EU ESTAREI LÁ, AINDA QUE SEJA PARA APRENDER A PERDER


(Foto: Gisele Pimenta/Estadão Conteúdo/Banda B)

Estava eu, no aeroporto de Viracopos, em Campinas, sentada em uma cadeira e lendo, pela terceira vez o livro “Gol da Alemanha”, um diálogo entre Axel Torres e André Schön sobre a evolução do futebol alemão até o catastrófico – para nós – 7×1 sobre a Seleção Brasileira, na Copa de 2014. 

Começo falando do livro porque, em dado momento, me vi refletindo sobre a fase que o meu time (que logo saberão qual é) está passando. 

Bom, vamos começar. “Gol da Alemanha” é um diálogo de um alemão torcedor do Bayern de Munique, que já estava ‘desencantado’ com o desempenho do futebol alemão em geral e um jornalista espanhol, um apaixonado pelo futebol. A conversa entre ambos somente se iniciou porque Axel buscava aprender a língua alemã. No decorrer das conversas acabaram por se deparar com algo muito maior: o que era para ser apenas o aprendizado de outro idioma, tornou-se uma verdadeira ‘descoberta’, que seria a notável evolução do futebol alemão em dez anos.

E o que isso tem a ver com o meu time? Explico. 

Sou torcedora do Athletico. Atualmente passamos por um momento de transição, renovação e adaptação em nosso futebol. Depois de duas temporadas maravilhosas (2018/2019) e inesquecíveis, alguns de nossos atletas, nossas jóias, estão saindo do nosso elenco para compor equipes internacionais e nacionais. Talvez a mais sentida saída tenha sido a do “nosso Cristal”, Bruno Guimarães, para o Olympique Lyonnaiss, da França. 

E o que isso tem a ver com o livro? Pois é. Vamos lá.

Em dado momento do diálogo, um dos interlocutores/autores, está aguardando em uma estação de trem, e acaba conhecendo dois rapazes, jovens, torcedores de Real Madrid e Ajax respectivamente, que possuíam um trato: eram companheiros de viagem e estavam a caminho de Salzburg, para assistir a partida entre RB Salzburg x Ajax, pois retornavam do jogo entre Real Madrid contra o Schalke 04.

Um dos jovens, mais precisamente o torcedor do Ajax, é questionado da seguinte maneira: como é torcer para um time em que você sabe que qualquer jogador que se destaque minimamente será vendido e não será substituído por outro de alto nível ou de mesmo nível? Quais são os sonhos de longo prazo de um torcedor do Ajax? Que tipo de motivação eles encontram para seguir em frente?

Eu fiquei matutando essas perguntas na cabeça e me colocando no lugar do torcedor do Ajax. Realmente, como a gente faz?

O torcedor do Ajax respondeu que “sem dúvida gostaria que as estrelas ficassem, mas que não podiam frear suas ambições“. 

Para se ter uma ideia, o viajante torcedor teria acompanhado duas duras derrotas contra o seu time. O Ajax havia perdido de 3×0 antes da conversa, e depois voltou a perder para o RB Salzburg por 3×0. E ele estava lá.

Pois bem. Me peguei aqui pensando que existem também ambições a longo prazo dos nossos clubes de futebol e não só do torcedor. E aqui faço os parênteses para chamar a análise do meu time, o Athletico, pois esse é o nosso momento. 

Como eu já havia adiantado, vivemos, atualmente, uma fase de despedidas e recomeços. Vejamos. Destacamos atletas e os vendemos, mas não contratamos atletas do mesmo nível. Inclusive, pelo contrário, é normal contratamos atletas sem expressão nacional/internacional. Mas, como já é muito claro para qualquer um, o objetivo principal do clube é o investimento nas categorias de base, a fim de que esses passem a compor os elencos aspirantes e principal. 

Por outro lado, sabemos que qualquer atleta tem sua ambição, mas o nosso clube também tem. E além disso, a diretoria do CAP tem responsabilidade com o futuro do clube.

Digo isso para fundamentar principalmente que, eu, como torcedora, realmente entendo o torcedor que só quer ganhar. Ganhar é bom demais. Mas pegando o exemplo do jogo contra o Cianorte (um belo de um balde com água fria), que foi uma daquelas derrotas sofridas, entendo que perder também faz parte do jogo, e isso ajuda na evolução do time. 

Voltando às nossas despedidas, eu sinto demais com a saída de cada atleta do nosso time. Também sinto por um lado, o fato de não contratarmos atletas do alto escalão, mas, ainda assim, ao mesmo tempo eu entendo que esse nunca foi nosso perfil de contratação.

O Athletico tem um projeto em andamento, que é campeão SIM, apesar de muitos ainda não admitirem isso! Um projeto em anda não só com profissionalismo, mas também com muita cautela. Não concordo com gente que diz “que tem que pegar o dinheiro recebido pelas vendas e sair contratando caras com salários altíssimos“. Principalmente porque eu valorizo o que temos em casa: uma base forte e muito bem construída. 

Acredito sim que contratações pontuais já ajudem nosso clube. Então, o que eu digo para os demais torcedores é: parem de crucificar “x” e “y”. Torcedor precisa aprender que fases existem e que PERDER FAZ PARTE do jogo!

Não adianta pedir a cabeça de técnico, de jogador (a não ser que esse atleta seja irresponsável desportivamente e no sentido ruim mesmo, atleta que agride outro, que deixa o futebol de lado pra beber e usar drogas, essas coisas), não vai ajudar. Pelo contrário. Não é o momento de desespero. É momento de apoiar o clube e recomeçar junto com o time, mais uma vez. Nossos dois últimos anos foram mágicos, nada apaga isso e friso ainda que nada está perdido daqui pra frente. 

Recomeços tendem a ser difíceis muitas vezes, é verdade, mas também nos ajudam a seguir em frente. E o que isso quer dizer? 

Temos muito para aprender ainda. temos que aprender que não adianta contratar alguém (s) por milhões e quebrar o clube, até porque existem outros atletas que podem entender que merecem receber esses valores também. Temos que aprender que o que o time precisa é do nosso apoio incondicional, mesmo que perca por 3×0, 3×1, quantas vezes forem necessárias. Precisamos aprender a perder também, e principalmente, que uma gestão amadora pode levar à extinção de um clube que tem tudo para figurar entre os mais vitoriosos logo em breve.

Infelizmente, ainda estamos naquela fase em que perder nossas jóias para equipes internacionais é normal, mas tenho fé que chegaremos lá na frente, naquele momento em que muitos relutarão para não sair, porque aqui é Athletico!

Be patient, torcida rubro-negra!

Por Luhana Baldan, torcedora do Athletico Paranaense

*O BlogMec esclarece que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Blog.


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