FORMIGA: A HISTÓRIA DO FUTEBOL SENDO ESCRITA

Em 03 de março de 1978, nascia ainda sob o decreto do Estado Novo que proibia a prática do futebol por mulheres, Miraildes Maciel Motta, um nome que a história não irá esquecer

Nascia sob os olhares da lei que dizia ser contra a natureza feminina a prática do esporte mais amado do país, aquela que romperia barreiras e preconceitos, que hoje, diante dos nossos olhos ainda escreve a história da modalidade entrelaçada entre seus dribles e a sua própria trajetória.

Nasceu Miraildes Maciel Motta, o talento, a garra, a determinação e seus 1,62m a transformaram em Formiga, a incansável.

Foi no subúrbio ferroviário de Salvador que Miraildes chamou a atenção e cresceu como Formiga, ágil, forte e batalhadora a pequena filha da dona Celeste sabia que queria jogar bola, mas nem imaginava o quanto faria pelo esporte.

Mulher, negra, nordestina, pobre, o destino parecia já ter traçado escolhas e caminhos para a pequena, mas ele não fazia ideia com quem estava lidando. Aos 16 anos, Formiga vestiu a amarelinha pela primeira vez, sob o comando de Ademar Fonseca, então técnico da Seleção Brasileira.

Em 1995 a jovem vestiu pela primeira vez o manto com o qual atravessaria gerações e muitas copas do mundo. Oito anos depois, em 2003, Formiga levantou seu primeiro título, estava na história do Pan-Americano de Santo Domingo e no peito a medalha de ouro.

Depois de Santo Domingo, vieram o Rio de Janeiro em 2007 e Toronto em 2015, com as medalhas douradas batendo no mesmo peito. 

Dentre o evento futebolístico mais importante do mundo, a Formiga também fez história, mais que qualquer um Miraildes representou o Brasil com a canarinho como ninguém, foram 7 Copas do Mundo presenteadas com o talento e a força do nosso pequeno gigante pedaço de história em campo. Suécia em 1995, Estados Unidos em 1999 e 2003, China em 2007, Alemanha em 2011, Canadá em 2015 e por fim aquele que foi até hoje a maior Copa do Mundo de Futebol Feminino: França 2019.

Na França, quando o mundo todo olhava diferente para o futebol feminino e quando o mundo todo aprendia com mulheres tão fortes e soberanas ela adentrou em campo já cravando na história que ali estava a Formiga, desafiando o tempo. A jogadora mais velha a entrar em campo pela competição.

Formiga no coletivo sempre foi um elo forte de bravura e resistência, foi a Miraildes que nasceu no meio do Estado Novo e do preconceito para contar ao mundo que sonho nenhum pode ser parado, principalmente quando vem de dentro de uma mulher. A Formiga Bola de Prata em 2016.

Em 2021, ela sabia que as chuteiras com a seleção brasileira precisavam descansar. Em Tóquio sua última olimpíada, ao lado de Marta, ao lado da rainha e das muitas meninas que cresceram querendo ser Formiga, incansável.

A menina baixinha e brava que lá na frente ainda será citada por muitas Bruninhas despediu se das olimpíadas, mas ainda precisava despedir se dá amarelinha sob os nossos olhos, sob o nosso canto e sob a benção de dona Celeste.

Dona Celeste, mãe de Miraildes pode ver a filha em campo pela primeira vez dentro do estádio em sua despedida, foram 17 minutos em campo. 233 jogos, 7 Copas do Mundo, 7 Olimpíadas, mas em sua despedida Pia decidiu que ela não precisava mais do que 17 minutos, pois ela, técnica da seleção queria falar do futuro da amarelinha.

A Pia e a própria CBF que foram totalmente indignas com este momento fica nosso lamento, lamento por não enxergarem ⅒ de quem é a menina Miraildes.

A Formiga, a história segue sendo escrita sob seus pés, sob seus olhos e sob seu legado. Ainda que venham muitas copas do mundo e outras tantas olimpíadas, a camisa 8 amarelinha sempre carregará muito de Miraildes em cada minuto dentro de campo.

Obrigada Formiga, obrigada pelo infinito de futebol, de raça e representatividade!

Por Jéssica Salini e Kelly Cristine Janiro

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.