ARENA LEÃO 1918 – LEMBRANÇAS E SAUDADES DO GIGANTE DA BOA VISTA


Arena Castelão reluzindo o vermelho, azul e branco (Foto: Divulgação / Fortaleza Esporte Clube)

Um ano, um mês e onze dias desde a última partida do Fortaleza na Arena Castelão com a presença de torcida. Ah, se o torcedor pudesse imaginar que passaria tanto tempo sem ir ao estádio teria lotado aqueles 63 mil assentos, mesmo num jogo do “manjadinho”, para assistir a vitória tricolor por 3 a 0 em cima do Pacajus. 

Nem eu e nem aqueles 11 mil presentes no estádio no dia 11 de março de 2020 saberíamos que depois daquela noite, cruzar os portões da Arena teria uma data tão incerta.

Durante todo esse tempo, que parece muito mais do que um ano, a saudade é gritante. Saudade das resenhas pré-jogo no churrasquinho do lado de fora, nos encontros no Posto ou na “Rua da TUF”…dos shows da FanFest. 

Saudade dos aperreios na fila para entrar quase na hora do apito inicial aos gritos de “solta o Leãao, solta o Leãoo…”, ou de chegar horas antes da partida e ficar lá apreciando os assentos se colorindo de vermelho, azul e branco, vendo cada organizada e movimento tomar o seu lugar: a TUF na Sul, a JGT na Norte, a Central com a Bravo18, Resistência Tricolor, Fortaleza Beer, Leões Open Bar, Amigos do FEC…e tantos outros movimentos. Ver o arranjo das faixas sendo estendidas, das bandeiras começarem a flamular, dos primeiros sons da bateria, dos cantos, das palmas… 

Saudade dos abraços em desconhecidos na hora do gol, e principalmente dos abraços dos amigos apresentados pelo Fortaleza e consolidados na Arena Castelão (João Pedro, Iago e Edinardo estou falando de vocês, tá?!), e o melhor de todos: o da minha mãe, minha parceria fiel de arquibancada.

(Foto: Priscila Kesley / Acervo pessoal)

Por falar em Cristina, minha mãe, foi com ela que vi o Fortaleza jogar pela primeira vez no Castelão. Nossa estreia, entre 55.461 torcedores, com o coração batendo no ritmo da Bateria Nota 10, ficando admiradas quando se entoou o “ão ão ão sobe o bandeirão” e de repente estar debaixo de um bandeirão e o agitando. Cantando todos os cantos (sabidos de cor pelas várias vezes que os cd’s da TUF foram tocados em casa), vibrando em cada lance e comemorando ao ver o baixinho Clodoaldo encobrir Ceni e marcar o gol da vitória do Leão em cima do São Paulo.

Quem diria que aquela ideia quase surreal, e pouco aprovada pelo meu pai, de ir estádio se tornaria nosso programa de família preferido? Depois daquele domingo, meu pai Heilton, também se tornou um assíduo presente no Castelão (pelo menos naqueles primeiros anos rs). 

Ainda antes da reformulação de estádio para Arena, o setor 30 do Castelão era o local preferido por meu pai, principalmente pela calmaria (leia-se longe de TO) e visão bem central do campo. Também, claro, pela companhia dos desconhecidos que se tornaram amigos em dia de jogo, que guardavam nossos lugares, pela tiazinha que vendia o chá com a macaxeira amanteigada.

Torcida do Fortaleza no Castelão antes da reformulação de estádio em arena (Foto: Emanuel Cunha / Revista Tricolor de Aço, Maio de 2006)

Setor 30 do Estádio Castelão, foi de lá e na companhia de meu pai que vivi um dos meus jogos mais marcantes: a virada em cima do Guarany de Sobral em 2010. Era decisão do primeiro turno do estadual, Fortaleza perdia de 4 x 1 até os 32 do segundo tempo, quando conseguiu igualar o marcador antes dos 40″ e levou a partida para os pênaltis, onde venceu por 5 x 4. Vitória importante para a conquista do Tetracampeão Cearense em cima do rival, também nos pênaltis. 

