FERROVIÁRIA SE CONSOLIDA COMO A GRANDE CAPITAL DO FUTEBOL FEMININO, PORÉM, É VENDIDA PARA UM MAGNATA
Foto: Reprodução da rede social do clube
O ano de 2019 ficará marcado por diversas tragédias e retrocessos no campo dos direitos civis, contudo, poderá ser consolidado como o grande ano da Ferroviária, que se firma cada dia mais como um grande clube do Brasil e não apenas do interior do Estado de São Paulo.
No masculino, a Ferroviária, pela primeira vez em sua história, participará das duas competições nacionais: a série D do Brasileiro e a Copa do Brasil. Será mais uma grande oportunidade do clube de mostrar que o futebol é sim também algo nativo desta terra, algo como Macunaíma nascendo na banheira da Chácara Saffioti, cheia de água do Aquífero Guarani, pelas mãos de Mário de Andrade. A bola aqui não se confunde com a laranja, mas sabemos sim dar um bom suco com ela.
Assim, em 2001, em meio à quase extinção da Ferrinha junto com o seu Cerrado, fora da série quase há 10 anos, sem nenhuma divisão e pronta para fechar as portas, a prefeitura de Araraquara decidiu investir na modalidade do futebol feminino e este, sem querer, se tornou a porta de salvação do clube. Foi o futebol feminino que trouxe os maiores títulos e as maiores glórias do Futebol Contemporâneo para o clube da Ferroviária como campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, quatro Paulistas e uma Libertadores!
Com o Bicampeonato Brasileiro de 2019, parando a invencibilidade de 34 jogos do Corinthians, a Locomotiva conseguiu finalmente ser reconhecida como merece: como a capital do futebol feminino, porque aqui a gente não começou a investir nas mulheres como uma obrigação da Conmebol e da CBF para estar nos campeonatos nacionais e sul-americanos. São quase 20 anos de apoio e investimento que fizeram do clube da nossa amada Araraquara, um dos maiores celeiros de jogadoras do futebol brasileiro. Na Copa do Mundo de 2019 na França, sete jogadoras convocadas, em alguma vez na vida, defenderam o esquadrão grená. A atacante Bia Zaneratto é cria nossa de berço, começou na nossa base com 14 anos e hoje ganhou o mundo e a seleção brasileira.
E é esse o nosso diferencial, são 20 anos investindo não apenas no time principal, mas na base com escolinhas em mais de 30 pontos na cidade, no masculino e no feminino. Todos investimentos públicos do Município de Araraquara que estabeleceu uma parceria com a Ferroviária desde a base, até a tomada das empresas da cidade para patrocinar o time principal. Fato que fez a CBF trazer a seleção brasileira feminina de futebol para jogar pela primeira vez na Arena da Fonte, domingo dia 15 de dezembro, em amistoso contra o México.
O que me faz perguntar como ficará essa relação com a agora a recente compra de 51 por cento do clube pelo ex dono das Casas Bahia. A base ficará agora ao cargo do empresário, ou continuará servida pelo dinheiro público, enquanto este se tornará apenas o negociador desses jogadores e jogadoras? A prefeitura investe na formação das crianças, mas quem vai levar o lucro é ele com a desculpa de estar dando estrutura para o time masculino? Vale lembrar que ele foi o investidor do São Caetano na era de ouro do clube que foi vice brasileiro. Porém, hoje o São Caetano vive à míngua com dívidas e sem condições de cumprir os pagamentos dos salários dos jogadores. Vi que ele quer um clube com as dívidas sanadas, ou seja, arrumadinho só para ele chegar e montar. É o futuro clube empresa sendo testado no interior como solução e uma forma esperançosa de colocar esses clubes em condições de competir com os chamados grandes das capitais, mas nem tudo parece bonito como se pensa.
Só espero que se respeite a tradição da Ferroviária no futebol feminino, inclusive como clube formador e que depois de ganhar bastante dinheiro com a estrutura que se montou por aqui, não vá embora deixando o clube a ver navios e mais pobre do que quando pegou.
Por: Adrienne Kátia