob o comando de Luis Felipe Scolari. A estreia do Brasil contra a Croácia foi mais um sinal de que algo poderia não ser tão mágico naquele ano. O primeiro gol do Brasil e da edição foi justamente contra. Os brasileiros passaram pela fase de grupos com duas vitórias e um empate, ao lado do México, que tinha os mesmos 7 pontos.
No mata-mata, o Brasil eliminou o Chile pelas oitavas de final. O empate em 1 a 1 levou a decisão aos pênaltis e o Brasil se deu bem. Na fase seguinte, a Colômbia ficou pelo caminho, após perder para o Brasil por 2 a 1.
“Eu só queria poder dar alegria pro meu povo”, a frase que ficou marcada pelas lágrimas de David Luiz depois do confronto contra a Alemanha pelas semifinais relembra o horror da tarde ensolarada de domingo. Em 8 de julho de 2014, a Alemanha aplicou uma goleada histórica sobre os donos da casa, o 7 a 1 que marcou a copa do mundo e arrancou o sorriso dos anfitriões de forma cruel.
Para o brasileiro ainda podia ficar mais amargo. Na final chegaram, a Alemanha, depois de atropelar a seleção canarinho, e também os nossos vizinhos e hermanos. A Argentina passou pela Holanda nos pênaltis, após um 0 a 0 no tempo normal. No entanto, Götze foi o carrasco do time argentino e marcou o gol que levou a Alemanha ao pódio.
Há 302 dias da Copa do Catar, compartilhamos nossas copas históricas, mas há de se pesar, que cada um deve ter a sua edição preferida. Que surpresas nos esperam no Catar? Quais serão os carrascos, teremos zebra? E o Hexa, será que desta vez ele vem ?
Por Jéssica Salini e Thais Santos, setoristas no Portal Mulheres em Campo.
*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Portal Mulheres em Campo.