Já diz a frase “se não for sofrido não é Fortaleza!”. Falando em sofrimento, assim como sorri também chorei no Castelão. Queria que todas as lágrimas fossem de alegria, mas não…foi das arquibancadas do Gigante da Boa Vista, que vi o Fortaleza descender de divisão, da A pra B, da B pra C…foi no Castelão que me decepcionei em jogos de acessos frustrantes…Não vou detalhar, mas #EuFuiEuTava em todos. 

Como nenhum sofrimento dura para sempre, em 2017 vi o Leão ressurgido. A Arena Castelão naquela tarde de sábado, comportava 40 mil tricolores calejados, mas com um amor inexplicável pelo time. O primeiro jogo do mata-mata teve a vitória leonina por 2 x 0 em cima do Tupi. Triunfo que deu a vantagem para o Fortaleza no jogo seguinte garantir uma vaga para a Série B em 2018.

(Foto: Reprodução internet)

Voltar a Série B foi bom, mas voltar, depois de oito anos, e ser campeão foi maravilhoso. Presenciei cada partida em que o Fortaleza foi mandante na Arena Castelão. Desde o primeiro jogo contra o Guarani-SP, com gol de falta de Gustagol; a partida contra o Paysandu em que comemoramos o centenário do Fortaleza com um mega mosaico (marca registrada da torcida), até o jogo de entrega do troféu de Campeão Brasileiro da Série B.

Estar de volta a jogos da primeira divisão no Castelão em 2019 era como voltar no tempo, nas minhas primeiras partidas. Quatorze anos depois, eu e minha mãe novamente assistindo a Fortaleza X São Paulo, estádio lotado como na nossa estreia de torcedoras de arquibancada. Dessa vez sem a vitória do Leão, mas com um sentimento especial de estarmos no nosso programa mãe-e-filha preferido: jogo do Fortaleza no Castelão.

Antes de se emocionar com os jogos da Série A, presenciei a campanha da Copa do Nordeste, a bela festa no primeiro jogo da final contra o Botafogo-PB que já previa o Leão erguendo a orelhuda em mais um título inédito para o Pici. 

A festa na última rodada do Brasileirão, vitória em cima do Bahia coroando a melhor campanha de time nordestino na competição e a classificação para a Copa Sul-americana. O Castelão com 52 mil tricolores, levantando o “Soy loco por ti, León” em forma de mosaico e no apagar das luzes (literalmente), a Arena reluziu o vermelho, azul e branco. Uma das festas mais lindas que já presenciei no Castelão.

Pouco antes do coração começar a ficar saudoso, tive o privilégio de acompanhar a primeira disputa internacional do Fortaleza. Mais um fato histórico, em que eu estava na Arena Castelão. Noite de 27 de fevereiro de 2020, vi o Leão vencer o Rei de Copas. Mesmo sem a classificação, agradeci por ser Fortaleza e por fazer parte dos 52 mil presentes na arena.

Bem, são vários jogos inesquecíveis, Clássicos-Reis, gol aos 47 minutos, vitórias memoráveis em cima dos ditos “grandes” do eixo sul-sudeste, festas na arquibancada, mosaicos inovadores…se eu fosse falar de todas as minhas memórias e saudades essa crônica se tornaria um e-book. 

Relembrar é bom, mas viver é maravilhoso! E que em breve a gente possa, junto com o nosso Leão em campo, voltar a construir histórias nas arquibancadas do Castelão.

(Foto: Thiago Gadelha)

Por enquanto estamos distantes fisicamente, mas presentes em cada partida, seja por faixas, bandeiras e pelos famosos mosaicos, dessa vez sem o coração apaixonado pulsando atrás do papel, mas com a mesma beleza e amor pelas três cores representadas em campo.

Por Priscila Kesley, “Combativa, Aguerrida, Vibrante e Forte”

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.


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