A FORÇA DA SELEÇÃO BICAMPEÃ DA ALEMANHA


Foto: Getty Images

A seleção alemã divide o protagonismo do futebol feminino mundial com as equipes dos Estados Unidos, Japão e Inglaterra e chega para a oitava edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino, na França, disposta a lutar pelo título. Elas estão no grupo B ao lado da Espanha, África do Sul e China, que já foi vice-campeã, com quem faz seu jogo de estreia no sábado (8), às 10hs, em Rennes.

A segunda colocada no ranking da FIFA é bicampeã da competição e a única seleção a vencer por duas vezes consecutivas o torneio, em 2003 e 2007, quando venceram o Brasil por 2 x 0, em jogo válido por uma vaga na final. Ainda em 2007 aplicaram a maior goleada da história do mundial ao vencer a Argentina por 11 x 0, na China. Na última edição do Mundial, chegaram à semifinal e foram derrotadas pelas estadunidenses.

A seleção alemã é uma força do futebol feminino que passou recentemente por uma fase de transição que proporcionou a descoberta de novas promessas na modalidade. Quem comanda o grupo é a ex-jogadora da seleção Martina Voss-Tecklenburg, uma amante do trabalho do técnico do Liverpool Jurgen Kloop, responsável pelas vitoriosas campanhas nos mundiais de 2003 e 2007.

As convocadas para a disputa do mundial
Foto: Divulgação-FIFA

Sua lista com as 23 jogadoras convocadas manteve uma coerência com os nomes chamados para disputar as Eliminatórias e alguns amistosos. A atleta mais velha é Lena Goessling, do Wolfsburg, com mais de trinta anos, ou seja, ela optou em reunir talentos da nova geração. Em entrevista concedida ao site da FIFA, a técnica falou sobre suas escolhas e a expectativa para a disputa do torneio.

“Houve uma série de componentes que ajudaram a montar a seleção, incluindo flexibilidade de posição, bem como quais jogadoras se encaixam em nosso esquema tático. Tivemos uma alta qualidade dentro da equipe e estou convencida de que formamos um grupo que nos coloca em uma boa posição para a Copa do Mundo“, afirmou.

Uma das jogadoras mais habilidosas deste elenco é Dszenifer Marozsan, que iniciou sua carreira aos 14 anos, considerada uma das três melhores do mundo, ao lado de Marta e Ada Hegerberg. A camisa 10 da Alemanha é uma das mais técnicas e criativas no meio-campo e atualmente defende o Lyon. Fez parte da equipe medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, onde concorreu novamente pelo título de melhor da temporada. Em 2018, deu uma aula de superação ao vencer uma embolia pulmonar que lhe trouxe risco de vida.

No gol alemão, a dona da titularidade absoluta é Almuth Schult, atualmente no Wolfsburg, grande candidata a levar o prêmio de Luva de Ouro do mundial e reafirmar sua posição de melhor do mundo na posição. Ela é tida por muitos como um ícone do esporte e também esteve no elenco campeão olímpico, no Rio de Janeiro, em 2016. A arqueira será peça fundamental para garantir a classificação para as finais.

Dona de um cabeceio mortal e capacidade de driblar impressionante, a canhota Alexandra Popp comanda o setor ofensivo alemão com muita qualidade e excelentes finalizações, tanto com os pés quanto de cabeça. Por essa particularidade técnica, já foi escalada como volante ou defensora em seu clube e nas seleções de base do país.

Alexandra Popp
Foto: Reuters

A qualidade de seu futebol é incontestável e a jogadora é apontada como sucessora de Birgit Prinz, maior artilheira da história da seleção alemã. No Mundial Feminino Sub-20, em 2018, a atacante brilhou nos gramados e levou a seleção germânica ao título. A atacante recebeu a Bola de Ouro adidas, eleita a melhor jogadora do torneio, e também a Chuteira de Ouro pela artilharia com dez gols. Ainda carrega em sua trajetória títulos como uma Eurocopa Feminina Sub-17, uma Liga dos Campeões da UEFA e duas Copas da Alemanha.

Além de lutar dentro das quatro linhas, as atletas da seleção alemã usam sua imagem para promover o debate sobre o machismo dentro do esporte. Há poucos dias do início da Copa do Mundo de futebol feminino, estrearam nova campanha tendo como viés o preconceito.

A ação usa frases de impacto com vistas a abrir um debate sobre uma maior valorização das mulheres em campo. “Não temos bolas, mas sabemos usá-las”; “As mulheres só servem para fazer bebês”, “deveriam estar lavando roupa”, são algumas delas.

Se nos dias atuais, as alemãs ainda são obrigadas a lutar por seu espaço, em tempos idos essa batalha era bem mais difícil. O site Chuteira F.C publicou uma entrevista com uma das mais brilhantes jogadoras de todos os tempos, Bärbel Wohlleben. Aos 75 anos, ela ainda sorri ao recordar a primeira pergunta feita por um jornalista especializado em futebol, durante a primeira entrevista que ela concedia, em setembro de 1974: “Mas quando você cabeceia, não estraga o penteado?”.

A entrada das mulheres no esporte causou certa celeuma entre os homens que insistiam que o regulamento da Federação Alemã de Futebol, datado de 1955, fosse respeitado. Dizia: “Este esporte de combate é, por essência, contrário à natureza feminina. O corpo e a alma sofrem danos inevitáveis e a exposição do corpo viola a boa educação e a decência”.

Barbel era uma desobediente por natureza e passou a treinar num pequeno clube onde seus irmãos jogavam, dentro da categoria Sub-15. Tempos depois, foi obrigada a cessar com os treinos e só com 27 anos voltou a jogar, quando se uniu a um grupo de mulheres criadoras de uma equipe. “Jogávamos partidas amistosas em campos metade de grama e metade de terra, já que todas as competições eram proibidas pela DFB”, contou ela.

Até o ano de 1971, a Federação Alemã de Futebol, proibia a participação de mulheres em competições e aplicava severas multas a quem ousasse desobedecer tal instrução. Foi nesta época que técnicos de equipes femininas criaram uma federação clandestina e reuniram as melhores para formar uma seleção não oficial. Claro que Barbel foi uma das convocadas.

“Nunca tivemos um treino juntas. Disputamos algumas partidas contra Dinamarca e Itália. A DFP não ficou sabendo. Acabaram autorizando o campeonato, mas nos disseram: ‘Vocês não têm o direito de formar uma seleção nacional’”, lembra a ex-jogadora.

Infelizmente a notável nunca pôde defender a camisa de seu país para o mundo ver. A primeira equipe nacional oficial só foi montada em 1982, quando ela foi considerada velha demais para fazer parte do time.

Carla Andrade


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