Foto: Divulgação CBF
Nas mãos de uma sueca, coroada dentro e fora de campo com inúmeras conquistas e premiações, está o destino da nossa Seleção Feminina de futebol que tem pela frente um desafio de extrema importância, a disputa das Olimpíadas de Tóquio, em 2020. Pia Sundhage foi a melhor escolha da CBF, dentro da sua atual premissa de oferecer a melhor equipe técnica e investir forte no potencial de nossas meninas, além da renovação do grupo.
Na tarde desta terça (20), Pia divulgou a lista de 23 atletas em sua primeira convocação para a disputa do Torneio Uber Internacional de Futebol Feminino de Seleções, a ser disputado nos dias 29 de agosto e 1 de setembro, no Estádio do Pacaembu.
Depois de revelar suas eleitas, ela concedeu a primeira coletiva e mostrou-se extremamente simpática e disse viver um momento especial no comando de uma das melhores seleções do mundo.
“Um desafio e eu sempre gostei deles. Espero fazer algo sensacional com este grupo com tantos talentos e poder contar com o apoio das jogadoras e também da equipe e dirigentes é fundamental. Tenho certeza de que conseguiremos alcançar um nível superior. Essa equipe mostrará ótimos resultados em poucos meses”, avaliou.
Sobre os parâmetros usados na escolha das atletas, a técnica disse ter assistido e estudado o estilo de cada uma durante os jogos do Mundial de Futebol Feminino, além de ver algumas partidas de times brasileiros e estrangeiros. Um fato interessante foi ter Yaya, a volante do São Paulo de apenas 17 anos, em sua lista.
“A base é com jogadoras mais antigas e experientes. A decisão de mesclar com atletas mais novas foi um modo de começar com pequenas mudanças. Seria um erro convocar um grupo de jogadoras jovens, como a Yaya, até pelo fato de gostar de modificar as coisas gradualmente”, explicou.
Yaya, volante que defende o São Paulo
Foto: Site oficial SPFC
Tudo isso está ligado ao processo de reciclagem da seleção e Pia afirmou que dedicará um tempo para acompanhar de perto o desenvolvimento das jogadoras das seleções Sub-20, Sub-17 e Sub-16. A treinadora explicou que atuava desta forma enquanto comandou a seleção sueca e o resultado sempre foi bastante favorável, inclusive na descoberta de novos talentos.
Um fato relevante foi o anúncio de uma competição no mesmo formato das outras categorias das seleções para as meninas do Sub-16. Tudo dentro proposta da entidade em valorizar com mais intensidade as atletas em fase de formação.
A técnica fez algumas ponderações sobre qualidades e deficiências do grupo que disputou a Copa do mundo e assumiu predileção pela atuação no jogo contra a França.
“Elas usam bem o campo e com uma habilidosa capacidade na arte do improviso e isso me encantou. No entanto, pecaram nas transições do ataque para a defesa e levavam tempo demais para recuperar a posse de bola. Esse é um ponto a ser trabalhado com a intenção de fazer com que todas façam o seu melhor. Quero encontrar uma forma de preencher o meio de campo e encontrarei a jogadora habilidosa que cuidará disso”, revelou.
A sueca já tem uma agenda programada para o início dos treinos e considera fundamental ter uma comunicação sempre franca e positiva com todas. Boa comunicação e amizade ela tem com nossa Rainha Marta.
“Marta tem o coração certo para ajudar muito neste processo e sempre me fez sorrir com suas jogadas, por isso premiada tantas vezes. Ela é cativante e tem o dom de tirar o melhor de todas. Minha meta é tê-la em sua melhor forma para as Olimpíadas. Nosso contato sempre foi muito carinhoso, ela fala sueco, conhece os costumes do meu país e o estilo de Futebol. Tudo ajudou na aproximação”, pontuou.
A Rainha Marta
Foto: Divulgação CBF
Ela escolheu o Rio de Janeiro como cidade para viver e disse sentir o carinho dos cariocas, que a reconhecem nas ruas. Também destacou que em poucos dias sentiu de perto sobre a paixão do povo brasileiro pelo futebol, o que até então só ouvia lá do exterior.
“Lembro no dia em que cheguei, no aeroporto, um rapaz me reconheceu e pediu para tirar uma foto. Prontamente aceitei e ao saber quem eu era, sabia que representava o futebol feminino do seu país. Ter essa empatia é sensacional”, contou.
O crescimento de ações de jogadoras de todo mundo pela igualdade de salários e condições de trabalho com os elencos masculinos também foi abordado durante a entrevista. Pia afirmou apoio total a todas e teceu suas considerações sobre o tema.
“Não sou política, sou treinadora. Como posso colaborar para fortalecer a causa? Ao dizer sim a essa proposta e criar uma equipe competitiva e vencedora. Lapidar as jogadoras e tirar o melhor de todas é a grande resposta. Com potencial incontestável fica mais fácil lutar por tudo”, assegurou.
QUEM É PIA SUNDHAGE?
O amor da pequena menina sueca pelo futebol aconteceu cedo e ela contou que começou a brincar com a bola e testar suas habilidades por volta dos seis anos. Inclusive ficava triste por ser barrada pelos meninos de sua rua na hora do jogo por ser menina. No entanto, ela não e deu por vencida e, com o tempo, foi aceita e passou a ser disputada pelos meninos, os capitães das equipes, que escolhiam os times.
Sua vocação era fazer gols e assim, tornou-se uma das grandes atacantes da historia do futebol da Suécia, onde iniciou sua carreira em 1978, no Falköpings, e depois pelo Jitex e no Östers foi adorada pela torcida pelos 65 gols feitos em duas temporadas. Teve apenas uma experiência fora, quando defendeu a Lazio, equipe italiana em 1985.
Seu talento gerou a convocação para a Seleção da Suécia onde fez 71 gols em 144 partidas e conquistou a primeira edição do Campeonato Europeu Feminino de seleções (atual Euro), em 1985, além de um vice-campeonato, em 1987.
Decidiu encerrar sua carreira em 1996, depois de uma passagem de seis anos pelo Hammarby. Uma trajetória recheada de conquistas como quatro títulos do Campeonato Sueco (1979, 81, 84 e 89) e quatro vezes a Copa da Suécia (1981, 84, 94 e 95).
Pia se despediu dos campos, mas não do futebol e logo surgiu um grande convite, o de técnica da Seleção dos Estados Unidos de futebol feminino, em 2008. Convite aceito com alegria e apesar do pouco tempo para treinar o grupo do seu jeito, antes da disputa das Olimpíadas em Pequim, ela surpreendeu como uma profissional que tem estrela. Em 2011, a equipe foi vice-campeã da Copa do Mundo de Futebol Feminino e, no ano seguinte colheram os louros do trabalho e conquistaram novamente a medalha de ouro, nos Jogos Olímpicos em Londres. Pia levou as americanas ao mais alto patamar dentro da modalidade, um elenco bicampeão olímpico, respeitado e temido.
Em 2012 encerrou o ciclo com as americanas em grande estilo, ganhou o cobiçado prêmio Bola de Ouro da FIFA na categoria treinadora do ano. Ao retornar ao país natal, acabou por assumir o comando da Seleção Sueca feminina e, novamente, elevou o nível do time ao máximo e a final dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016. Suas meninas conseguiram eliminar as americanas e brasileiras, ambas em disputa de pênaltis, mas foram derrotadas pelas alemãs, por 2 x 1, e ficaram com a medalha de prata.
Atualmente, honra a todos os brasileiros por ocupar o cargo de técnica da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, a primeira estrangeira a assumir o comando do time.
Brilhe Pia!
Carla Andrade