SÃO JANUÁRIO, A CASA DO LEGÍTIMO CLUBE DO POVO

“Te enfrentei, venci, fiz São Januário” 

Símbolo da força, da resistência e da união de sua torcida e um monumento erguido em resposta ao racismo e ao preconceito de outros clubes no futebol. Este é o Estádio Vasco da Gama, conhecido popularmente por todos como Estádio São Januário, por conta da rua no seu entorno que leva o mesmo nome. Com seus 94 anos recém completados, fica localizado no bairro Vasco da Gama, zona norte do Rio de Janeiro. É um estádio que respira história, não só no futebol, mas também fora dele e por isso, em março de 2021, após votação na Câmara dos Deputados, foi tombado como patrimônio histórico da cidade do Rio de Janeiro.

Infelizmente por conta da pandemia, não podemos ver o diferencial do estádio que sempre foi movido por sua imensa e apaixonada torcida, que até por conta disso lhe rendeu o apelido de “Caldeirão”. Se emocionar toda vez que entra em São Januário, ver o estádio pulsando nos dias de jogos, carregar o time em campo em uma só voz, faz muita falta, assim como sentir que todos fazem parte da mesma família e são amigos de longa data mesmo se vendo pela primeira vez na vida. Sem contar com o tradicional pré-jogo na Barreira do Vasco e em seu entorno. Bom, esperamos que isso possa passar logo e que em breve as arquibancadas de São Januário voltem a receber sua alma, a torcida Cruzmaltina.

O INÍCIO DA HISTÓRIA: 

Construir um estádio para abrigar os jogos do Vasco da Gama, que antes jogava no campo do Andarahy, já passava pela cabeça de alguns dirigentes do clube desde 1923. Porém, no ano seguinte em 1924, o time começou a causar incômodo nos outros clubes por ser formado por jogadores negros, mulatos, pobres e operários ou, como disseram na época, de “profissão duvidosa” e que não tinha um estádio adequado. Depois da resposta histórica à AMEA, o clube em 1925, foi convidado novamente a fazer parte da entidade, porém, ainda restava o incômodo dos outros clubes pelo Vasco ainda não ter estádio. Foi aí então que os dirigentes resolveram colocar a ideia de construir São Januário em prática, mas, com poucos recursos, como fazer isso?

Já com um grande número de torcedores apaixonados pelo clube que crescia cada vez mais, os dirigentes decidiram fazer uma campanha popular e assim conseguiram arrecadar 685 contos e 895 mil réis. Parte desse valor foi usado para a compra do terreno em 28 de março de 1925, no bairro de São Cristóvão, que tinha como sua principal via, a rua São Januário. 

Depois da compra do terreno, começou então outra campanha, dessa vez para erguer o estádio. Uma dessas campanhas ficou bastante conhecida, foi a campanha dos 10 mil que buscava conseguir mais sócios para o clube. Deu certo. Com a ajuda de sócios, torcedores de todas as classes, comerciantes e sem nenhuma ajuda do governo, a quantia de 2.000 contos de réis foi arrecadada para a construção.

O projeto do estádio de São Januário é do arquiteto português Ricardo Severo e o presidente do clube que estava à frente de tudo era Raul Campos. Foi somente em 6 de junho de 1926 que a pedra fundamental do estádio pode ser lançada, porém, já nessa época as coisas para o Vasco não vinham fácil. Um exemplo disso é que o presidente do Brasil na época, Washington Luís, negou o pedido de importação de cimento belga que era usado nas grandes construções da época. Então os arquitetos e dirigentes tiveram que se virar com o que tinha e assim foram usados para erguer o estádio em 10 meses areia, cimento e pedra de brita.

CURIOSIDADE: São Januário tem um segredo. Dentro da pedra fundamental que está enterrada no estádio, existe uma cápsula do tempo, onde segundo algumas imagens da época contém dinheiro, jornais e outros objetos raros da época que só poderemos saber quando a cápsula for aberta como afirmou Walter Peres do (CPAD-CRVG) ao site UOL em abril deste ano: “De acordo com as imagens da época e as informações que dispomos, a própria pedra fundamental do estádio serviu como uma ‘cápsula do tempo’. Feita de pedra ou alvenaria, hermeticamente fechada.”  Porém, teremos que segurar a curiosidade até 2027, já que o clube planeja desenterrar a pedra somente no centenário de São Januário e as peças da cápsula farão parte do futuro museu do Vasco.

