PELA BANDEIRA DA IGUALDADE NO ESPORTE


Ada Hegerberg na entrega da sua Bola de Ouro
Foto: Getty Images

A notoriedade de times e seleções de futebol feminino aumentou muito nos últimos anos, assim como o número de títulos e premiações individuais. No entanto, a desigualdade de gênero ainda permeia o mundo do futebol. Com a mesma garra que entram em campo, muitas jogadoras tomaram para si a responsabilidade de lutar por melhores condições de trabalho e reivindicar pela equiparação salarial, através de inúmeras ações com o objetivo de ampliar o debate sobre tais questões.

Um excelente recorte para ilustrar a disparidade de salários concedidos para atletas femininos e masculinos é a premiação da FIFA para as Copas do Mundo. A entidade anunciou, no mês passado, um aumento dos valores para o mundial feminino deste ano, o dobro do oferecido em 2015, e distribuirá US$ 30 milhões (cerca de R$ 117 milhões) para as 24 seleções participantes. O valor não chega perto dos US$ 400 milhões (R$ 1,5 bilhão) destinados ao mundial masculino e representa aproximadamente pouco mais de 1% das verbas da federação.

Para o presidente da FIFA, Gianni Infantino o aumento “é uma mensagem muito importante para o futebol feminino e isso certamente fortalecerá esta Copa do Mundo ainda mais.”, No entanto, a união global de jogadores, FIFpro argumentou que tais mudanças são insuficientes e expressou sua indignação em comunicado:

“A FIFPro percebe a disposição da Fifa para aumentar a premiação em dinheiro para a Copa do Mundo de Futebol Feminino e fazer melhorias estruturais para apoiar o futebol feminino. Entretanto, apesar destas mudanças, o futebol continua ainda mais longe da meta da igualdade para todos os jogadores de Copa do Mundo, independentemente do gênero”.

Descontente com essa disparidade salarial, Ada Hegerberg, atual vencedora da Bola de Ouro, tomou a drástica decisão de não participar da Copa do Mundo e defender a camisa da seleção da Noruega. Na verdade, a jogadora cumpriu o prometido, em 2017, quando anunciou em comunicado sua ausência da competição caso as condições da seleção feminina de seu país não se igualassem às da seleção masculina.

Além dos ganhos salariais, a atleta falava também de infraestrutura, de planejamento, de desenvolvimento e de alojamentos nas concentrações do mesmo nível e conforto que os dos homens.

“O futebol é o esporte mais importante da Noruega para as crianças, mas as garotas não têm as mesmas oportunidades que os garotos”, disse ela na ocasião.

Por manter firme sua convicção da luta pela causa e ficar fora de uma competição que é sonho de todo atleta profissional, Hegerberg causou frisson na sua federação e na FIFA.

“Sei o que quero e conheço meus valores, portanto é fácil tomar decisões difíceis quando você sabe quais são as ambições e quais são os valores que defende. Trata-se de ser sincera contigo, ser você mesma”, declarou Hegerberg em uma entrevista à CNN no final de 2018.

Por conta da discriminação, o maior torneio de futebol não contará com uma das melhores jogadoras do mundo e o fato gerou a reação de Conchi Amancio, a pioneira da modalidade na Espanha.

“É um sacrifício muito grande porque a essa altura as coisas ainda estão como estão porque trabalhou para a melhoria delas. Ada é admirável. Eu não sei se faria a mesma coisa. Até quando teremos que seguir fazendo sacrifícios tão grandes como o que fez Ada?,” questionou Amancio.

As jogadoras americanas também são engajadas na luta pela busca de igualdade salarial e, no último dia 8 de março, data onde se comemora o Dia Internacional da Mulher, as 28 jogadoras da seleção de futebol feminino dos EUA deram entrada num processo contra a Federação de Futebol do país por discriminação de gênero.

“Cada uma de nós é extremamente orgulhosa de vestir o uniforme dos Estados Unidos levamos seriamente a responsabilidade que isso implica. Acreditamos que a luta pela igualdade de gênero no esporte faz parte dessa responsabilidade”, disse Morgan à época ao “Wall Street Journal”.

Esta não foi a primeira mobilização das atletas. Em 2016, cinco jogadoras apresentaram uma queixa à Comissão de Igualdade de Oportunidades por discriminação salarial, mas a falta de uma decisão por parte da organização motivou o processo em um tribunal federal. Caso vençam a batalha judicial podem receber uma indenização de milhões de dólares por danos e prejuízos

“Os números falam por si só. Somos as melhores do mundo, já vencemos três Copas do Mundo, quatro Olimpíadas, e a seleção masculina recebe mais dinheiro, apenas para entrar em campo, do que nós ganhamos por conquistar grandes campeonatos”, disse a goleira Hope Solo, uma das atletas envolvidas no processo.

Há poucos dias do início da Copa do Mundo de futebol feminino, as jogadoras da seleção da Alemanha estrearam nova campanha tendo como viés o preconceito e machismo dentro do esporte.

A ação usa frases de impacto com vistas a abrir um debate sobre uma maior valorização das mulheres em campo. “Não temos bolas, mas sabemos usá-las”; “As mulheres só servem para fazer bebês”, “deveriam estar lavando roupa”, são algumas delas.

Carla Andrade


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