No dia 25 de novembro de 2007, depois de uma disputa duríssima na Série C, o Bahia lutou para conseguir o acesso na Série B. Na grande final, contra o Vila Nova, havia cerca de 60 mil torcedores, mais os 30 mil do lado de fora sem ingresso. A diretoria tricolor colocou um trio elétrico com alguns artistas e radialistas narrando o jogo. Foi uma grande festa dentro e fora da Fonte Nova. Porém, em meio à alegria do acesso à Série B, veio a tristeza para milhares de tricolores, principalmente para as sete famílias que perderam entes queridos.
Por volta dos 35’ do 2T, milhares de torcedores comemoram o empate pelo acesso, quando começou uma grande correria no anel superior, onde ficava a Torcida Organizada Bamor. Pessoas desesperadas falando que a Fonte Nova estava desabando, ocasionando o desespero geral, muitas pessoas pisoteadas e feridas. Logo foi confirmado que realmente uma parte da arquibancada tinha cedido e algumas pessoas caíram de uma altura com cerca de 30 metros. Três pessoas ficaram feridas e sete faleceram. Muitos torcedores não souberam do ocorrido e continuaram as comemorações, alguns até entraram em campo para comemorar com jogadores, enquanto outros corriam para socorrer os feridos.
Em seguida, a polícia isolou a área interna e externa do acidente, muitas ambulâncias chegaram ao mesmo tempo, familiares já tinham chegado ao local, um tremendo desespero para todos, até desconhecidos ficaram arrasados e dando suporte a quem precisava. Um dia de festa que se tornou um grande luto para a nação tricolor e para o futebol brasileiro. Dezenas de pessoas caíram. Sete delas morreram: Márcia Santos Cruz, Jadson Celestino Araújo Silva, Milena Vasquez Palmeira, Djalma Lima Santos, Anísio Marques Neto, Midiã Andrade Santos e Joselito Lima Jr.
O silêncio das famílias
Vários canais de telecomunicação tentaram contato com familiares das vítimas, mas não tiveram sucesso. Falar sobre o que aconteceu naquele final de tarde não é fácil para os familiares de quem perdeu a vida de uma maneira tão trágica. A reserva é, perfeitamente, compreendida diante da situação. O trauma psicológico, talvez vivido por alguns desses familiares, justifica o silêncio. Por ora, isso funciona como uma forma de defesa para impedir o retorno da dor. Afinal, aquelas vítimas haviam deixado suas casas para se divertir e torcer pelo time do coração, quando se despediram de entes queridos pela última vez.
Para os familiares e sobreviventes da tragédia, o dia 24/11/2007 não sai das cabeças e recordações. Em 2017, depois de 10 anos do acidente, Jader Landerson Azevedo dos Santos, 27 anos, um dos sobreviventes voltou à Arena Fonte Nova e conseguiu falar sobre o assunto. Desde o ocorrido, Jader e sua família nunca mais foram os mesmos – um misto de tristeza e melancolia. Naquele domingo ensolarado de 2007, a vida do então fanático torcedor do Bahia virou às avessas em frações de segundos. Por tabela, sua família também foi impactada. Ele era um adolescente que vivia sorrindo, hoje, o sorriso deu lugar a um semblante sério e compenetrado. “Volta e meia acordo durante a noite tendo pesadelo”, ressalta Jader.
Da queda, em si, não lembro nada. No dia, pela manhã, estávamos fazendo um churrasco aqui na rua. Comemorávamos o aniversário de Joselito, que era meu vizinho, assim como o Jadson. Então estava eu, eles dois, que eram primos, e mais três amigos ouvindo pagode e nos divertindo. Aí, decidimos que íamos para a partida. Encerrar a festa por lá”, contou Jader, tentando não se emocionar com as lembranças. Afinal, sua vida, em partes, foi mantida graças aos dois “melhores amigos”. Isto porque, após a abertura do buraco de pouco mais de 80 centímetros de largura e cinco metros de comprimento, Jader teve o impacto reduzido pelos corpos de Joselito e Jadson, que infelizmente, não sobreviveram.
“Apagou da minha memória. Foi um blecaute. Não lembro de nada. Nem de a arquibancada ceder, eu cair… Só soube quando estava em casa”. Antes disso, porém, foram 28 dias de internamento no Hospital Santa Izabel. O ‘saldo’ da queda de 15 metros foram uma fratura em três vértebras da coluna, uma lesão muscular em parte da coxa direita e um leve distúrbio causado pela pancada na cabeça.
Por conta das sequelas, Jader teve que fazer sessões diárias de fisioterapia. Um carro disponibilizado pelo Governo do Estado servia como transporte. “Foram dois anos, depois suspenderam e não fiz mais”, alega Jader, que acionou judicialmente o Estado por não ter recebido nenhum tipo pensão por conta do acidente.
Na época, o jornal A Tarde procurou a assessoria de comunicação da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, que informou sobre a pensão – prevista na Lei Estadual nº 10.954 criada um mês após a tragédia – é paga aos familiares das vítimas fatais do acidente. As pessoas que se machucaram, assim como Jader, receberam o amparo e o suporte do Governo. No atendimento médico, em questões assistenciais, deslocamento e transporte. Houve o pagamento do seguro obrigatório do ingresso da CBF – em torno de R$ 25 mil – todos receberam, inclusive Jader”.
Jader informa que a ‘revolta’ não se resumiu apenas aos governantes. Mas, principalmente, ao então time de coração. “Nunca mais vou frequentar um estádio de futebol”, dizia à imprensa meses após o acidente. Segundo Jader, o sentimento para com o time azul, vermelho e branco jamais foi o mesmo.
“Sabia sempre a escalação. Hoje, não conheço nenhum jogador. Não sinto mais nada pelo clube. Nesse tempo todo, não recebi uma carta, um telefonema, uma camisa… Nada, nada…”, revela.
Procurada pela reportagem, a assessoria de comunicação do Bahia afirmou que “o clube [na época sob outra gestão] esteve presente em todos os velórios e visitou todas as famílias. Além disso, houve apoio aos feridos no hospital”.
Singela homenagem para eternidade
Na Cidade Tricolor, há uma escultura feita com restos da arquibancada do antigo estádio. A Obra de Bel Borba tem os nomes das sete vítimas dessa tragédia, que marca a história do clube e dos torcedores.
Meus pêsames eterno a famílias enlutadas!
Por Thamires Barbosa
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