INAUGURAÇÃO E OUTRAS HISTÓRIAS:

São Januário foi inaugurado no dia 21 de abril de 1927, com a presença de grandes autoridades do país. O jogo de inauguração foi diante do Santos e o primeiro gol no novo estádio foi marcado pelo santista Evangelista. Já o primeiro gol do Vasco na sua nova casa foi marcado por Negrito, e o Santos venceu a partida por 5 a 3. 

Em 1928, São Januário foi o primeiro estádio do Brasil a ter um jogo noturno quando foram inaugurados os refletores e a arquibancada atrás do gol. O jogo de inauguração foi diante do Wanderers do Uruguai e o Vasco venceu por 1 a 0, com um gol olímpico, o primeiro registrado no Brasil, marcado pelo ponta-esquerda Santana. Na época de sua inauguração, São Januário era considerado o maior estádio do mundo novo e permaneceu assim até 1930, com a inauguração do Estádio Centenário, em Montevidéu. Hoje é o maior estádio particular da cidade com capacidade atual de 24.584 pessoas, porém, somente 21.880 torcedores são permitidos por questão de segurança. 

Além de ser a casa do Vasco, São Januário já foi por muito tempo a casa da Seleção Brasileira, foi sede do Sul-Americano de 1949, dos Jogos Militares de 2011 e participou da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014 como centro de treinamento de seleções como México, Espanha e das finalistas do mundial, Argentina e Alemanha. Também em 2013, recebeu um amistoso entre Itália e Haiti que terminou empatado em 2 a 2. Foi em São Januário também que um dos grandes ídolos e artilheiro do clube, Romário, marcou o seu milésimo gol em 20 de maio de 2007 diante do Sport Recife. No mesmo ano foi inaugurada a sua estátua que fica atrás do gol do estádio.

CURIOSIDADE: Foi em São Januário que no dia 1° de maio de 1943, o então presidente Getúlio Vargas fez o seu discurso anunciando a consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O estádio também já sediou os Desfiles das Escolas de Samba nos anos de 1943 e 1945 onde a Portela foi a grande campeã.

São Januário é o grande orgulho e o grande patrimônio  da torcida do Vasco, é lá que ficam guardadas as glórias do clube em forma de troféus e medalhas. As incontáveis histórias de um senhor estádio são difíceis de caber em um só texto. Em seu gramado, já passaram vários esquadrões Cruzmaltino, o maior deles o grande Expresso da Vitória, além de grandes craques entre eles o maior artilheiro do estádio, Roberto Dinamite com seus 184 gols. Suas arquibancadas de concreto e sua social com detalhes incríveis já receberam milhões de torcedores. Os maiores públicos são um oficial contra o Londrina em 1978 (40 mil), e um não oficial em um amistoso contra o Arsenal da Inglaterra em 1949 (60 mil). 

CURIOSIDADE: A maior goleada do Vasco jogando em São Januário foi na partida diante do Canto do Rio. Na época, em 1947, o Expresso da Vitória goleou o adversário por 14 a 1 com gols de Maneca (5), Ismael (4), Dimas (3), Chico e Nestor. Em São Januário, Roberto Dinamite marcou o seu gol de n° 500 em 1987. Já em 1997, outro ídolo do clube fez história no estádio. Edmundo fez todos os gols da partida na vitória de 6 a 0 sobre o União São João, durante a campanha do Tri Brasileiro. 

Mas o tempo passa para todos e atualmente vivemos no meio das construções das grandes arenas do futebol e das reformas de alguns estádios, uma possível modernização da Colina Histórica causa sempre polêmica. Muitos acham que tem que mudar mesmo, aumentar, gerar lucros. Já muitos têm medo de que com a mudança, o estádio acabe perdendo a sua essência, porém, ao que parece, as mudanças estão bem próximas, já que no ano de 2020 foi assinado um projeto de ampliação do estádio.

Retratado em músicas, fotos, quadrinhos, mangás, sambas… Esse é São Januário e essa é um pouco da história da casa do Vasco da Gama.

Fonte de pesquisa: Wikipedia, Ludopedio.com, Istoe.com, Gazetaonline.com, Vasco.com.br 

Por Jessica Martins, torcedora e setorista do Vasco da Gama no Portal Mulheres em Campo.

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.