O GRITO DE CAMPEÃO DE QUEM CARREGA A MISSÃO DE CANTAR POR QUEM JÁ PARTIU


Foto: reprodução internet

Nesta quinta-feira (2), o Clube Atlético Mineiro reconquistou o campeonato nacional. Após 50 anos da primeira conquista findou-se o maior jejum de títulos do Campeonato Brasileiro, o Galo foi bicampeão.

50 anos, metade de um século em busca de sagrar se outra vez o melhor time do Brasil. Muitas coisa mudaram desde o primeiro título conquistado em 1971, muitas vidas atleticanas são diferentes, muitos novos torcedores alvinegros chegaram e muitos outros partiram ainda sem sentir o gosto de ver o Galo outra vez o maior de todos.

Eu não tenho o coração atleticano e hoje recai sobre os ombros do meu Sport Club Internacional o peso desse jejum, mas não é enfim sobre mim, nem sobre o Clube do Povo, é sobre aqueles que nos ensinam a amar um clube e partem antes que a maior das conquistas chegue. 

A festa do Galo ainda não acabou, o torcedor ainda conta segundos ansiosos para a entrega da taça tão desejada que irá ocorrer neste domingo (5). Ela, que já é do Atlético, ainda precisa ser erguida sob os olhos do seu torcedor no Mineirão, mas muitos torcedores, pais, filhas, netos, sobrinhos terão olhos por muitos outros que já não poderão estar presentes.

Essa crônica é para falar sobre espera, sobre quantas rodas de conversa o pai que hoje não pode ver o Galo campeão teve com seu menino, sobre quantos olhares em prece se voltarão ao céu sabendo que aqueles que já se foram os olham de volta lá de cima. 

Explicar futebol taticamente sempre será muito mais simples do que quando precisamos falar do sentimento, não existem números ou vídeos que expliquem a pele que arrepia ao passar por uma catraca, não há um estudo tático sobre o abraço de gol no primeiro desconhecido ao alcance, não existem medidas sobre o gosto de uma lágrima de vitória. O futebol pode ser explicado, seu sentimento jamais.

O futebol muitas vezes faz de nós menos racionais. Gritos de euforia ensandecidos, teorias clubistas, ligações que são forjadas pelo amor a um clube, herança de família que é passada de geração em geração, saudade que é acalentada dentro de um estádio de futebol.

Muitos dos que ensinaram sobre amor ao Clube Atlético Mineiro e ao futebol hoje não podem gritar em seu nome ou ver ser bordado brasão preto e branco outra estrela dourada, mas quando o amor é passado pelo futebol, não é somente sobre as conquistas. Os abraços que não foram dados ao apito final daquele Bahia e Galo na Fonte Nova, foram dados muito antes, às vezes num quase, num título que bateu na trave ou até em uma derrota tremendamente dolorosa.

As vozes daqueles que partiram antes do gol do Keno foram soltas e libertas a cada lembrança, cada olhar ou lágrima derramada por alguém que aqui ficou com a missão de amar o Galo.

É sobre isso que não se pode explicar, sobre ensinar amor a algo que nem sempre será o melhor e que muitas vezes te tirara do eixo, é sobre dedicar uma vida a uma instituição tendo plena certeza que não haverá somente vitórias, que nem todos os anos serão gloriosos e que por muitas vezes a espera pode ser muito longa. É dar voz a um sentimento que lhe foi dado por alguém e é saber que pode haver um momento que é você quem ensinará e que na ausência do outro o teu amor valerá por dois.

Que se ouçam os gritos de “É campeão” de toda a massa atleticana, mas que se ouçam também as vozes de todos os que já se foram antes do título chegar.

Por Jéssica Salini

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


Um comentário sobre “O GRITO DE CAMPEÃO DE QUEM CARREGA A MISSÃO DE CANTAR POR QUEM JÁ PARTIU

Deixe um comentário

Veja Também:

Faça o login

Cadastre-se